Agentes de imigração prendem homem durante operação em Los Angeles e levam filha pequena dele; vídeo
A princípio, o encontro pareceu típico dos tipos de batidas de imigração que têm agitado as maiores cidades dos Estados Unidos. Agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras do país invadiram o estacionamento de uma loja em Los Angeles nesta semana e detiveram um homem latino. Eles amarraram suas mãos atrás das costas, e o homem, posteriormente identificado como Dennis Quiñonez, encostou-se na traseira de seu carro.
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Ativistas pelos direitos dos imigrantes estavam por perto, filmando e gritando com os agentes, que estavam mascarados e fortemente armados. Mas a situação, ocorrida na terça-feira, tomou um rumo inesperado, de acordo com entrevistas com quatro testemunhas e imagens compartilhadas com The New York Times por um grupo de defesa dos direitos dos imigrantes, com a permissão da pessoa que as gravou.
Quiñonez foi levado para outro veículo. Um agente armado entrou no banco do motorista de seu carro.
"Tem um bebê no banco de trás!" gritou uma pessoa. Minutos depois, alguém exclamou: "Eles vão dirigir!"
Outro agente, vestindo colete à prova de balas e carregando um fuzil, entrou no banco do passageiro. A filha de Quiñonez — que, segundo relatos posteriores de familiares, estava a poucos meses de completar dois anos — observava tudo, de olhos arregalados, da cadeirinha do carro. Então, o motorista deu ré e foi embora.
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A menina reencontrou sua avó ainda no mesmo dia. Mas grupos de defesa dos direitos dos imigrantes afirmam que o episódio evidencia como agentes federais em todo o país têm ultrapassado os limites da lei, às vezes na presença de crianças, ao executarem a agenda do governo Trump de deportar milhões de imigrantes indocumentados.
Em setembro, um agente de imigração empurrou uma mulher em estado de choque ao chão em um tribunal de Nova York, enquanto seus dois filhos pequenos choravam e tentavam ajudá-la. O agente foi posteriormente "afastado de suas funções", enquanto aguarda investigação, mas não ficou claro se ele foi demitido ou punido.
Esta semana, em Chicago, onde as táticas dos agentes federais têm sido alvo de escrutínio legal, pais disseram que seus filhos ficaram traumatizados ao verem agentes deterem sua professora na creche durante o horário de chegada.
Não está claro se a Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) possui uma política sobre como lidar com crianças menores de idade no local de uma prisão ou detenção. No entanto, agentes do ICE, uma agência separada do Departamento de Segurança Interna, não devem levar o filho de um detido, de acordo com a política do ICE. As agências policiais locais no Condado de Los Angeles têm políticas semelhantes que exigem que os policiais chamem um assistente social.
Terrie Samundra, mãe de dois filhos que testemunhou os agentes em Los Angeles partirem com a filha de Quiñonez em seu carro, ficou chocada com o que viu.
“Foi inacreditável estar presenciando aquilo”, disse ela. “E eu já presenciei muita coisa.” Terrie faz parte de um coletivo de ativistas locais que patrulha o estacionamento da loja Home Depot, no bairro de Cypress Park, em Los Angeles, para documentar as batidas policiais contra a imigração.
Na quinta-feira, Tricia McLaughlin, porta-voz do Departamento de Segurança Interna, afirmou em um e-mail que Quiñonez era o culpado pelo ocorrido com sua filha, pois a levou a um local onde houve "violência contra agentes da lei". A agência declarou em um comunicado na quarta-feira que ele agrediu agentes com um martelo e arremessando objetos, embora nunca tenha sido acusado de agressão, e que uma arma foi encontrada em seu carro.
“É uma vergonha que o pai tenha colocado a criança naquele ambiente e depois a tenha deixado sozinha no carro”, escreveu Tricia.
Segundo uma declaração juramentada das autoridades federais, Quiñonez, um cidadão americano de 32 anos, foi acusado de posse ilegal de arma de fogo e munição por já ter sido condenado por violência doméstica. Ele foi condenado por contravenção penal por ferir cônjuge ou companheiro(a) em 2014, de acordo com a declaração.
