Apenas um a cada oito municípios tem plano de adaptação climática, mostra relatório da Transparência Internacional

 

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Em um cenário no qual as mudanças climáticas atingem parcelas cada vez maiores da população, os municípios brasileiros ainda estão despreparados para lidar com cataclismas como fortes chuvas, inundações e secas prolongadas, por exemplo. Um estudo publicado nesta terça-feira pela Transparência Internacional-Brasil com 12 parceiros aponta que apenas uma a cada oito cidades do país possui e divulga planos voltados especificamente para a área.

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A vulnerabilidade é o tema central do Índice de Transparência e Governança Pública (ITGP) Municipal, que avaliou o desempenho de 233 das maiores cidades brasileiras, situadas em oito estados: Bahia, Espírito Santo, Pará, Paraná, Piauí, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. O resultado mostra que somente 13% dos locais analisados contam com planos de adaptação à mudança do clima.

Estes instrumentos são responsáveis justamente por identificar eventuais pontos fracos e, com isso, definir ações para reduzir os impactos da crise climática sobre as pessoas, ecossistemas e setores econômicos. Na avaliação da Transparência Internacional-Brasil, o cenário exposto “implica fragilidade institucional para enfrentar riscos climáticos, maior vulnerabilidade da população e dificuldade de acessar recursos destinados à adaptação”.

— É urgente elaborar planos de adaptação, destinar orçamento específico para o tema e fortalecer as estruturas de Defesa Civil, com transparência e participação da sociedade. Somente assim conseguiremos reduzir os impactos das mudanças climáticas e proteger as populações mais vulneráveis — frisa Renato Morgado, gerente de programas da ONG.

Planejamento urbano

O levantamento revela desafios na gestão do planejamento urbano e territorial, orçamento público, sistema de alertas e gestão de riscos a desastres e mecanismos de participação social. Os dados mostram que somente 8,5% dos municípios analisados contam com os quatro planos fundamentais — diretor, de habitação, de saneamento básico e de resíduos sólidos — para garantir que a cidade esteja preparada para responder adequadamente às mudanças climáticas na esfera local. Outro problema detectado é orçamentário, uma vez que somente 5% dos municípios preveem recursos e metas específicas para o combate à crise do clima.

Os pesquisadores também destacam a fragilização da Defesa Civil como forma de aumento da exposição da população a riscos de desastres. Menos da metade das cidades (42%) conta com previsão orçamentária para ações de proteção. O relatório mostra ainda que 37% ainda não possuem essa destinação. Em outra frente, somente 38% têm planos de contingência, principal instrumento para o planejamento de preparação e resposta a eventos extremos.

“Diante da possibilidade de ocorrência de eventos desse tipo, é necessária também a existência e divulgação de sistemas de alertas antecipados, mecanismos que dão mais tempo para a evacuação, adoção de medidas de autoproteção e preparação de equipes de resposta. Apesar de sua relevância, apenas um em cada 3 municípios divulga informações sobre alertas antecipados”, destaca o relatório.

A pesquisa também avaliou a transparência de contratos, licitações e despesas dos órgãos ambientais e de Defesa Civil. No primeiro caso, apenas 30% dos municípios divulgam os três tipos de informação, enquanto em 62% não há qualquer informação. Na Defesa Civil, somente 19% dos municípios publicam integralmente os dados, e mais de dois terços (70%) não detalham nenhuma delas.

Veja os principais resultados:

Resultados da pesquisa

“A ausência de transparência compromete o controle social e a boa gestão dos recursos, fragilizando tanto a adaptação climática quanto a capacidade de resposta a eventos extremos”, reforça a ONG no texto.