Do espaço sideral para o sul da China: descoberta revela a maior cratera moderna já identificada na Terra
Logo no início, uma pergunta inevitável surge: quantas marcas do céu ainda permanecem escondidas sob nossos pés? A revelação da cratera Jinlin, anunciada em 15 de outubro na revista Matter and Radiation at Extremes, reacendeu o interesse internacional por impactos cósmicos recentes e trouxe novas peças para o quebra-cabeça da história geológica da Terra.
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Localizada na província de Guangdong, perto de Zhaoqing, na China, a estrutura passou despercebida até mesmo por levantamentos geológicos detalhados. O que pesquisadores encontraram ali é impressionante: uma depressão com até 900 metros de largura e 90 metros de profundidade, formada durante o Holoceno — período que se encerrou há cerca de 11.700 anos. Até hoje, pouco mais de 200 crateras de impacto confirmadas são conhecidas no planeta, e raramente tão jovens ou tão bem preservadas.
A cratera que desafiou o clima
O fato de Jinlin ter sido identificada em uma encosta arborizada tornou a descoberta ainda mais surpreendente. Em Guangdong, chuvas intensas de monção, alta umidade e forte atividade biológica costumam apagar rapidamente qualquer feição superficial. Mas, segundo os pesquisadores, espessas camadas de granito erodido atuaram como escudo natural, preservando a cavidade apesar das condições adversas.
Até então, a maior cratera do Holoceno recente era Macha, na Rússia, com 300 metros de diâmetro. Jinlin triplica essa dimensão e redefine os limites do que se sabia sobre impactos recentes — um salto significativo para o entendimento desses eventos na era pós-glacial.
As estimativas de idade foram obtidas por meio de estudos de erosão e de datação convencional aplicada ao solo circundante. Os padrões de intemperismo indicam que o impacto ocorreu entre o início e o meio do Holoceno, quando a região já era dominada por vegetação densa e clima quente e úmido, típico do período que sucedeu o fim da última Era Glacial.
O elemento decisivo para confirmar a origem extraterrestre da formação foi a presença de quartzo com feições de deformação planar — marcas internas que só surgem sob pressões superiores a 10 gigapascais e que podem alcançar 35 GPa, níveis impossíveis em processos terrestres como vulcanismo ou tectonismo. Esse tipo de deformação só ocorre em colisões de alta velocidade, descartando qualquer hipótese que não envolva um meteorito.
Pesquisadores também excluíram a possibilidade de um cometa, já que estruturas produzidas por esses corpos costumam ultrapassar 10 quilômetros de largura. Embora ainda não se saiba se o meteorito era rochoso ou metálico, o tamanho da cratera reacendeu debates sobre a real frequência de impactos de grande porte. Registros atuais são considerados incompletos e refletem mais a capacidade de preservação de cada região do que a ocorrência real desses eventos.
Com Jinlin, cresce a suspeita de que muitas crateras jovens podem estar ocultas em áreas pouco estudadas, especialmente em regiões com erosão acelerada. A descoberta reforça que a distribuição global desses vestígios não representa, necessariamente, a distribuição dos impactos, mas sim das condições de preservação da crosta terrestre.
Os próximos passos incluem determinar com mais precisão a composição do objeto que atingiu o local e investigar o destino dos materiais ejetados durante o impacto. Conforme avançam as escavações e análises, especialistas esperam desvendar detalhes sobre a transformação da paisagem e o papel da estrutura na evolução geomorfológica da região. Jinlin, ao que tudo indica, abre uma janela valiosa para compreender não apenas o passado do planeta, mas também os riscos que ainda nos rondam vindos do espaço.
