Após cessar-fogo, organizações internacionais de mídia voltam a exigir acesso imediato de jornalistas a Gaza
Organizações de jornalistas internacionais intensificaram demandas para que repórteres tenham acesso à Faixa de Gaza, logo após a implementação da primeira fase do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas. A Associação de Imprensa Estrangeira (FPA, na sigla em inglês) divulgou, na última sexta-feira, um comunicado no qual instou Israel a “abrir imediatamente as fronteiras e permitir o acesso livre e independente da mídia internacional à Faixa de Gaza”, agora que as hostilidades cessaram. Em paralelo, o Repórteres Sem Fronteiras (RSF), além de reforçar que o acordo não conseguiu acabar com o bloqueio midiático no enclave, pediu justiça pelos quase 220 jornalistas que morreram desde o início da guerra.
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Desde 7 de outubro de 2023, Israel impede que jornalistas estrangeiros entrem em Gaza para cobrir a guerra. Os poucos casos autorizados ocorrem sob supervisão militar e com visitas guiadas pelas Forças Armadas de Israel (IDF, na sigla em inglês). Com isso, a mídia internacional passou a depender do trabalho de jornalistas palestinos e de informações de civis, profissionais de saúde e agências humanitárias locais para reportar os acontecimentos.
A FPA informou que a Suprema Corte israelense deve realizar, em 23 de outubro, uma audiência sobre o pedido de liberação de entrada da imprensa em Gaza — “após mais de um ano em que o Estado foi autorizado a adiar sua resposta”. “Essas demandas foram ignoradas repetidamente enquanto nossos colegas palestinos arriscaram suas vidas para oferecer uma cobertura incansável e corajosa”, afirmou a organização. “As restrições à liberdade de imprensa devem terminar”.
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De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), 25 jornalistas dos mais de 200 que morreram em Gaza foram assassinados propositalmente. Israel, por sua vez, nega que tenha alvejados deliberadamente jornalistas. Ainda assim, admitiu ter causado mortes de repórteres em alguns casos, atribuindo-os a ações militares.
De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), 25 dos mais de 200 profissionais mortos em Gaza foram assassinados propositalmente. Israel nega ter alvejado jornalistas deliberadamente, mas admite ter causado mortes em algumas operações militares. Entre os casos reconhecidos pelo Exército está o do jornalista Anas al-Sharif, da Al Jazeera, descrito pelas IDF — sem apresentação de provas — como “chefe de uma célula terrorista”. Já entre os casos recentes estão Mariam Dagga, que trabalhava para a Associated Press e Independent Arabia, morta em 25 de agosto durante um ataque israelense ao hospital Nasser, em Khan Younis, e o jornalista da Reuters Hussam al-Masri, que também morreu no mesmo bombardeio.
Em comunicado, o RSF destacou que o acordo de cessar-fogo não menciona a autorização para a entrada de jornalistas estrangeiros nem para a evacuação de profissionais locais. "O alívio de um cessar-fogo em Gaza não deve desviar a atenção da absoluta urgência da situação catastrófica que os jornalistas enfrentam no território. Os repórteres que ainda estão vivos em Gaza precisam de cuidados, equipamentos e apoio imediatos. Eles também precisam de justiça. A RSF conta com o Tribunal Penal Internacional (TPI) para agir", afirmou Jonathan Dagher, chefe do Escritório do Oriente Médio da RSF, em comunicado.
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A FPA e o RSF juntam-se a inúmeras organizações internacionais que exigiram acesso à imprensa ao longo dos dois anos de guerra. Em julho, grandes agências de notícias, incluindo AFP, AP, BBC e Reuters, divulgaram uma declaração conjunta enfatizando a importância do acesso da mídia internacional para a precisão das reportagens. Na ocasião, o CPJ e mais de 70 organizações de mídia e da sociedade civil instaram Israel a conceder acesso independente a jornalistas internacionais.
Em fevereiro do ano passado, mais de 30 veículos internacionais, incluindo o jornal britânico Guardian, assinaram uma carta exigindo proteção para jornalistas de Gaza.
