Amizade como a nossa? Pesquisadores dos EUA descobrem que periquitos constroem confiança aos poucos; entenda

 

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Quando uma nova ave aparece no grupo, o que se observa não é mera simpatia: é estratégia. No mundo dos periquitos-monge, a formação de amizades segue um protocolo de aproximação cauteloso, onde cada ação é calculada e cada sinal observado. Essa paciência pode ensinar muito sobre a arte de criar laços, seja entre aves ou pessoas.

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Pesquisadores da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, documentaram que os periquitos-monge iniciam interações com aproximações de baixo risco, mantendo distância e observando cuidadosamente o comportamento do outro antes de qualquer contato físico. Apenas após múltiplos encontros sem incidentes, as aves se permitem comportamentos mais íntimos, como alisar penas, tocar bicos ou compartilhar alimentos.

O estudo, publicado na revista Biology Letters, neste mês de novembro, envolveu 22 aves introduzidas em um recinto de voo de 2.025 m² na Flórida, durante 22 dias de observação. A equipe, liderada por Claire O’Connell e composta por pesquisadores de Princeton e Cincinnati, registrou interações desde aproximação sem contato até comportamentos reprodutivos, analisando padrões de relacionamento entre estranhos e aves já conhecidas.

Os dados mostram que 98% das díades de aves desconhecidas começaram com gestos de baixo risco, enquanto apenas 31% avançaram para interações moderadas e menos de 3% compartilharam comida ou acasalaram. Em contraste, aves que já tinham relacionamento prévio avançaram mais rapidamente para interações íntimas.

Segundo O’Connell, a abordagem gradual permite minimizar riscos de agressão ou transmissão de doenças. “Ser sociável pode trazer muitos benefícios, mas essas amizades precisam começar em algum lugar”, afirmou, destacando a importância da cautela na construção de confiança.

Além de mapear o comportamento animal, os pesquisadores apontam paralelos com os humanos. O processo de “testar as águas” mostra como paciência e observação podem ser essenciais na formação de amizades, evitando decisões precipitadas e fortalecendo relações a longo prazo.

Embora o experimento tenha sido conduzido em ambiente controlado, os autores ressaltam que periquitos-monge selvagens também vivem em grupos sociais complexos e dependem de laços sólidos para o sucesso reprodutivo. Estudos futuros em ambientes naturais poderão confirmar se o padrão observado se mantém fora do laboratório e se se aplica a outras espécies sociais.