Antes de reunião com Netanyahu, Trump afirma que 'não permitirá' que Israel anexe a Cisjordânia

 

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O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou nesta quinta-feira que “não permitirá” que Israel anexe a Cisjordânia, parcialmente controlada pelos israelenses desde 1967, e onde o ritmo de construção de assentamentos judaicos — ilegais pela lei internacional — tem aumentado nos últimos anos. A declaração, que foi antecedida por gestos e falas em conversas com outros líderes, é vista como um golpe ao governo do premier Benjamin Netanyahu, que não descartava, ao lado de aliados, planos para anexar o território palestino.

— Não permitirei que Israel anexe a Cisjordânia. Não permitirei. Não vai acontecer — afirmou Trump a repórteres na Casa Branca, antes de responder se havia conversado com o tema com Netanyahu. — Se falei com ele ou não, falei, mas não vou permitir que Israel anexe a Cisjordânia.

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Em paralelo à guerra em Gaza, Israel incrementou o ritmo de operações militares dentro da Cisjordânia — comandada pela Autoridade Nacional Palestina (ANP) — desde outubro de 2023, deixando mais de mil mortos e obrigando dezenas de milhares de palestinos a deixarem suas casas em busca de áreas mais seguras.

Além dos militares, colonos israelenses, por vezes com o apoio de soldados, protagonizam atos de violência contra civis em vilarejos e propriedades rurais. Em julho, Awdah Hathaleen, ativista e um dos produtores do documentário “Sem Chão”, vencedor do Oscar, foi morto em um vilarejo, e seu assassino,um colono, liberado pelas autoridades.

“Desde outubro de 2023, autoridades israelenses têm demonstrado uma intenção clara e consistente de estabelecer controle militar permanente sobre Gaza e mudar sua composição demográfica, ao mesmo tempo em que destroem sistematicamente a vida palestina em Gaza”, afirmou um relatório da ONU sobre a situação na Cisjordânia, publicado na terça-feira.

Também em julho, o Parlamento do país aprovou uma moção simbólica defendendo a anexação, e ministros do governo Netanyahu falam abertamente na incorporação do território ao Estado de Israel — no começo de setembro, Bezalel Smotrich, ministro das Finanças e um dos maiores defensores dos assentamentos, defendeu que Israel anexe 82% da Cisjordânia para evitar a criação de um Estado palestino. Segundo a agência Reuters, integrantes do Gabinete veem a medida como uma resposta “adequada” à decisão de vários países de reconhecer a Palestina.

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Mas Trump — que antes de assumir o cargo era visto como um potencial aliado na anexação — tem deixado claro que não é favorável à ideia. Em reunião com líderes de países árabes e de maioria muçulmana, na quarta-feira, ele afirmou que não permitiria que a Cisjordânia seja anexada.

— Alguns países deixaram bem claro ao presidente o perigo de qualquer tipo de anexação na Cisjordânia e o risco que isso representa não apenas para o potencial de paz em Gaza, mas também para qualquer paz sustentável — afirmou o chanceler saudita, Faisal bin Farhan al-Saud, citado pela rede al-Jazeera. — E estou confiante de que o presidente Trump entendeu a posição dos países árabes e muçulmanos.

No mesmo dia, em encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron, em Nova York, Trump disse que essa era uma “linha vermelha”.

— Sobre esse assunto, em termos muito claros, os europeus e os americanos estão na mesma página — disse Macron. — [Qualquer tentativa de anexar a Cisjordânia] seria o fim dos Acordos de Abraão, que foi uma das histórias de sucesso do primeiro governo Trump. Os Emirados Árabes Unidos foram muito claros sobre isso. Acho que é um limite para os EUA.

Antes de embarcar para os EUA, onde fará seu discurso na Assembleia Geral da ONU, premier israelense afirmou a seus aliados que qualquer decisão sobre a Cisjordânia precisará do aval do governo americano. Netanyahu ainda tem uma reunião marcada com Trump na Casa Branca na segunda-feira.