Campeã mundial no boxe, Rebeca Lima segue passos de Bia Ferreira e revela desejo de ganhar medalha na próxima Olimpíada

 

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Aos 25 anos, Rebeca Lima sabe que sua hora chegou. Recém-coroada campeã mundial de boxe amador na categoria até 60kg, no último domingo, em Liverpool, ela assume o posto deixado por Bia Ferreira, que migrou para o profissional após duas medalhas olímpicas.

— Antes, era sonho. Hoje, é meta — diz Rebeca, ao lembrar a menina que, ainda na Maré, favela da Zona Norte do Rio de Janeiro, só queria estar em uma Olimpíada, não importava em qual esporte. Foi a primeira da família a tirar passaporte, e já transformou viagens e conquistas em realidade. A ambição é clara: chegar a Los Angeles-2028 para lutar por uma medalha.

Início aos 14 anos

O boxe não foi a primeira escolha de Rebeca. Na infância, experimentou diversas modalidades na ONG Luta Pela Paz, mas foi aos 14 anos que entrou no ringue pela primeira vez para lutar. Em 2017, conquistou o título brasileiro; no ano seguinte, faturou o bronze no Mundial Juvenil de Budapeste, a primeira medalha de uma brasileira na categoria. A partir dali, a carreira decolou: campeã nacional por cinco anos consecutivos e agora ouro na elite.

— Quando olho para trás, aqueles sonhos parecem bobos, mas não eram. Vindo de onde vim, conquistar cada etapa foi muito significativo. Essa medalha trouxe o palpável. É desse patamar pra cima, não tem como voltar para trás — afirma a atleta, que também é 3º sargento do Exército, dentro do programa de alto rendimento das Forças Armadas.

Nos dois últimos ciclos, o sonho olímpico encontrou uma barreira de peso: Bia Ferreira. Para Tóquio-2020, Rebeca baixou de peso em busca da vaga. Na disputa acirradíssima com Jucielen Romeu, nos 57kg, levou a pior. Retornou à categoria de origem e esperou sua vez. Para 2024, sequer teve seletiva nos 60kg.

Mas ela esteve em Paris, participando do programa vivência olímpica do COB, em que jovens atletas promissores são convidados para ver de perto o ambiente. Lá, pôde viver os Jogos Olímpicos sem a pressão por medalha e receber dicas preciosas de campeões, como Virna, do vôlei.

— Demorei um mês para encontrar palavras para explicar o que vivi lá. Pude circular na vila, assistir outras modalidades, sentir a torcida. Vi como alguns atletas usavam a pressão a favor e outros se desconcentravam. Foi um aprendizado enorme, que me deu mais confiança — relembra.

Em Paris, ela acompanhou o último ciclo de Bia e ajudou na preparação como sparring. Quem pensa que a relação entre as duas é de rivalidade, está enganado. Herdeira natural da medalhista olímpica, até hoje Rebeca manda mensagem pedindo dicas sobre as adversárias. Bia é sua grande referência.

— Sabia que uma hora tinha que estar preparada para assumir, fui maturando — conta Rebeca, que desde o início do ano mora em São Paulo, onde treina com a seleção.

Pura estratégia

Miriam Parga, técnica da seleção brasileira de base e parceira de treinos no projeto Luta Pela Paz, na Maré, define a maior virtude da pupila: a estratégia:

—Ela faz listas com os nomes das adversárias da Bia. Cada vez que vence uma delas, risca o nome. É assim que ela se prepara: estuda, observa e entra no ringue já sabendo o que fazer.

Esse método ficou claro no Mundial. Rebeca havia perdido para Viktoriya Grafeyeva e para a polonesa Aneta Rygielska. Mas ao reencontrá-las, na semifinal e na final, mostrou um plano de luta totalmente novo, surpreendendo as rivais e conquistando o título.

Os próximos passos estão definidos: Sul-Americano, em 2026, o Pan-Americano de Lima, em 2027, que dá vaga direta aos Jogos de 2028, e a sonhada final olímpica em Los Angeles.