Duas pessoas são presas no Irã por permitirem que corredoras sem véu participassem de uma maratona
As autoridades iranianas prenderam "os dois principais organizadores" de uma maratona realizada no dia anterior em Kish (sul do país), na qual mulheres participaram sem véu, conforme exigido pelas normas estabelecidas após a Revolução Islâmica de 1979.
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"Uma das pessoas detidas é um funcionário da Zona Franca de Kish, e o outro trabalha para a empresa privada que organizou a corrida", informou a agência de notícias Mizan, citando o judiciário.
Esses eventos coincidem com um momento em que algumas autoridades do país denunciam um crescente desrespeito ao uso obrigatório do véu.
Segundo a mídia local, mais de 5 mil pessoas participaram da maratona de Kish na manhã de sexta-feira (5). Kish é uma ilha turística no sul do Irã, às margens do Golfo Pérsico. Em diversas provas reservadas para mulheres, algumas corredoras participaram sem véu, violando uma exigência de quatro décadas no Irã, de acordo com imagens que circulam nas redes sociais.
O procurador-geral de Kish, citado na sexta-feira à noite pela agência de notícias judiciária Mizan, afirmou que o evento "foi contrário à decência" e que foram iniciados processos legais contra os organizadores.
A agência de notícias Tasnim criticou a "completa falta de supervisão e o desrespeito aos códigos de vestimenta por um número significativo de participantes".
De acordo com as normas impostas após a Revolução Islâmica de 1979, todas as mulheres no Irã devem cobrir os cabelos com um hijab em público e usar roupas modestas e folgadas. No entanto, essa exigência tem sido cada vez mais desrespeitada no Irã, onde muitas mulheres agora saem em público sem véu, algumas vestindo roupas reveladoras.
Esse fenômeno, inimaginável há alguns anos, parece ter ganhado ainda mais força desde o fim da guerra com Israel em junho, especialmente na capital, Teerã. Líderes religiosos e conservadores estão indignados com o que consideram a "nudez" generalizada e um avanço da influência ocidental, percebida como uma ameaça.
A questão do véu está dividindo a classe política. O governo do presidente Masoud Pezeshkian recusou-se, no ano passado, a aprovar uma lei que teria aumentado drasticamente as penas para mulheres que não usam o véu.
No entanto, nesta semana, mais da metade dos parlamentares criticou o judiciário por não fazer cumprir a lei. O chefe do judiciário, Gholamhosein Mohseni Ejei, reiterou seu apelo por uma aplicação mais rigorosa da lei na quinta-feira.
