Análise: Renato Gaúcho deixa Fluminense com méritos, mas desgaste e pressão da torcida pesam em pedido de demissão

 

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Um dos quatro melhores times da Copa do Mundo de Clubes, semifinalista da Copa do Brasil e oitavado colocado no Campeonato Brasileiro. É nessa situação em que Renato Gaúcho deixa o comando do Fluminense. Diante da eliminação para o Lanús-ARG, na última terça-feira, em pleno Maracanã, pelas quartas de final da Sul-Americana, o treinador ouviu xingamentos de "burro" e revelou, na coletiva, que pediu demissão à diretoria. Apesar de estar mais do que acostumado a lidar com críticas no futebol, ele decidiu, com os nervos à flor da pele, jogar por água abaixo todo um trabalho que teve seus méritos, mas, ao mesmo tempo, ficou marcado por discursos e escolhas contraditórios.

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Com o lema de "não tem como repetir a mesma equipe a cada três dias" por conta do desgaste físico, Renato fazia questão em negar que o Flu priorizaria uma competição. No entanto, a realidade se mostrou diferente. À medida que o time titular avançava de fase na Copa do Brasil e Sul-Americana, o comandante usou e abusou de equipes alternativas no Brasileiro, o que, aos poucos, foi minando a confiança e paciência do torcedor.

No entanto, uma de suas últimas frases antes de sua saída foi de que "o principal campeonato que o clube disputa é o Brasileiro", o que vai na contramão do que se via em campo. Afinal, essa estratégia poderia dar muito certo com mais de uma conquista no fim da temporada, porém, ela nunca deixou de ser arriscada. A queda no torneio continental é exemplo claro disso.

Dentro das quatro linhas, Renato conseguiu recuperar o moral do elenco após a saída de Mano Menezes — foram cinco jogos de invencibilidade, com quatro vitórias consecutivas. Não há como falar da trajetória dele nas Laranjeiras sem citar a Copa do Mundo de Clubes. Nos Estados Unidos, ele encontrou a "melhor forma de jogar" com o trio de volantes (Martinelli, Hércules e Nonato), recorreu ao esquema de três zagueiros e desbancou times multimilionários, como Inter de Milão-ITA e Al-Hilal-SA. Por outro lado, a volta ao cenário nacional passou, aos poucos, a escancarar problemas crônicos em seu trabalho.

Apesar da oscilação de desempenho e das críticas da torcida, Everaldo superou a concorrência do ídolo Cano e, no time de Renato, sempre foi considerado titular por se "encaixar melhor no seu esquema de jogo". Agora sem marcar há oito jogos, o camisa 9 até teve boas oportunidades para balançar as redes, mas não aproveitou e foi sacado para a entrada do argentino no empate em 1 a 1 com o Lanús. Sem um "9" que decidisse nos momentos importantes, a falta de solução na posição de centroavante teve um preço alto. John Kennedy também não fez jus às poucas oportunidades que recebeu.

Everaldo faz gol da vitória do Fluminense sobre o Grêmio

LUCAS MERÇON / FLUMINENSE F.C.

Com a saída de Jhon Arias, Renato viu o seu setor ofensivo ficar comprometido. Se o trio de volantes deixava o time mais equilibrado, a dificuldade em furar defesas mais fechadas ficou evidente no setor de criação. Sem tanta confiança na juventude de Lezcano e Lavega — a pouca utilização dos jovens estrangeiros virou alvo de críticas da torcida —, Renato ganhou os reforços de Lucho Acosta e Santiago Moreno. O argentino até foi titular no último jogo contra o Lanús , mas, segundo a visão do treinador, tanto ele quanto o colombiano precisam de uma maior adaptação ao futebol brasileiro.

Único jogador que Renato pediu à diretoria por "abrir a defesa adversária no um para um", Soteldo chegou às vésperas da Copa do Mundo de Clubes, mas, antes mesmo de entrar em campo, já deixou uma “pulga atrás da orelha” ao sofrer uma lesão muscular pela seleção venezuelana nas Eliminatórias. Além do histórico de lesões na carreira, ele não faz jus ao investimento feito pelo tricolor, que paga R$ 1,2 milhão de salário e pode gastar mais de R$ 60 milhões no total.

Soteldo teve outra atuação apagada na derrota do Fluminense por 1 a 0 para o Lanús, pela Sul-Americana

MARCELO GONÇALVES / FLUMINENSE F.C.

Entre erros e acertos, Renato sai de um forma inesperada e melancólica por toda a relação envolvida como treinador e ex-jogador do Fluminense. Depois de encerrar sua sétima passagem pelo clube, ele aproveitou para deixar um recado para o próximo treinador da equipe: — Quero ver se ele vai colocar o time que o torcedor quer ou o da cabeça dele. A ver quem assumirá essa responsabilidade à beira do campo.