Cinquenta alunos fogem após sequestro em massa na Nigéria, e Papa pede libertação de 265 estudantes e docentes em cativeiro

 

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Cinquenta dos 303 estudantes sequestrados de uma escola católica no estado de Níger, no centro-norte da Nigéria, conseguiram escapar do cativeiro entre sexta-feira e sábado e já estão reunidos com suas famílias. A informação foi divulgada neste domingo pelo reverendíssimo Bulus Dauwa Yohanna, presidente da Associação Cristã da Nigéria no estado e proprietário da escola St. Mary’s, localizada na comunidade rural de Papiri.

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Os estudantes que escaparam têm entre 10 e 18 anos e fugiram individualmente, segundo Yohanna. O religioso acrescentou que 253 alunos e 12 professores continuam desaparecidos. Segundo ele, o número foi confirmado após contato com os pais e responsáveis dos menores.

O ataque ocorreu na sexta-feira, quando homens armados invadiram a St. Mary’s School e levaram alunos e funcionários. Nenhum grupo reivindicou autoria do sequestro, e as autoridades nigerianas ainda não forneceram atualizações sobre o andamento das buscas. Também não está claro onde as crianças e docentes estão sendo mantidos.

A escola fica perto de uma estrada que liga Yelwa a Mokwa, em uma região onde quadrilhas armadas operam a partir de extensas áreas de floresta que cruzam diferentes estados. A área é marcada por insegurança e por repetidos ataques de grupos criminosos. No estado vizinho de Kebbi, 25 alunos foram levados em circunstâncias semelhantes quatro dias antes.

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Em outro caso, 38 fiéis sequestrados durante um ataque a uma igreja no estado de Kwara recuperaram a liberdade, informou o governador AbdulRahman AbdulRazaq. A ação em Kwara, realizada na terça-feira, deixou duas pessoas mortas.

‘Profundamente entristecido’

Também neste domingo, o Papa Leão XIV pediu a libertação imediata dos estudantes e professores durante a missa na Praça São Pedro. O Pontífice afirmou estar “profundamente entristecido” pelo ataque e manifestou “grande pesar, especialmente por tantos meninos e meninas sequestrados e por suas famílias angustiadas”. Ele apelou por uma resposta rápida das autoridades para garantir a libertação das vítimas.

Os casos ocorrem em meio a tensões com Washington, após o presidente americano, Donald Trump, ameaçar uma intervenção militar ao acusar o governo nigeriano de permitir a perseguição a cristãos. Especialistas e autoridades locais, porém, dizem que muçulmanos também são amplamente vítimas da violência. O governo afirma que alegações de perseguição religiosa distorcem a realidade e ignoram o caráter multifacetado das crises que afetam o país.

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A escalada recente, no entanto, se soma ao histórico de instabilidade no país mais populoso da África. No noroeste, quadrilhas atuam sem motivação ideológica clara, promovendo sequestros para resgate e abrigando-se em grandes áreas de floresta sem presença do Estado. No nordeste, insurgentes do Boko Haram e da facção ISWAP combatem o governo há mais de uma década, em um conflito que já deixou mais de 2 milhões de deslocados. Já no centro do país, confrontos envolvendo pastores (geralmente muçulmanos) e agricultores (em sua maioria cristãos) se intensificam, muitas vezes motivados por disputas por terra ou recursos naturais.

Desde o caso das meninas de Chibok, em 2014, mais de 1,5 mil estudantes foram sequestrados no país, muitos deles libertados apenas após o pagamento de resgates. Com os casos mais recentes, o governo do estado de Níger determinou o fechamento imediato de todas as escolas, enquanto algumas instituições federais na região também foram fechadas por ordem do governo nacional. As autoridades afirmam que não vão recuar até garantir a libertação de todos os reféns.

Em comunicado, o presidente nigeriano, Bola Tinubu, disse que “todo nigeriano, em qualquer estado, tem direito à segurança” e prometeu que seu governo continuará trabalhando para libertar cada uma das vítimas dos sequestros recentes. (Com AFP)