Combinação rara de fenômenos climáticos extremos na Ásia deixa mais de 1,2 mil mortos; entenda

 

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A formação simultânea de três ciclones entre o sul e o sudeste da Ásia provocou chuvas torrenciais e inundações mortais, causando um impacto destrutivo em pelo menos cinco países. A convergência rara de fenômenos climáticos extremos deixou, desde então, mais de 1,2 mil pessoas mortas — e milhões afetadas em países como Indonésia, Sri Lanka, Tailândia, Vietnã e Malásia.

Contexto: Enchentes deixam mais de mil mortos, milhões de desabrigados e cidades devastadas na Ásia

Entenda: Formação de três ciclones simultâneos leva chuvas torrenciais à Ásia e deixa cerca de 400 mortos em três países

Segundo autoridades meteorológicas da região, três sistemas atuaram simultaneamente: o ciclone Senyar, formado de maneira rara no Estreito de Malaca, próximo ao Equador; o tufão Koto, que causou enchentes repentinas nas Filipinas e depois avançou rumo ao Vietnã; e o ciclone Ditwah, responsável pelo pior desastre climático no Sri Lanka em duas décadas. A interação entre esses sistemas ampliou a circulação de ventos e impulsionou o transporte de grandes volumes de umidade do oceano para o continente.

As chuvas ocorreram em plena estação das monções, período marcado por ventos sazonais que já trazem precipitações intensas. Mas, desta vez, a água do mar estava mais quente do que o normal, ultrapassando 26,5°C — condição que aumenta a evaporação, injeta mais vapor na atmosfera e alimenta tempestades tropicais com energia adicional.

Enchentes na Ásia deixam cidades devastadas e mais de mil mortos

No Sri Lanka, o resultado foi devastador: 355 mortos, 366 desaparecidos e mais de 1,3 milhão de pessoas afetadas pelas enchentes e deslizamentos. Na Indonésia, 604 pessoas morreram, 464 estão desaparecidas e quase 300 mil ficaram desalojadas. No país, três navios de guerra, dois navios-hospital e aeronaves foram enviados para apoiar as regiões que continuam inacessíveis. Tailândia, Vietnã e Malásia também registraram centenas de milhares de desabrigados.

— É a primeira vez que todo o país é atingido por um desastre dessa magnitude — disse o presidente do Sri Lanka, Anura Kumara Dissanayake, em discurso à nação, sugerindo que a dimensão da devastação superou a do tsunami que atingiu a Ásia em 2004, matando cerca de 31 mil pessoas e deixando mais de 1 milhão desabrigados.

Mares aquecidos

O funcionamento desse mecanismo é bem conhecido pelos meteorologistas. Quando a superfície do mar aquece, a água evapora mais rápido. O ar quente e úmido sobe, reduzindo a pressão no centro da tempestade. Essa área de baixa pressão suga ar dos arredores, que começa a girar devido à rotação da Terra. À medida que o ar úmido sobe e resfria, forma nuvens e libera calor — energia que intensifica ainda mais a tempestade. É esse ciclo que permite que tempestades tropicais se transformem em ciclones quando os ventos sustentados ultrapassam 119 km/h.

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Além de enfrentar mares mais quentes e tempestades mais frequentes, o Sul e o Sudeste Asiático concentram algumas das populações urbanas mais vulneráveis do planeta. Estudos da ONU mostram que a região abriga 40% da população urbana mundial, mas também 60% da população do mundo que vive em cidades a 5 metros ou menos acima do nível do mar. Isso significa maior exposição a tufões, que avançam a partir do oceano, e a enchentes, já que áreas mais baixas acumulam mais água.

Em 2025, mais de 200 milhões de habitantes desses centros urbanos estavam expostos a inundações fluviais — o maior contingente global. Soma-se isso ao fato de que as cidades do Leste e do Sudeste Asiático têm a segunda maior proporção de moradores expostos a aumentos extremos de temperatura em cenários de altas emissões, atrás apenas da Europa. Neste ano, o Sudeste Asiático foi atingido por uma série de ondas de calor — que chegaram mais cedo do que o normal, apesar das previsões de que o ciclo de La Niña poderia trazer temperaturas mais amenas.

Impacto prolongado

Embora as chuvas tenham diminuído em alguns pontos, áreas inteiras continuam submersas, especialmente em Colombo, no Sri Lanka, e em regiões de difícil acesso na Indonésia. Operações de resgate seguem em curso em vários países, com milhares de militares e voluntários distribuindo alimentos, desobstruindo estradas e retirando famílias isoladas.

O quadro ainda é de alerta, enquanto governos avaliam os danos e tentam responder a uma tragédia moldada por uma combinação pouco comum de fatores atmosféricos — mas cada vez mais frequente no contexto de um clima global em rápida transformação. Governos e organizações humanitárias alertam que o número de mortos pode aumentar, já que muitas comunidades seguem isoladas e centenas de pessoas continuam desaparecidas. A extensão total dos danos ainda deve demorar dias para ser compreendida.