Quiñonez ficou detido em um centro de detenção federal no centro de Los Angeles até a tarde desta quinta-feira, quando foi libertado mediante o pagamento de uma fiança de US$ 10.000. Sua audiência de instrução está marcada para 1º de dezembro.
Os eventos de terça-feira começaram quando agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras prenderam cinco imigrantes indocumentados do México e da Guatemala, de acordo com o Departamento de Segurança Interna.
As autoridades federais afirmaram no depoimento que Quiñonez saiu do carro segurando um martelo "de maneira ameaçadora", a cerca de 30 metros dos agentes. Quando os agentes começaram a se afastar, disseram ter visto Quiñonez arremessar dois objetos "parecidos com pedras" contra o veículo antes de voltar para o seu próprio carro. Depois que uma equipe de agentes cercou o carro de Quiñonez, ele saiu e se aproximou dos agentes, que disseram acreditar que ele havia tentado agredi-los. O advogado de Quiñonez não respondeu ao pedido de comentário.
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Tricia não respondeu às perguntas sobre os agentes terem fugido no carro de Quiñonez com a criança dentro. Ela também não respondeu às perguntas sobre como a criança foi cuidada enquanto estava sob custódia dos agentes federais, incluindo onde ela foi mantida e se foi alimentada, se recebeu água ou se sua fralda foi trocada.
Quiñonez não queria se separar da filha e, inicialmente, autorizou os agentes a dirigirem seu carro com ambos para outro local, longe da multidão que se formava, segundo as autoridades federais. Mas, após encontrarem uma arma no assoalho do lado do passageiro, decidiram transportar Quiñonez em um veículo da CBP.
Cerca de meia hora após a prisão de Quiñonez, sua mãe recebeu uma ligação de um número desconhecido, conforme relatou a repórteres na quarta-feira. As autoridades federais disseram a ela para buscar sua neta do lado de fora do centro de detenção federal. Ela disse que teve permissão para ver a neta lá, mas não foi autorizada a sair com a menina até por volta das 13h, depois de apresentar às autoridades a certidão de nascimento da criança.
A mãe de Quiñonez, que pediu para ser identificada apenas pelo primeiro nome, Maria, por medo de represálias contra sua família, disse entre lágrimas que seu filho é um pai amoroso. Ela contou que ele havia levado a filha à loja Home Depot em seu dia de folga do trabalho no ramo de restaurantes e que não sabia o que havia motivado sua prisão. Maria disse que sua neta parecia estar saudável e se comportando normalmente após o ocorrido. Ela é muito nova para falar, disse a avó, mas a criança estava chamando por seu "papai".
A repressão do governo Trump à imigração ilegal no sul da Califórnia é uma operação conjunta de várias agências, incluindo agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) e da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP). De acordo com a política do ICE, os agentes devem tentar permitir que um adulto detido faça arranjos alternativos de cuidado para qualquer criança sob sua custódia. Se isso não for possível, os agentes devem permanecer no local da prisão até que representantes de uma agência local de proteção à criança ou da polícia cheguem para assumir a custódia da criança.
“A menos que o ICE esteja executando uma ação coercitiva contra a(s) criança(s) menor(es), os funcionários do ICE não devem, em hipótese alguma, assumir a custódia ou transportar a(s) criança(s) menor(es)”, diz a política.
Tricia, porta-voz do DHS, não respondeu às perguntas sobre se a política da CBP difere ou se os agentes envolvidos na prisão de terça-feira seguiram seus próprios protocolos. John Sandweg, ex-funcionário do Departamento de Segurança Interna durante o governo Obama, afirmou que as ações da agência no caso de Quiñonez parecem "violar o bom senso".
Sandweg enfatizou que não conhecia todos os detalhes do caso, mas afirmou que transportar uma criança no carro de um detento exporia a agência a potenciais responsabilidades legais. Assim que o detido estiver sob custódia e os agentes não estiverem mais sob ameaça, “não há urgência em registrá-lo”, disse ele. Os agentes podem esperar o tempo que for necessário para contatar outro responsável ou outras autoridades mais capacitadas para cuidar da criança.
