Crise sanitária e acordo comercial UE-Mercosul ampliam revolta de agricultores na França
A ministra da Agricultura da França, Annie Genevard, pediu calma nesta quarta-feira diante da revolta dos produtores rurais, em meio à crise sanitária que atinge o setor. Na noite de terça-feira, ela anunciou a vacinação de 750 mil cabeças de gado e a criação de um fundo de apoio de mais de 10 milhões de euros para pequenos agricultores.
A medida, porém, foi considerada insuficiente por alguns sindicatos. Na manhã de hoje, os agricultores continuavam bloqueando as principais estradas de transporte de mercadorias no sul do país e interrompendo o tráfego ferroviário entre as cidades de Toulouse e Narbonne, na mesma região.
A mobilização tem como alvo principal as medidas do governo para conter a epidemia de dermatose nodular contagiosa bovina. Paris segue as normas europeias, que determinam o abate sistemático de rebanhos inteiros assim que um caso é detectado. Além disso, os agricultores protestam contra o que consideram uma “traição” do governo com o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. Os produtores temem que o tratado acelere a perda de renda e provoque o fechamento de explorações familiares.
A aprovação, pelo Parlamento Europeu, na terça-feira, de uma série de salvaguardas para limitar o impacto do acordo nos agricultores do bloco também não acalmou os ânimos. Isso porque a decisão deve facilitar a votação do tratado pelos chefes de Estado e de governo dos 27 países da União Europeia na quinta-feira, em Bruxelas, apesar da oposição da França e da Itália.
Ontem, o presidente das Cooperativas U, quarta maior rede de supermercados da França, afirmou que vai boicotar produtos sul-americanos caso o acordo entre em vigor. Dominique Schelcher declarou ainda: “O Mercosul é como se fosse uma Shein da concorrência desleal”, em referência ao gigante asiático do comércio online.
