Com o Cantareira em situação crítica, Sabesp ativa captação extra na Serra do Mar

 

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Diante de um dos anos com piores índices pluviométricos da última década, a Sabesp acelerou a entrega de uma obra considerada estratégica para a segurança hídrica da Região Metropolitana de São Paulo. A Companhia colocou em funcionamento total uma nova estrutura de captação na bacia do rio Itapanhaú, na Serra do Mar, para reforçar o abastecimento em um momento de forte pressão sobre os mananciais.

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A nova estrutura permite trazer até 2.500 litros por segundo de água da bacia do rio Itapanhaú, na Serra do Mar, para o Sistema Alto Tietê, que hoje cumpre papel fundamental no suprimento da Grande São Paulo.

A conclusão da obra ocorre em um momento crítico, em que o Sistema Cantareira, principal reservatório da região, opera atualmente na faixa de restrição (nível 4), com volume útil inferior a 20%. A represa Jaguari-Jacareí, uma das principais desse sistema, registra nesta terça-feira 16,8% de sua capacidade, a pior marca desde a crise hídrica de 2014. Com o nível abaixo de 30%, já foi necessário acionar o bombeamento de água da bacia do Rio Paraíba do Sul.

Segundo César Soares, meteorologista da Climatempo, o ano de 2025 foi severo com as áreas de captação, com chuvas acima da média registradas apenas em abril. No entanto, as projeções indicam uma virada no padrão climático.

— O cenário para os próximos meses é muito favorável às chuvas nas áreas de captação, segundo a previsão da Climatempo a tendência é de chuva acima da média, inclusive no início do ano de 2026, boa notícia para amenizar a condição de seca do principal manancial de abastecimento da Grande São Paulo — avalia Soares.

Mapa da rede de represas do Sistema Cantareira em São Paulo

Criação/O GLOBO

Apesar do otimismo, o especialista alerta que será necessário manter o monitoramento durante todo o próximo ano, inclusive na estação seca, para confirmar se haverá uma recuperação plena dos níveis de armazenamento.

Por ora, a determinação dos órgãos reguladores (ANA e SP Águas) mantém o Cantareira na faixa de restrição durante todo o mês de dezembro, reforçando a importância da nova adutora do Itapanhaú para equilibrar a oferta de água na metrópole.

Como funciona o sistema

A operação de transferência tem início no ribeirão Sertãozinho, um dos afluentes do Itapanhaú, localizado a cerca de 60 quilômetros da capital paulista. O projeto, que recebeu investimento de R$ 300 milhões, exigiu soluções complexas de engenharia para minimizar intervenções no Parque Estadual da Serra do Mar.

Ali começa um percurso de aproximadamente 9 quilômetros composto por adutoras apoiadas sobre blocos de concreto e por um túnel de 500 metros escavado na montanha, próximo à rodovia Mogi–Bertioga, evitando o soterramento dos dutos e preservando a vegetação nativa. O sistema realiza um bombeamento inicial para vencer um desnível de 98 metros, e a partir desse ponto, a gravidade conduz o fluxo até o destino.

Captação de água do Itapanhaú, na Serra do Mar

Divulgação/Sabesp

A outorga concedida pela SP Águas autoriza a transferência máxima de 2,5 mil litros por segundo — um reforço equivalente a 17% de “água nova” ao reservatório. A partir dali, o Sistema Integrado Metropolitano distribui o recurso para toda a região, que reúne quase 22 milhões de habitantes.

— Operamos em regiões com baixa disponibilidade hídrica natural, altamente urbanizadas e densamente povoadas. Esta é mais uma obra para garantir mais água para a população, buscando fontes que antes não eram utilizadas para o abastecimento — afirmou Roberval Tavares, diretor-executivo de Engenharia e Inovação da Sabesp.

O sistema entrou em alerta em setembro, quando o volume caiu abaixo de 40%, e só pode contar com reforço da transposição do Paraíba do Sul quando o armazenamento fica abaixo de 30%. Com o nível global agora em 19,7%, o quadro acende novo alerta para o abastecimento da Grande São Paulo.