Articulação de Motta por PL da Dosimetria faz relação com Planalto chegar ao ponto mais baixo desde o início do mandato de Lula

 

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A aprovação do projeto de lei da Dosimetria, que reduz penas para envolvidos em atos golpistas e beneficia o ex-presidente Jair Bolsonaro, provocou uma crise na relação do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), com o governo. O episódio é considerado como um ponto de virada e o nível mais baixo atingido no diálogo entre Câmara e Palácio do Planalto desde quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o mandato.

Líderes governistas dizem que, até na comparação com o ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL), que tinha uma relação de desconfiança mútua com o governo, a decisão de Motta representou um rebaixamento no diálogo com o Planalto. Integrantes da articulação política reclamaram, por exemplo, que Lira pelo menos avisava a governistas quando pautava temas duros para o Poder Executivo.

Há queixas de que Motta trouxe o tema de surpresa, sem buscar nenhum entendimento com o governo. É citado o fato de que o presidente da Câmara se reuniu na véspera com a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) e que em nenhum momento indicou que pautaria o PL da Dosimetria.

Aliados do governo dizem que é preciso ver o texto que sairá do Senado, mas falam em tendência de que Lula vete o projeto.

Durante a votação em plenário, a ministra das Relações Institucionais ficou em contato com Guimarães para tentar saber o clima e a possibilidade de o tema ser mesmo votado.

A base do governo tentou até o final um acordo para adiar a votação. Guimarães e os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Renildo Calheiros (PCdoB-PE) tentaram ser recebidos por Motta para uma conversa em seu gabinete. Os parlamentares não conseguiram e então procuraram Lira. Logo em seguida, foram ao encontro de Motta na Mesa da Câmara enquanto ele presidia a sessão.

Na conversa de Motta foi tentado um acordo para ganhar tempo, com pedidos para que outros projetos fossem colocados na frente da Dosimetria. Apesar disso, o projeto foi votado mesmo assim e o governo foi derrotado.

Antes da votação, houve a retirada à força do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) da cadeira da Presidência da Câmara. Isso desencadeou um movimento imediato de parlamentares governistas contra Motta, acusado de perder as condições de seguir no comando da Casa.

Sob ameaça de cassação por quebra de decoro, Glauber ocupou a cadeira da Presidência por cerca de uma hora. A Polícia Legislativa foi chamada e o retirou à força, em meio a tumulto e relatos de agressões a parlamentares.

Em seguida, a Mesa restringiu o acesso ao plenário, expulsando jornalistas e assessores, o que inflamou ainda mais o clima.

Mais tarde, quando a sessão foi retomada. Parlamentares da base fizeram discursos duros, com críticas públicas inéditas.

Um dos que falaram foi o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ):

— Vossa excelência está perdendo as condições de seguir na presidência dessa Casa.