COP30: do Rio a Belém, geógrafo percorre 3 mil km de bicicleta para evento enquanto busca engajar estudantes no caminho

 

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O geógrafo e educador ambiental Leandro Costa chegará em Belém de bicicleta para COP30 depois de pedalar 3.500 quilômetros. Ele deixou o Rio de Janeiro no último dia 22 com a missão de educar e também ouvir crianças, adolescentes e adultos sobre os efeitos das mudanças do clima.

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Iniciativas como essa mostram o poder de engajar alunos na questão climática, mas não são suficientes para alcançar as futuras gerações, segundo especialistas. Para eles, o Brasil precisa de políticas públicas e regulamentação nacionais que façam da educação climática um tema contínuo e transversal nas escolas.

Hoje Leandro está no norte de Minas Gerais. Ele já parou em várias escolas, onde foi surpreendido com a reação de estudantes como Maria Alice, de 6 anos, que ficou tão apaixonada pelo assunto que decidiu se incluir na jornada, em um lindo desenho colorido. Nele a menina aparece na garupa de Leandro, levando sua bonequinha.

— As crianças ficaram entusiasmadas ao vê-lo chegar de bicicleta e depois imaginar como ele faria uma viagem tão longa. Amaram saber que o rio que passa em frente à nossa escola já teve peixe e que, caso não fosse poluído, ainda poderíamos ter o Piabanha nele — conta a professora Juliana Costa, do Colégio Estadual Déa Lúcia Cordeiro, em Petrópolis (RJ), que já recebeu a visita do educador.

Fora do currículo

Danilo Moura, especialista em Mudanças Climáticas da Unicef no Brasil, afirma que há um consenso de que a educação ambiental e climática é incipiente no país. Segundo ele, o tema não tem a força que deveria na Base Nacional Curricular (BNCC) e parece ausente de muitas formas:

— Não está transversalizado no currículo como ele existe hoje e isso é uma questão para ser discutida. Nesse momento, mais importante que legislação é a discussão da aplicação e construção de currículos escolares, porque é nessa hora que a coisa pega. O mais difícil é incorporar a dimensão do conhecimento dentro do currículo.

Uma lei sancionada no ano passado estabeleceu que, a partir deste ano, as escolas brasileiras devem passar a trabalhar em sala de aula as mudanças do clima e a proteção da biodiversidade. A norma modifica a Política Nacional de Educação Ambiental, acrescentando o estudo desses assuntos entre os objetivos da educação ambiental nacional. Pelo texto, as escolas já deveriam estar estimulando estudantes a participar de ações de prevenção às mudanças climáticas.

Moura ressalta que o momento da COP30 é ideal para fortalecer a estrutura curricular, já que estão sendo formuladas novas políticas climáticas para os próximos dez anos:

— É uma ocasião oportuna para o desenvolvimento de uma estratégia nacional. O MEC está fazendo este movimento, mas não está acontecendo na velocidade que gostaríamos. Seria interessante que os sistemas educacionais entendessem a urgência.

Diretor-adjunto do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Mané Garrincha, em Magé (RJ), o geógrafo Sidney Cardoso avalia que quanto mais presente o tema ambiental e a questão climática estiverem nas escolas mais estará na sociedade:

— Quando o aluno sai da sala de aula para o trabalho, ele vai conversar para não usar copo plástico e levará isso para a empresa dele. Este indivíduo vai ter conhecimento não porque a casa dele alagou, mas porque aprendeu na educação básica.

O Ciep foi a primeira parada do geógrafo que viaja sobre duas rodas até Belém. A escolha tem seus motivos: a escola venceu prêmios que reconhecem iniciativas na educação ambiental e criou um programa para dar continuidade a projetos que antes eram “como vagalumes”, na definição de Cardoso. Lá os alunos aprendem sobre orgânicos, reuso, poluição e abelhas. Os insetos que funcionam como termômetro ambiental têm apiários construídos e mantidos pela escola.

Pedalada global

A iniciativa da longa pedalada de Leandro é apoiada pela organização The Climate Reality Project Brasil e pelos consulados da Bélgica e dos Países Baixos. Ela se assemelha a de outros ciclistas e simpatizantes de outras partes do mundo reunidos sob o projeto COP30 Bike e Ride: Pedalando e velejando pela proteção climática até a COP30.

No projeto, ciclistas já partiram principalmente de países do Leste Europeu e da Europa Ocidental rumo a Belém. Os participantes vão pedalando até Lisboa, de onde seguem a bordo de veleiros para Recife.

Especialistas destacam a importância de projetos que busquem fortalecer iniciativas locais e regionais. O Programa de Capacitação e Ação em Legislação de Educação Climática do Climate Reality Project Brasil seleciona líderes de cada estado e do Distrito Federal para integrarem grupos de trabalho e formação em projetos de lei sobre educação climática. Em outra frente, o Instituto Juntos pelo Clima, na região Serrana do Rio, apoia a formação de líderes climáticos para guiarem ações coletivas.

— A política pública precisa ser também interdisciplinar, no campo da medicina ao da arquitetura e engenharia. O desenvolvimento sustentável está aí — diz Leandro, que faz parte do Instituto Juntos pelo Clima e também defende uma grade curricular mais robusta para a educação ambiental. (*Especial para O GLOBO)