Autoridades militares dos EUA chegam a Kiev, enquanto a Europa rejeita acordo de paz pró-Rússia

 

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Uma delegação de militares americanos chefiada pelo secretário do Exército dos EUA, Dan Driscoll, participa de uma série de reuniões de alto-perfil em Kiev, nesta quinta-feira, para discutir o fim da guerra no Leste Europeu. O avanço diplomático de Washington ocorre em meio às informações de que o país estaria trabalhando reservadamente com a Rússia para definir termos de um acordo, que incluiria cessão territorial por parte da Ucrânia. Aliados da Ucrânia na União Europeia afirmaram nesta quinta-feira que tanto Kiev quanto Bruxelas precisam ser incluídas em qualquer plano de paz no Leste Europeu.

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Driscoll conversou diretamente com a primeira-ministra ucraniana, Yulia Svyrydenko, na manhã desta quinta-feira. Uma reunião também deve acontecer entre o americano — um ex-colega de turma do vice-presidente JD Vance — com o presidente Volodymyr Zelensky, que retorna ao país após cumprir uma intensa agenda diplomática na Europa, em que garantiu compromissos no campo bélico, e acenos diplomáticos.

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Em meio aos relatos das tratativas diretas com os russos nos bastidores — algo que o Kremlin não confirmou oficialmente —, Trump optou por enviar uma delegação militar, chefiada pelo secretário do Exército americano, Dan Driscoll, para retomar conversas de paz com o lado ucraniano. Em uma reportagem publicada na terça-feira, o jornal Wall Street Journal citou fontes anônimas, que apontaram que a escolha foi motivada pela frustração com a falta de resultados anteriores, e pelo entendimento de que as partes poderiam engajar mais em uma negociação liderada por militares.

O formato discutido, similar ao adotado entre Israel e Hamas no Oriente Médio, incluiria uma lista de 28 pontos a serem implementados. Os planos contariam com a aprovação de Trump, e atenderia a algumas das principais reivindicações russas. Uma fonte ouvida pela AFP afirmou que o plano prevê o reconhecimento da Crimeia e de outras regiões ocupadas pela Rússia, como Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporíjia. Também obrigaria a Ucrânia a reduzir o próprio Exército para um número máximo de 400 mil soldados. Kiev também teria de abrir mão de armas de longo alcance.

As negociações secretas entre Washington e Moscou foram inicialmente abordadas em uma reportagem do portal americano Axios. Não ficaram claras as contrapartidas russas. Entre os aliados europeus, as reações aos planos foram de insatisfação.

— Para que qualquer plano funcione, é preciso que ucranianos e europeus estejam a bordo — disse a ministra das Relações Exteriores da UE, Kaja Kallas, antes de uma reunião de ministros em Bruxelas — Temos que entender que, nesta guerra, há um agressor e uma vítima. Portanto, não ouvimos falar de nenhuma concessão por parte da Rússia.

allas, responsável por representar a UE, fez um aceno à via diplomática, ao apontar que o bloco acolhe "com satisfação" todo esforço no sentido de encerrar à guerra, mas que um acordo teria que ser "justo e duradouro". Ministros de países do bloco também fizeram críticas. O chanceler francês, Jean-Noël Barrot, insistiu que a paz na Ucrânia não poderia significar "capitulação" para Kiev, e defendeu que um cessar-fogo na linha de contato se faz necessário para que se avance para um período de "discussões ordenadas sobre questão dos territórios e da segurança". A posição foi acompanhada pela representação da Alemanha.

O Ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, ouve a ministra das Relações Exteriores da UE, Kaja Kallas, durante uma mesa-redonda no âmbito da reunião do Conselho de Assuntos Externos

Nicolas Tucat/AFP

O ministro polonês Radoslaw Sikorski afirmou que seria errado limitar o tamanho das forças que a Ucrânia poderia usar para se defender, enquanto o ministro da Lituânia Kestutis Budrys disse que o respeito à integridade territorial de Kiev continua sendo fundamental.

No campo de batalha, os ucranianos enfrentam um momento delicado. A Rússia conquistou avanços no sudeste do país e parece chegar à fase final do cerco à cidade estratégica de Pokrovsk, no leste. A campanha aérea também se intensificou, sobretudo contra alvos estratégicos do setor energético, que representa uma preocupação dobrada com a aproximação do inverno no Hemisfério norte. Alvos civis também têm sido atingidos com frequência, como no ataque massivo lançado na quarta por Moscou, que vitimou 26 pessoas na cidade de Ternopil, incluindo três crianças. Zelensky afirmou que equipes de resgate ainda buscavam por 22 desaparecidos.

Além da pressão militar, o governo ucraniano também tenta lidar com um escândalo de corrupção que forçou a demissão de ministros — que analistas apontam ter diminuído a capacidade de Zelensky de aprovar sua agenda de guerra no Parlamento.

Em busca de diplomacia, o presidente ucraniano viajou na quarta-feira a Ancara, onde se reuniu com o líder turco, Recep Tayyip Erdogan. Ambos acenaram com o interesse de que novas rodadas negociais fossem sediadas por Istambul, com Erdogan — que tem proximidade com o presidente russo, Vladimir Putin — fazendo um apelo por uma "abordagem construtiva" entre todas as partes para encerrar o que chamou de "derramamento de sangue". Zelensky, por sua vez, declarou que esperava retomar as trocas de prisioneiros com a Rússia até o fim deste ano — nesta quinta, as autoridade ucranianas confirmaram ter recebido de volta os restos mortais de mil combatentes. (Com AFP e NYT)