Em busca de nossos ancestrais: expedição na costa uruguaia parte para estudar microrganismos que deram origem à vida; entenda

 

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No fundo do oceano pode estar escondido o segredo da nossa própria existência. Cientistas acreditam que uma aliança microscópica entre arqueas e bactérias há bilhões de anos deu origem às células complexas que formam animais, plantas e seres humanos. Agora, uma expedição internacional parte em busca dessas testemunhas do passado: as arqueas Asgard.

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O professor Brett Baker, da Universidade do Texas em Austin, afirma: “Somos todos asgardianos”. A frase resume a ideia de que todas as formas de vida complexas descendem de um ancestral comum com esses microrganismos, descobertos há uma década por cientistas da Suécia e da Noruega. A próxima missão busca mapear sua biodiversidade e entender seu papel na origem da vida eucariótica.

De acordo com o Infobae, entre 13 de novembro e 3 de dezembro, Baker e 25 cientistas de instituições de diversos países, incluindo Áustria, Canadá, Índia e Uruguai, estarão a bordo do navio de pesquisa Falkor. A embarcação coletará água, sedimentos e células vivas na foz do Rio da Prata e em áreas mais profundas da Zona Econômica Exclusiva do Uruguai, permitindo o sequenciamento de DNA em tempo real.

A equipe utilizará também o robô subaquático ROV SuBastian, capaz de coletar amostras e transmitir imagens em alta definição, e laboratórios de bordo equipados para análises genéticas e microscópicas. Segundo o biólogo uruguaio Danilo Calliari, o interesse não está nos grandes animais marinhos, mas nos microrganismos que podem revelar novas espécies e conexões evolutivas.

As arqueas formam um dos três domínios da vida, ao lado de bactérias e eucariotos. O grupo Asgard, descoberto em 2015 em uma fonte hidrotermal no Ártico, chamou a atenção por compartilhar muitas características genéticas com eucariotos, desafiando a antiga visão da árvore da vida. Proteínas e sequências genéticas antes vistas apenas em células complexas indicam que eucariotos e Asgard têm um ancestral comum próximo.

Estudos recentes reforçam essa conexão. Pesquisadores do ETH Zurique e da Universidade de Viena mostraram que o Lokiarchaeum ossiferum, espécie de Asgard encontrada na Eslovênia, possui citoesqueleto semelhante ao dos eucariotos, sugerindo que a base celular para a complexidade já existia antes do surgimento de núcleos celulares.

Brett Baker e sua equipe também descobriram recentemente os Hodarchaeales, parentes vivos mais próximos dos eucariotos, em lama estuarina. O objetivo agora é confirmar a presença desses microrganismos nas águas uruguaias e investigar novas espécies, ampliando nosso entendimento sobre a origem da vida complexa.

O que emergir desta expedição poderá mudar a forma como enxergamos nossa própria história microscópica. Cada amostra de sedimento e célula estudada é uma peça do quebra-cabeça da evolução, e as águas do Atlântico Sudoeste podem guardar segredos que remontam ao momento em que a vida na Terra se tornou complexa.