Bem antes do plástico: copos descartáveis de 3.500 anos revelam que cultura do 'uso único' nasceu antes da era moderna
Os copos descartáveis podem parecer um símbolo moderno de consumo e praticidade, mas sua origem remonta a 3.500 anos atrás. Escavações arqueológicas na ilha grega de Creta revelaram milhares de recipientes de barro usados apenas uma vez, o que sugere que a civilização minoica — uma das mais avançadas da Idade do Bronze — já adotava o conceito de “uso único”. As descobertas foram divulgadas por veículos da imprensa e um desses copos está exibido ao lado de um modelo de papel da década de 1990 no Museu Britânico, em Londres.
De acordo com o The Guardian, os pesquisadores acreditam que os minoicos usavam esses copos em banquetes e celebrações regadas a vinho. Segundo Julia Farley, curadora do Museu Britânico, o achado oferece uma reflexão curiosa e incômoda: “Assim como nós, eles não queriam lavar a louça”. Para ela, o comportamento mostra como a busca pela praticidade é um traço persistente na história humana — ainda que, hoje, esse costume esteja associado a uma escala de produção e consumo que ameaça o meio ambiente.
Um hábito antigo, um dilema atual
Julia Farley destacou que a exposição pretende levar o público a repensar a própria rotina. “As pessoas podem ficar muito surpresas ao saber que os copos descartáveis não são uma invenção da sociedade moderna, mas algo que remonta a milhares de anos”, afirmou. “A diferença está na escala: hoje produzimos mais de 300 bilhões de copos de papel descartáveis por ano.”
Nos tempos minoicos, as festas e os banquetes eram demonstrações de poder e prosperidade. “A elite ostentava sua riqueza e status ao promover esses eventos”, explicou Farley. E, ao que parece, o descarte dos copos também carregava um significado social. Jogar fora um utensílio após o uso indicava fartura — um luxo acessível apenas aos mais abastados.
O comportamento, embora moldado por contextos diferentes, revela um traço comum entre passado e presente: a associação entre consumo e prestígio. “Além de ser conveniente, a xícara era uma forma de ostentar riqueza por causa de todos os recursos investidos em sua fabricação”, completou a curadora.
Reflexo da natureza humana
Para Julia Farley, os copos minoicos de barro reforçam uma verdade desconfortável: “Os seres humanos sempre produziram lixo. É um subproduto inevitável da nossa existência”. Ela observa, no entanto, que o problema atual está no volume e nos materiais empregados. “Hoje, fazemos o que sempre fizemos, mas em uma escala sem precedentes, com materiais que levarão séculos para se decompor.”
A exposição no Museu Britânico reúne, além dos antigos copos de Creta, objetos que contrastam passado e presente — como uma cesta de pesca feita de plástico e imagens que retratam a poluição dos oceanos. O objetivo é mostrar que, embora a praticidade tenha sido um desejo constante ao longo da história, a diferença agora está nas consequências ambientais.
A descoberta dos copos minoicos não apenas amplia o entendimento sobre uma das civilizações mais sofisticadas da Antiguidade, mas também lança luz sobre um dilema atual: a dificuldade humana em equilibrar conforto e responsabilidade ambiental. Afinal, como observa Farley, “o que mudou não foi o hábito — foi o impacto”.
