Como Paper Mario inspirou Hollow Knight?

 

Fonte:


Os anos 1990 foram berço de muitas inovações e da expansão de franquias nos games, desde o lendário embate entre a Nintendo e a SEGA na chamada "Guerra dos Consoles" até o início da era 3D e a chegada da Sony ao mercado de consoles domésticos. Muitas dessas novidades são usadas por desenvolvedoras até hoje, como é o caso da Team Cherry e seu bem-sucedido metroidvania Hollow Knight. Hollow Knight Silksong: Qual é o motivo de tanto hype em torno do jogo? O que é um jogo metroidvania? A desenvolvedora australiana não esconde suas raízes e já veio a público várias vezes para falar sobre inspirações como Mega Man X, Faxanadu e The Legend of Zelda II. Claro que Super Metroid e Castlevania também entram nesse potinho. O que muitos não sabem é que outro RPG da Nintendo também inspirou o trio William Pellen, Ari Gibson e David Kazi no desenvolvimento do primeiro Hollow Knight, lançado em 2017. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- Estamos falando de Paper Mario, spin-off de uma das maiores franquias de games do mundo e que fez sua estreia no Nintendo 64. Saiba que o RPG foi essencial para uma das mecânicas mais importantes do metroidvania. Para contar um pouco sobre essa história, o Canaltech volta no tempo, relembrando um dos maiores clássicos da série Mario. O inicío de tudo: o surgimento de Paper Mario O Nintendo 64 marcou um período um tanto estranho para a Big N. A dona do Mario tinha acabado de sair vitoriosa da disputa acirrada contra a SEGA pelo topo da quarta geração de consoles — embate conhecido como a "Guerra dos Consoles". Acontece que havia uma estreante no mercado, uma empresa que a Nintendo conhecia muito bem, mas pelos motivos errados. A "traição" da Nintendo à Sony, que na época tentava fechar uma parceria com a Big N, resultou no que conhecemos hoje como o PlayStation, uma das linhas de consoles mais bem-sucedidas da história. O primeiro modelo, conhecido como PlayStation ou PS1, fazia uso de mídias físicas em CD, que, apesar de mais lentos que os cartuchos, tinham mais espaço de armazenamento e maior qualidade de áudio e vídeo. A Nintendo, por sua vez, apostou novamente em seus fiéis cartuchos, populares desde o Nintendinho. O grande problema é que os desenvolvedores não apostaram assim. Era mais barato e havia mais suporte para produzir jogos para o PlayStation do que para o Nintendo 64, justamente por conta dos CDs, resultando em uma verdadeira migração de estúdios parceiros para o console da Sony. PlayStation queria desenvolver um drive de disco para o Super Nintendo (Divulgação/Nintendo) O problema é que uma dessas empresas era a Square Soft (futura Square Enix), produtora de Final Fantasy. A Square já havia trabalhado com a Nintendo de forma muito próxima, sendo um de seus principais projetos em conjunto o Super Mario RPG para o Super Nintendo. A Big N até tentou abordar a Square para produzir Paper Mario, mas a desenvolvedora japonesa negou a proposta para trabalhar em nada menos que Final Fantasy VII para o PlayStation — um dos marcos dessa "virada de chave" dos estúdios em relação à Nintendo. Essa aliança foi tão impactante que a Square seguiu como parceira prioritária da Sony, principalmente com exclusivos, até meados de 2024. Paper Mario nasce (e é um sucesso) Com a Square fora da jogada, a Nintendo confiou o projeto à Intelligent Systems, famosa por seus trabalhos com Fire Emblem e Metroid. O lendário Shigeru Miyamoto foi escalado como produtor e consultor, enquanto Naohiko Aoyama assumiu a direção de arte. Na verdade, Paper Mario nasceu como Super Mario RPG 2 e tinha como alvo o Nintendo 64DD, um periférico que adicionava um drive de disco magnético ao console. Com o passar do tempo, o projeto foi movido para os cartuchos. Em algum momento no desenvolvimento do projeto, surgiu ideia de transformar Super Mario RPG 2 em Paper Mario, com cenários 3D e personagens 2D que parecem recortes de papel. Segundo Hiroyasu Sasano, um dos produtores, a escolha pelos sprites 2D foi uma forma de se distanciar da regra da quinta geração, onde tudo "devia" ser em 3D. "A razão pela qual seguimos essa direção é que pensamos que os jogadores poderiam estar se cansando do visual 3D em CG no PlayStation e em outros consoles. É difícil extrair fofura de personagens feitos de polígonos, certo?", afirmou o desenvolvedor em uma entrevista japonesa resgatada pelo site PC Magazine. Uma das principais inspirações dos produtores para o estilo de arte foi PaRappa the Rapper, jogo de ritmo excêntrico da Sony que misturava 2D e 3D com maestria. Paper Mario foi desenvolvido para atingir um público mais casual e iniciante no gênero, sendo mais simples que os RPGs tradicionais. Paper Mario seria desenvolvido originalmente pela Square (Divulgação/Nintendo) Paper Mario chegou em 2000 ao Nintendo 64 no Japão e se destacou por seu combate por turnos, que contava com mecânicas de timing e adicionava