Após 200 anos de boatos, estudo com DNA revela o destino do filho perdido de Maria Antonieta; entenda

 

Fonte:


A história de Luís Carlos de Bourbon, nascido em Versalhes em 27 de março de 1785, foi marcada desde o primeiro dia pela iminente derrocada da monarquia francesa. Filho de Luís XVI e Maria Antonieta, ele cresceu em um país em ebulição, às vésperas de uma revolução que mudaria para sempre o seu destino e o de toda a sua família. Após a insurreição de 10 de agosto de 1792, o jovem foi preso com seus pais e irmãos no Templo, uma fortaleza medieval convertida em prisão. Lá permaneceu até janeiro de 1793, quando seu pai foi executado na guilhotina.

Segundo a IA, quem é o melhor ator da história? Tecnologia aponta nomes que moldaram o cinema mundial; imagens

Os monarquistas no exílio o declararam automaticamente rei sob o nome de Luís XVII, embora tivesse apenas sete anos. Sua figura ganhou relevância política em meio à guerra entre França, Áustria e Prússia, o que levou o governo revolucionário a isolá-lo ainda mais. Em 3 de julho de 1793, ele foi separado de sua mãe e colocado sob a guarda de Antoine Simon, um sapateiro encarregado de sua “reeducação”. Maria Antonieta seria executada meses depois, em 16 de outubro daquele ano, sem que o filho soubesse de seu destino.

A partir de 1794, Luís Carlos voltou a ser confinado em uma cela no Templo, em condições precárias que deterioraram sua saúde rapidamente. Nesse período, surgiu um enigma que persistiria por mais de dois séculos: o que teria acontecido com o herdeiro do trono francês?

Relatos indicavam que alguém teria entrado secretamente na prisão, enganado os guardas, substituído a criança e fugido. A história ganhou tanta força que, no século XIX, dezenas de homens reivindicaram ser o verdadeiro Luís XVII ou seus descendentes. Romances chegaram a retratar o chamado “rei perdido”.

O coração que guardava a resposta

O mistério só começou a ser esclarecido em 2000, quando um grupo de cientistas decidiu recorrer a técnicas modernas de DNA. A chave estava em um objeto singular: o coração do menino, removido durante a autópsia conduzida pelo médico Philippe-Jean Pelletan após sua morte.

O órgão, ressecado pelo tempo, foi alvo de roubos, perdas e trocas ao longo de dois séculos, até ser preservado na Basílica de Saint-Denis. De lá, pesquisadores das universidades de Leuven (Bélgica) e Münster (Alemanha), liderados pelo geneticista Jean-Jacques Cassiman, iniciaram a análise.

O trabalho não foi simples: primeiro, foi necessário cortar o coração ao meio para extrair o DNA. Depois veio a etapa mais delicada — encontrar material genético confiável de Maria Antonieta que permitisse confirmar a identidade do menino.

Como os cientistas encontraram o DNA de Maria Antonieta?

A descoberta decisiva veio de um colar que pertenceu à mãe da rainha, a imperatriz Maria Teresa da Áustria. O objeto continha dezesseis medalhões com mechas de cabelo de cada um de seus filhos, incluindo a futura rainha da França. Ainda assim, os especialistas buscaram reforçar o resultado e solicitaram outra amostra genética da linhagem materna.

Foi então que recorreram a descendentes diretos da imperatriz — à época, a Rainha da Romênia e seu irmão — que forneceram amostras de sangue. Os testes comparativos foram conclusivos: o DNA do coração preservado em Saint-Denis coincidia exatamente com a linhagem materna de Maria Antonieta.

A análise confirmou que Luís Carlos nunca fugiu nem foi substituído. Ele morreu na prisão aos dez anos, vítima de negligência, doença e isolamento. Com o enigma solucionado, o Ministério da Cultura francês autorizou, em 2004, um sepultamento simbólico na Basílica de Saint-Denis, o panteão dos reis da França, onde o menino finalmente pôde se reunir com sua família.