Bloqueio atmosférico: entenda como o enfraquecimento do fenômeno pode causar temporais no início do ano

 

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O “calorão” que o Sudeste brasileiro tem sofrido na pele — e que vem lotando o litoral — nos últimos dias do ano tem explicação em uma combinação de fenômenos climáticos, incluindo um bloqueio atmosférico com ar seco sobre a região, especialmente Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. O arrefecimento deste fenômeno, por outro lado, pode ser responsável por causar temporais no início de 2026, explicam meteorologistas ouvidos pelo GLOBO.

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Nas próximas semanas, o clima deve entrar em “neutralidade”, quando não há anomalias acentuadas e as temperaturas e chuvas ocorrem conforme o previsto para cada estação. Por isso, os próximos dias deverão ser de calor e pancadas de chuva, em um cenário típico de verão. Essa é a previsão para a virada de ano nas principais capitais do Sudeste.

— Significa que a gente tende a ter as características da estação do ano: o verão é quente, tem umidade e pancadas de chuva, principalmente à tarde — diz a meteorologista Andrea Ramos.

Embora usuais para a estação, as características levam a um cenário de risco. A meteorologista Estael Sias, da MetSul, detalha a transição:

— Com o ar quente e recordes de calor, a tendência é de a chuva encontrar o ar quente e formar temporais. Então, acredito que a gente tenha um regime de chuva, a partir de agora, gradativamente nos próximos dias, em São Paulo.

Calor persiste

Uma onda de calor é definida quando a temperatura fica pelo menos cinco graus acima de sua média histórica por pelo menos três dias seguidos. O fenômeno vem acontecendo, em boa parte do país, desde o último dia 23.

Os motivos para o "calorão"

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Especialistas explicam que em dezembro o Sudeste costuma viver o auge de sua estação chuvosa, e as pancadas de chuva frequentes funcionam como moderador térmico, impedindo que o sol aqueça a superfície de forma contínua. Este ano, no entanto, o bloqueio atmosférico rompeu o padrão, atuando como uma espécie de “tampa” invisível na atmosfera. Em suas “bordas”, pode chover, mas em seu centro, o ar seco desce para a superfície, dissipa as nuvens e impede a entrada de frentes frias. O resultado é radiação solar incidindo diretamente sobre o asfalto e o concreto, elevando as temperaturas.

O meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal do Alagoas, explica que uma grande massa de ar seco no Golfo do México formou um bloqueio na altura da Linha do Equador. Isso aumentou a umidade na Amazônia e a intensidade dos “rios voadores”, que carregam esse vapor d’água para o Centro-Sul do Brasil. O resultado foi o aquecimento da troposfera (camada mais baixa da atmosfera). Mas, no Sudeste, o bloqueio atmosférico próximo à costa manteve o calor “armazenado”, sem chuva.

— Esse calor armazenado dá essa sensação de abafado — diz Barbosa.

A meteorologista Andrea Ramos, por sua vez, destaca que as mudanças climáticas aumentam a intensidade e a frequência de eventos extremos, como as ondas de calor. Mesmo sem previsão de bater o recorde de 2024, ano mais quente da história, o calor deve seguir em patamares acima da média histórica.

— A gente está na era dos extremos, cada vez mais teremos ondas de calor, de frio, incêndios e chuvas de forma mais intensa. Essa continua a tendência. Janeiro no Brasil teremos temperaturas acima da média, principalmente na parte central. E mais chuvas no Rio Grande do Sul — diz.

Os modelos do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) confirmam a previsão de um janeiro quente. O mapa de anomalias climáticas previstas indica calor acima da média no Centro-Oeste, em Minas, São Paulo, interior da Bahia e outras regiões do Nordeste e Sul do país.