Com quase 42 milhões de habitantes, cidade na Indonésia supera Tóquio e se torna a mais populosa do mundo; veja ranking da ONU
Que cidade consegue crescer tanto a ponto de quase desaparecer? A pergunta resume o momento de Jacarta, anunciada nesta terça-feira (18) pela ONU como a nova líder mundial em população urbana, com 41,9 milhões de habitantes — superando antigas gigantes como Daca, Tóquio, Nova Délhi e Xangai.
Vídeo: Greta Thunberg colore Canal de Veneza de verde durante protesto e acaba proibida de entrar na cidade
A província central, DKI Jacarta, concentra mais de 11 milhões de pessoas em uma área compacta. Quando se incorpora a região metropolitana de Jabodetabek, a cidade assume o topo de um ranking global que traz Daca em segundo lugar (36,6 milhões), seguida por Tóquio (33,4 milhões), Nova Délhi (30,2 milhões), Xangai (29,6 milhões), Guangzhou (27,6 milhões), Cairo (25,6 milhões), Manila (24,7 milhões) e, empatadas, Calcutá e Seul (22,5 milhões cada). São Paulo, que já figurou entre as mais populosas do mundo, hoje ocupa apenas a 13ª posição, com 18,9 milhões de habitantes.
Uma megacidade que afunda
Entre os desafios mais urgentes estão as inundações. De acordo com o The Sun, a zona norte de Jacarta afundou 2,5 metros na última década, e há áreas em que o solo cede até 25 centímetros por ano — mais que o dobro da média global para megacidades costeiras. Hoje, quase metade da capital está abaixo do nível do mar, reflexo de sua construção sobre terreno pantanoso, da proximidade com o Mar de Java e dos 13 rios que cortam o centro urbano.
Para cientistas, o alerta é sério. “A possibilidade de Jacarta ficar submersa não é motivo de riso”, disse Heri Andreas, do Instituto de Tecnologia de Bandung. Segundo ele, até 2050 cerca de 95% da zona norte poderá estar debaixo d’água. A extração excessiva de água subterrânea, permitida sem fiscalização, acelera a subsidência do solo.
Apesar do risco, o setor imobiliário segue investindo, com novos apartamentos de luxo sendo erguidos especialmente no norte da cidade. Eddy Ganefo, do conselho consultivo da Associação de Desenvolvimento Habitacional da Indonésia, afirma ter solicitado ao governo que contenha os projetos, mas admite: “enquanto pudermos vender apartamentos, o desenvolvimento continuará”.
A situação de Jacarta reflete um fenômeno global. Cidades costeiras em todo o mundo, como Xangai, Guangzhou, Cairo e Manila, também enfrentam os impactos do aumento do nível do mar. No entanto, o ritmo de afundamento na capital indonésia a torna particularmente vulnerável, acima de outras megacidades como Calcutá, Seul e Nova Délhi.
Soluções bilionárias e polêmicas
Para tentar conter a água, o governo planeja um muro de contenção marítimo de US$ 40 bilhões, previsto para conclusão parcial em 2030 e totalmente fechado até 2050. O reservatório que se formará ajudaria a armazenar água da chuva e reduzir a dependência da extração subterrânea. Ambientalistas, porém, alertam para riscos ao ecossistema marinho, alterações nas correntes costeiras e a possibilidade de transformar a baía em uma lagoa estagnada de água poluída.
Outra estratégia é a transferência da capital para Nusantara, cidade planejada no arquipélago indonésio, com obras iniciadas em 2022 e conclusão prevista para 2045, ao custo estimado de US$ 35 bilhões. O projeto, no entanto, enfrenta críticas por invadir áreas florestais densas, afetar habitats de espécies ameaçadas e deslocar comunidades indígenas.
