Até o chihuahua entrou na história: estudo nos EUA revela quanto de lobo existe nas raças de cães
Será que aquele cão minúsculo que cruza a calçada também guarda um traço selvagem? Um novo estudo de cientistas americanos sugere que sim. Quase 64% das raças modernas apresentam alguma quantidade detectável de DNA de lobo — não herança ancestral distante, mas fruto de cruzamentos ocorridos nos últimos milhares de anos.
Entenda: Maioria dos cachorros ainda carrega DNA de lobo (até os mais fofinhos), revela estudo
As conclusões, divulgada, nesta segunda-feira (25), por pesquisadores do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian e do Museu Americano de História Natural, reacendem o debate sobre como cães e lobos continuaram a interagir muito além da domesticação iniciada há cerca de 20 mil anos.
Entenda o novo estudo
A equipe analisou milhares de genomas de cães e lobos disponíveis em bancos públicos. O levantamento apontou que até mesmo chihuahuas carregam cerca de 0,2% de DNA lupino.
“Antes deste estudo, a ciência mais avançada parecia sugerir que, para um cão ser considerado um cão, não poderia haver muito DNA de lobo presente, se é que haveria algum”, afirmou a autora principal, Audrey Lin. O coautor Logan Kistler reforçou que isso não indica encontros frequentes, mas episódios raros com consequências duradouras.
Os cães-lobos checoslovacos e de Saarloos lideraram com até 40% de DNA de lobo. Entre as raças de estimação, o Grand Anglo-Français Tricolore ficou no topo, com cerca de 5%.
Raças de caça à vista, como Saluki e Afegão, também registraram índices elevados. Já o tamanho não é determinante: São Bernardos, por exemplo, não apresentaram ascendência significativa.
O estudo mostrou ainda que 100% dos “cães de aldeia” — que vivem próximos a comunidades humanas, mas sem tutores — carregam herança de lobo. Os autores sugerem que eles podem funcionar como porta de entrada contemporânea para essa mistura genética.
Influências no comportamento
Os pesquisadores compararam os dados genéticos com descrições de temperamento usadas por clubes de criadores. Raças com pouca ascendência de lobo tendem a ser vistas como amigáveis e fáceis de treinar.
Já aquelas com maior porcentagem de DNA lupino são descritas com mais frequência como independentes, territoriais ou desconfiadas de estranhos. Kistler alertou, porém, que essas categorias não definem o comportamento individual.
“Os lobos evoluíram para habitats específicos, enquanto os cães foram levados a todos os cantos do mundo habitado pelos humanos”, explicou.
Alguns traços genéticos parecem oferecer vantagens. Raças tibetanas, como o Lhasa Apso, carregam o gene EPAS1, ligado à adaptação a grandes altitudes — o mesmo presente em lobos da região.
Publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, o estudo sugere que mudanças ambientais, como a fragmentação de habitats, podem ter aproximado lobas isoladas de cães vadios.
Essa interação, segundo os autores, ajudaria a explicar como parte da diversidade canina atual recebeu contribuições recentes do genoma dos lobos.
