Antes de negociações de paz sobre a Ucrânia, Putin diz que se Europa quiser guerra contra a Rússia, 'estaremos prontos'
No momento em que enviados do presidente dos EUA, Donald Trump, estão em Moscou para negociar os termos de um acordo de paz para a Ucrânia, o líder da Rússia, Vladimir Putin, elevou o tom com a Europa: nesta terça-feira, ele disse que seu governo "não planeja entrar em guerra com a Europa, mas se a Europa entrar, estamos prontos agora mesmo".
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A jornalistas, após um evento de um banco russo, Putin destinou boa parte de sua fala a atacar as lideranças europeias. para ele, os aliados da Ucrânia estão apresentando "propostas inaceitáveis" para a guerra e que desistiram da diplomacia.
— Eles (os europeus) estão ofendidos por terem sido, por assim dizer, excluídos das negociações. Mas quero salientar que ninguém os excluiu. Eles se excluíram... Eles se retiraram deste processo — declarou o presidente russo, citado pela agência RIA. — Vendo que não gostaram do resultado de hoje, começaram a dificultar os esforços da atual administração dos EUA e do presidente Trump para alcançar a paz por meio de negociações. Eles próprios rejeitaram as negociações de paz e estão dificultando os esforços do presidente Trump. Terceiro, eles não têm uma agenda de paz. Estão do lado da guerra.
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Indo além, Putin declarou que os europeus adotaram a ideia de "infligir uma derrota estratégica à Rússia", e sugeriu que parte do continente deseja, por fim, um enfrentamento militar com Moscou.
— Não vamos entrar em guerra com a Europa , já disse isso cem vezes, mas se a Europa de repente quiser lutar conosco e começar, estamos prontos agora mesmo. Não há dúvidas sobre isso — declarou Putin. — Se a Europa de repente iniciar uma guerra com a Rússia, uma situação poderá surgir rapidamente em que não teremos com quem negociar.
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A fala de Putin veio no dia em que chegaram a Moscou os enviados especiais de Trump Steve Witkoff, principal negociador da Casa Branca, e Jared Kushner, genro e conselheiro do presidente, para alinhar a proposta apresentada há quase duas semanas para a guerra na Ucrânia.
O texto inicial, de 28 pontos, trazia posições caras a Moscou, como a cessão de territórios ocupados, seu reconhecimento internacional como parte da Federação Russa, além de limites às Forças Armadas ucranianas, o veto permanente à entrada do país na Otan e anistia a possíveis crimes de guerra. Segundo a imprensa americana, o texto foi traçado inicialmente em uma reunião em Miami que tinha Witkoff e o negociador russo Kirill Dmitriev à mesa.
A proposta foi duramente atacada pela Ucrânia, que a considerava uma forma de rendição forçada, e pelos europeus, que apresentaram uma contraproposta com termos mais favoráveis a Kiev — na conversa com os jornalistas, Putin disse que o objetivo da Europa é "culpar a Rússia pelo fracasso desse processo de paz".
— [Os europeus] estão do lado da guerra. E mesmo quando tentam fazer algumas alterações à proposta de Trump, vemos claramente: todas essas mudanças visam uma coisa só: bloquear completamente o processo de paz, apresentando exigências absolutamente inaceitáveis para a Rússia .
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Nos últimos dias, a proposta inicial da Casa Branca sofreu ajustes, passando de 28 para 19 pontos, mas há impasses difíceis de superar, como sobre a questão territorial: a Rússia quer que, além das áreas já sob seu controle, partes das regiões de Donetsk e Luhansk ainda sob controle ucraniano lhe sejam repassadas, o que a Ucrânia rejeita. O governo do presidente Volodymyr Zelensky ainda pressiona por garantias concretas contra futuras invasões, com uma hipotética força internacional de paz, o que Moscou não quer.
Não são poucos em Kiev a lembrar que a atual guerra é uma violação de um acordo firmado em 1994, o Memorando de Budapeste, pelo qual Rússia, Reino Unido e EUA se comprometiam a jamais atacar a Ucrânia, a Bielorrússia e o Cazaquistão em troca desses países entregarem aos russos seus arsenais nucleares, herdados da extinta União Soviética. Com esse retrospecto, a insistência nas garantias de segurança é encarada como uma questão existencial, e não meramente política.
Enquanto os negociadores se debruçam sobre os planos atuais, a Rússia intensifica seus ataques aéreos contra cidades ucranianas, e anunciou nesta terça-feira a tomada da cidade de Pokrovsk, no leste, considerada estratégica para o controle da área, e onde violentos combates foram travados por meses. A Ucrânia nega ter perdido o controle da cidade.
