Cebri prepara inauguração de nova sede no Rio e projeta ampliação de suas atividades
O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), think tank com 27 anos de atuação no Brasil e no exterior, inaugura sua nova casa no Rio no dia 12 de dezembro. A sede Jequitibá fica na centenária Casa dos Jesuítas, no terreno da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), na Gávea, Zona Sul da cidade — e faz parte de um momento de expansão do centro de estudos, que busca ampliar parcerias internacionais na Europa e nas Américas. Ao GLOBO, José Pio Borges, presidente do Conselho Curador do Cebri, afirmou que "é uma nova fase e um novo desafio".
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O amplo casarão, com dois mil metros quadrados e situado em meio a uma área preservada de Mata Atlântica, começou a ser construído por módulos ainda no século XIX, servindo de alojamento para padres jesuítas e até como casa do reitor da universidade. Após uma ampla reforma — ao custo de R$ 9 milhões, levantados com empresas e doadores individuais —, o espaço servirá de sede para as atividades do Cebri pelos próximos 20 anos.
Amplo casarão tem dois mil metros quadrados e fica situado em meio a uma área preservada de Mata Atlântica
Hermes de Paula
— Temos um terreno de 7 mil metros quadrados, um jardim de Burle Marx, com um parque de esculturas. Tem uma capela que o grande artista Vik Muniz vai fazer um trabalho pró-bono, que certamente será uma atração turística para o Rio de Janeiro. E, agora, teremos um espaço para ter atividades, auditório, almoços de grande porte — contou Pio Borges em entrevista ao GLOBO.
O espaço foi pensado como um catalisador para os objetivos do centro de estudos, de pensar e dialogar sobre a inserção do Brasil no contexto global, disseminar conhecimento e influenciar a formulação de políticas públicas para o desenvolvimento nacional.
— Hoje, você tem claramente um mundo multipolar que interessa ao Brasil. A construção de um mundo multipolar em que você se relacione não só com seus parceiros tradicionais ocidentais, Estados Unidos, Europa e a própria América do Sul, mas também com os novos parceiros que já emergiram e estão cada vez mais importantes no nosso relacionamento, como China, Índia, Coreia, Sudeste Asiático, Oriente Médio. Então, é um novo mundo que desperta em nós uma necessidade, uma curiosidade intelectual muito grande de conhecer melhor, para não perdermos a oportunidade de surfar essa onda — acrescentou o presidente.
A estrutura da nova sede conta com auditório com capacidade para 100 pessoas, espaços adaptáveis para reuniões e mesas-redondas e área de trabalho para mais de 50 funcionários. Uma nova ampliação, com conclusão prevista para 2027, pretende criar 20 quartos para acomodar pesquisadores visitantes — uma capacidade alinhada com os planos de internacionalização do Cebri.
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— O Cebri cresceu muito, sobretudo nos últimos três anos com três eventos. Tivemos uma movimentação muito intensa no G20, onde ordenamos atividades de 115 think tanks no mundo inteiro. Teve a presidência do Brasil do Brics [bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Irã, Emirados Árabes, Etiópia e Indonésia], que também gerou uma série de atividades internacionais. Nós tivemos uma projeção muito grande. E esse ano a COP30.
Espaço foi pensado como um catalisador para os objetivos do centro de estudos
Hermes de Paula
Além da proximidade com o campus da PUC, outras instituições dedicadas ao conhecimento também estão nos arredores da nova sede, como o Jardim Botânico e o Instituto Moreira Salles, abrindo uma possibilidade de diálogo e colaboração por proximidade. A presença das instituições faz parte de um projeto Gávea do Rio, da universidade católica, com objetivo de reunir instituições ligadas à produção científica, cultural e de políticas públicas em um perímetro de pouco mais de 2,5 quilômetros quadrados.
Relação do Brasil com China e EUA
O Centro Brasileiro de Relações Internacionais foi fundado por um grupo de diplomatas e empresários, com o objetivo de debater temas de interesse nacional e que estão pautados na agenda internacional. Entre seus fundadores estão os ex-chanceleres Luiz Felipe Lampreia e Celso Lafer. Atualmente, o think tank se foca na promoção de espaços de diálogo entre a academia, o setor produtivo, o setor público e a sociedade civil, discutindo temas de grande relevância no debate contemporâneo.
— O mundo é completamente diferente. Quando o Cebri foi criado, nós tínhamos três focos principais: a relação com os Estados Unidos, a negociação com o Organismo Multilateral de Comércio e o Mercosul, que estava ainda na fase de desenvolvimento. Não se falava de China, de Ásia, de nada disso. O mundo era outro. Agora, é um novo mundo. Tem um livro que eu gosto muito, do Parag Khanna, chamado "The Future Is Asian" (O futuro é asiático, em tradução livre). Ou seja, nós estamos vivendo um século de emergência da Ásia. Esse novo mundo gera, de um lado, promessas, de outro lado, eventuais ameaças — analisou Pio Borges.
Um dos maiores focos do Cebri, além da questão da transição energética e climática, giram em torno das relações Brasil-China e Brasil-Estados Unidos, que passaram por período de turbulência no primeiro ano deste segundo governo de Donald Trump.
— Criou-se um relacionamento já do presidente Trump com o presidente Lula. Então, acho que é um problema (a relação recente entre Brasil e EUA, com as tarifas impostas por Trump) que está minorado. Trump, após um encontro rápido com o Lula nas Nações Unidas, expressou gostar do presidente brasileiro, o que levou a uma mudança de cenário. A diplomacia brasileira, com a ação do setor privado e a sensibilidade de Trump a isso, conseguiu resultados surpreendentes — afirmou ao GLOBO.
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Pio Borges afirma ainda que, desde sua criação, o Cebri tinha como objetivo central promover a integração internacional do Brasil.
— Há 30 anos, meio ambiente não era um tema de política externa. Hoje, clima e meio ambiente invadiram completamente a prioridade dos temas de política externa, assim como a questão da transição energética. O Brasil está na frente disso em termos de percentual de renováveis — disse.
Uma outra atividade fundamental da instituição é a organização de debates sobre temas polêmicos, como a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Esses eventos têm ocorrido também em São Paulo, em Brasília, e, durante a COP30, em Belém. Neste ano de 2025, o Cebri participou da Semana do Clima em Nova York e também em Londres e foi ativo na criação da da Cepas, Rede de Centros de Pensamento das Américas, aprofundando o diálogo regional.
— Nós estamos fazendo um esforço muito grande de ter mais atividades fora do Rio. Em São Paulo tivemos uma reunião recentemente com o Celso Amorim (assessor especial para assuntos internacionais do Palácio do Planalto), depois uma reunião com Michel Temer (ex-presidente) e temos planejado uma reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin. Mas a nossa origem foi no Rio de Janeiro e continua a ser — concluiu.