uma camada extra de habilidade. Com seus parceiros, Mario progredia pelo mundo falando com NPCs, explorando e resolvendo quebra-cabeças. A mecânica de Paper Mario que inspirou a Team Cherry foi justamente o sistema de Badges (insígnias). Esse elemento substituía os complexos sistemas de equipamento e permitia que os jogadores personalizassem suas jornadas escolhendo bônus. Como há um número limitado de Badges que se pode equipar, a estratégia de personalização se aprofunda, permitindo a criação de diferentes builds. Mas antes de mergulharmos no metroidvania da Team Cherry, seria justo concluir a trajetória de Paper Mario. Paper Mario caiu nas graças do público e da mídia especializada, conquistando o posto de 6º jogo mais bem-avaliado do Nintendo 64 no Metacritic. O título foi um sucesso e vendeu cerca de 1,37 milhão de unidades, o que permitiu que o spin-off se tornasse uma das principais subséries do bigodudo e um dos carros-chefe da Nintendo no gênero RPG. Paper Mario influenciou Hollow Knight A Nintendo foi uma das empresas que mais inspirou a Team Cherry na criação de Hollow Knight. O mundo de insetos, com seu tema sombrio e melancólico, pegou emprestado conceitos de jogos como o esquecido The Legend of Zelda II e a joia perdida Faxanadu. Claro que Castlevania e Super Metroid também influenciaram os desenvolvedores, afinal, estamos falando de um metroidvania. Outro que entrou nessa "sopa de referências" foi Mega Man X, que fez escola em level design e trilha sonora ao chegar ao Super Nintendo em 1993. Amuletos de Hollow Knight foram baseados nas Badges de Paper Mario (Divulgação/Team Cherry) O que muitos não sabem é que Paper Mario, mais especificamente o sistema de Badges do RPG da Intelligent Systems, foi um dos motivadores para a Team Cherry adicionar o amado sistema de Amuletos (Charms). Tanto em Paper Mario quanto em Hollow Knight, eles servem como recompensa pela exploração e permitem que os jogadores usem e abusem de diferentes estratégias. Há também um alto grau de personalização, que atende a vários estilos de jogo: defensivo, ofensivo, focado em vida, etc. Assim como no RPG da Nintendo, os espaços para amuletos em Hollow Knight são limitados, e cada um ocupa um número diferente de encaixes, variando conforme sua utilidade. Resumindo: quanto mais "apelão" o amuleto, mais espaços ele ocupa. Mas, afinal, quando a Team Cherry revelou essa inspiração? Há cerca de oito anos, o estúdio australiano abriu uma sessão de "Perguntas e Respostas" (Q&A) no subreddit r/gaming. Na postagem, fãs puderam perguntar sobre vários aspectos do jogo, que na época já havia sido lançado e estava recebendo a primeira de suas três DLCs. Um usuário questionou sobre a influência da franquia Dark Souls, algo debatido pela comunidade até hoje. Contudo, William Pellen revelou que só começou a jogar os títulos da FromSoftware quando o metroidvania já estava em estágio avançado de desenvolvimento. De passagem, Pellen citou Paper Mario como uma das inspirações. Vários jogos inspiraram Hollow Knight (Divulgação/Team Cherry) Hollow Knight influenciou positivamente o cenário metroidvania, que tentava emergir e voltar aos seus anos de glória desde Castlevania: Symphony of the Night. O próprio sistema de amuletos foi replicado algumas vezes desde então. Jogos como o brasileiro Pipistrello and the Cursed Yoyo são um excelente exemplo do bom uso da mecânica. Sistema de amuletos em Hollow Knight: Silksong No aguardado Hollow Knight: Silksong, o sistema de amuletos também evoluiu. Embora seja uma continuação, Silksong e o primeiro Hollow Knight apresentam muitas diferenças, e uma das mudanças mais significativas está justamente nesse sistema. Agora, os jogadores poderão usar Brasões (Crests), que expandem o sistema com diferentes tipos de insígnias e permitem até mesmo alterar os golpes básicos de Hornet, oferecendo uma personalização muito maior que no primeiro jogo. Uma ideia que se transforma: de Paper Mario a Silksong A indústria dos videogames é fascinante pela criatividade e pela forma como cada criador aborda diferentes ideias. A Team Cherry se mostrou mestra na "arte de se inspirar", combinando elementos de vários jogos sem perder a própria essência. Hollow Knight: Silksong usa brasões (Divulgação/Team Cherry) Longe de ser uma imitação, o sistema de amuletos foi usado com maestria pela Team Cherry. Uma ideia que se popularizou nos anos 2000 foi aprimorada em 2017 e promete atingir seu ápice com Hollow Knight: Silksong. Toda essa inspiração foi usada de forma única, estabelecendo novos padrões para o gênero e garantindo uma enorme autenticidade ao jogo. Leia também no Canaltech:

Review Paper Mario | Jogo envelhece como um bom vinho — só que vinho me faz mal

10 jogos que definiram o Nintendo 64 Dá para jogar Silksong sem ter jogado o primeiro Hollow Knight? Vídeo: Nintendo Switch, PS5 ou Xbox? Ainda vale a pena comprar um console em 2025?   Leia a matéria no Canaltech.