Aneel notifica Enel e cita risco de perda de concessão após após falta de luz por conta de vendaval em SP

 

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A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) notificou oficialmente a Enel Distribuição São Paulo nesta quarta-feira (10), exigindo explicações sobre o colapso no fornecimento de energia que deixou mais de 2 milhões de clientes no escuro. A intimação ocorre após a passagem de um ciclone extratropical pela região metropolitana, cujos ventos fortes derrubaram a rede elétrica e reviveram o caos vivenciado pelos paulistanos em novembro de 2023 e outubro de 2024.

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A causa: Ciclone extratropical leva ventos de até 91 km/h a cidades paulistas

No documento endereçado ao diretor-presidente da concessionária, Guilherme Gomes Lencastre, a agência reguladora adota um tom mais severo. A Aneel ressalta que a reincidência de falhas graves na prestação do serviço desrespeita cláusulas contratuais e pode ensejar a recomendação de "caducidade da concessão", termo técnico para o cancelamento do contrato da empresa com o governo.

O ofício destaca que, às 15h desta quarta-feira, o próprio sistema da Enel apontava 2.052.401 imóveis sem luz, o equivalente a 31,81% de toda a área de concessão. Diante da magnitude do evento, a reguladora estabeleceu um prazo de 5 dias corridos para o envio de um relatório detalhado.

Perto do fim da tarde desta quarta, pelo menos 2,26 milhões imóveis da região metropolitana ainda estavam sem luz. Esse número representa 26% do total de clientes da empresa de distribuição de energia na Grande São Paulo. Apenas no município que abarca a capital, há 1,5 milhão de imóveis sem luz.

Árvore caída na Avenida Rio Branco, região central de SP, após vendaval que atinge a cidade nesta quarta (10)

Maria Isabel Oliveira/ O Globo

Entre as exigências, a Aneel cobra a apresentação da "Curva de Recomposição", um gráfico que deve detalhar o pico de interrupções e a velocidade de retomada do serviço hora a hora. A agência também questiona a efetividade do plano de contingência, solicitando provas de quando a distribuidora mobilizou suas equipes e se a estrutura operacional era compatível com os alertas meteorológicos emitidos dias antes.

A Aneel diz ainda que o evento não foi uma surpresa, visto que institutos de meteorologia e a Defesa Civil já alertavam desde o fim de semana sobre a formação do ciclone e a possibilidade de danos à rede elétrica.

O impacto da falta de luz foi mais sentido na Região Oeste da metrópole. O município de Pirapora do Bom Jesus viu seu fornecimento praticamente desaparecer, com 87% dos imóveis sem energia no início da tarde. A situação também é crítica em Cotia, com 74% de desligamentos, e Vargem Grande, com 55%.

A interrupção massiva é atribuída, principalmente, a danos físicos na rede de distribuição aérea. O Corpo de Bombeiros recebeu mais de 500 chamados relacionados ao vendaval, enquanto a Defesa Civil da capital contabilizou 57 quedas de árvores apenas entre a noite de terça e a manhã de quarta-feira.

Em comunicado, a Enel informou que sua área de concessão segue sendo afetada por fortes rajadas ainda nesta tarde e que trabalha para restabelecer a energia nos locais afetados.

"Por causa dos ventos, em alguns pontos a rede elétrica é atingida por objetos e galhos, o que prejudica o fornecimento, além da queda de árvores", diz a nota. "Às 10h, a estação Mirante de Santana do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou rajadas próximas de 80 km/h."

A dinâmica do ciclone

Inmet faz alerta laranja para vendaval em área que vai de Santa Catarina até o Sul do Rio de Janeiro

Reprodução

Apesar de a manhã desta quarta-feira ter amanhecido sem chuva na capital, o perigo veio pelo ar. O estado está sob a influência de um ciclone extratropical formado no Atlântico Sul. O fenômeno criou uma área de baixa pressão que, mesmo em alto-mar, gerou uma diferença de pressão atmosférica capaz de acelerar os ventos em direção ao continente.

Com o céu aberto e a incidência de radiação solar aquecendo o solo, a turbulência atmosférica se intensificou, trazendo rajadas das camadas mais altas para a superfície. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou ventos de quase 80 km/h na estação do Mirante de Santana, na Zona Norte. No litoral, a força foi ainda maior: Bertioga registrou rajadas de 87,8 km/h e Santos, de 83,3 km/h.