Após quase duas décadas escondido, padre é detido e pode pegar até 30 anos de prisão por abuso sexual na Bolívia

 

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No final de setembro, a polícia uruguaia chegou à residência da família Sant’Anna Trindade, em Salto, cidade às margens do rio Uruguai, em frente à argentina Concordia, e encontrou o ex-padre Juan José cuidando do jardim. Os agentes pediram que ele os acompanhasse à delegacia, prometendo um procedimento simples para evitar comoção em um bairro acostumado à tranquilidade.

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O episódio ocorreu um mês após o jornal uruguaio El País publicar uma investigação que reavivou acusações de abuso sexual na Bolívia, onde Sant’Anna liderava uma comunidade religiosa. A jornalista Mariangel Solomita localizou o ex-padre, que vivia em Salto há 17 anos em relativo anonimato.

Justiça uruguaia analisa extradição e risco de longa pena

Em 2005, aos 36 anos, Sant’Anna foi ordenado sacerdote em Tapacarí, cidade próxima a Cochabamba, e assumiu a ala masculina do internato Ángel Gelmi, abrigando 72 meninos entre 8 e 17 anos. A partir de 27 de outubro de 2007, as autoridades bolivianas iniciaram investigações sobre uma série de abusos que ele teria cometido. Relatórios psicológicos confirmaram que o ex-padre abusou sexualmente de menores por longos períodos, chegando a utilizar narcóticos para sedá-los.

Segundo relatos, crianças eram levadas ao quarto de Sant’Anna sob pretexto de assistir a vídeos. Lá, ele trancava a porta e cometia atos de abuso sexual. Uma freira registrou casos em que os meninos choravam ao relatar os episódios, enquanto um adolescente chegou a fugir do banheiro durante uma tentativa de estupro.

Sant’Anna fugiu para o Uruguai em 2007, escondendo-se na casa de seus pais por 17 anos. O primeiro mandado de prisão foi expedido em 16 de novembro daquele ano, seguido por um segundo no ano seguinte, mas ambos não foram cumpridos. Em 2011, o Vaticano enviou ordem de renúncia ao ex-padre.

Atualmente, a justiça uruguaia analisa o pedido de extradição feito pela Bolívia, que pode resultar em pena de até 30 anos. Enquanto isso, Sant’Anna, de 54 anos, permanece detido. A Comunidade Boliviana de Sobreviventes, formada por vítimas de abuso infantil cometido por figuras religiosas, acompanha de perto o caso, solicitando a aplicação da pena máxima prevista para crimes com agravantes.