Volta da energia foi mais rápida no interior e no litoral de SP, regiões não atendidas pela Enel

 

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Relatório divulgado pela Agência Reguladora de Serviços Públicos de São Paulo (Arsesp) nesta sexta-feira (12) mostra que a Enel é a concessionária de energia do estado com maior índice de clientes que seguem sem luz três dias após o vendaval histórico de quarta-feira (10).

Enquanto a Enel, que atua na capital e em parte da região metropolitana, registrou 7,8% dos imóveis no escuro na manhã desta sexta, a única com situação classificada como “crise extrema” pela Arsesp, outras empresas, como CPFL, Neoenergia Elektro, EDP SP e Energisa Sul-Sudeste chegaram a, no máximo, 1%.

Especialistas apontam, no entanto, que as regiões são difíceis de serem comparadas e que a Enel é responsável por uma área bem mais complexa. A empresa argumenta o mesmo e afirma que tem uma área com "20 vezes mais clientes por quilômetro de rede" do que a média das distribuidoras do país.

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As demais concessionárias abastecem boa parte dos mais de 600 municípios do interior e do litoral paulista. Na quarta-feira, dia em que o ciclone extratropical que se formou no Atlântico Sul provocou intensas rajadas de vento no estado, a área da Neoenergia Elektro, que atende 3 milhões de imóveis em regiões como o litoral paulista e Vale do Paraíba, registrou rajadas de vento que chegaram a 90 km/h, como em Bertioga, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

No dia do vendaval, a Neoenergia informa que 6% dos clientes, ou 180 mil unidades consumidoras, ficaram sem energia. Na quinta-feira (11), o índice caiu para 0,6% e nesta sexta, baixou para 0,4%, o equivalente a 12 mil imóveis. A empresa afirma que “mobilizou equipes extras e definiu rapidamente as ações necessárias para o restabelecimento da energia”. As cidades mais afetadas foram a turística Campos do Jordão e Piedade.

Já a EDP SP, que atende 28 cidades no estado, incluindo municípios de grande porte, como Guarulhos, na região metropolitana, tem 2,2 milhões de imóveis em sua área de concessão. Os ventos nos municípios atendidos pela empresa passaram de 90 km/h. A empresa terminou o primeiro dia com 15% da rede impactada pelo vendaval. Na quinta, o índice caiu para 5% e, nesta sexta, para 1%.

Segundo a EDP, a ação contra as consequências do vendaval contou com um efetivo dez vezes maior de equipes técnicas.

Outro exemplo é a CPFL Energia, que atende 7,6 milhões de unidades consumidoras em grandes centros urbanos como Campinas, Jundiaí, Santos e Sorocaba. A empresa, apesar de manter operações em cidades que registraram mais de 80 km/h de vendaval, como Santos (segundo dados do Inmet) teve apenas 0,9% dos clientes, ou 69 mil imóveis, no escuro no pior momento da crise, às 15h de quarta. Nesta sexta, o número baixou para 1645, 0,02%.

A Energisa Sul-Sudeste, que atende 750 mil clientes, sofreu com os impactos do ciclone antes, com os temporais que começaram na terça-feira (9), e registrou 11,4% das unidades no escuro. A região mais afetada foi a de Bragança Paulista.

A concessionária afirma que realiza monitoramento climático e aciona o contingente máximo de equipes de campo com a aproximação de ventos fortes e chuvas. Na manhã desta sexta, apenas 1% da base de clientes estava sem luz.

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A Enel, por outro lado, ainda patina para abaixar os indicadores. No pico da crise, na quarta-feira, 2,2 milhões de imóveis, ou 26% dos clientes na Grande São Paulo ficaram no escuro. Na quinta, caiu para 15% e nesta sexta, permanece em 8,4%, segundo os dados mais atualizados até a publicação desta matéria.

Para O GLOBO, a empresa afirmou que mobilizou cerca de 1.800 equipes por dia em campo e “segue atendendo às emergências desde a entrada do ciclone extratropical em sua área de concessão”.

A Enel destaca que atua em uma área que tem “20 vezes mais clientes por quilômetro de rede do que a média das distribuidoras do país, as áreas de diferentes concessões não são comparáveis”.

— Não dá para comparar a quantidade de atingidos na área de concessão da Enel com as outras, pois a quantidade de consumidores é muito maior por área — concorda também o professor da escola politécnica da Universidade de São Paulo, José Aquiles Baesso Grimoni.

Ele afirma, no entanto, que a persistência do problema é preocupante.

— Estas complexidades não isentam a Enel pela demora. Muitas das dificuldades de restabelecimento estão ligadas ao efeito das árvores que caíram sobre redes elétricas e também a falta de coordenação entre os vários agentes: prefeitura, Corpo de Bombeiros, Segurança Pública, Enel, em uma situação de um evento climático deste tamanho — diz o professor, que foi também diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.

Grimoni defende que os diferentes órgãos deveriam atuar de forma conjunta.

— Seria importante, como na Copa do Mundo aqui no Brasil, a criação de um comitê de emergência, que consiga mapear as áreas afetadas e criar um programa de ação coordenando as atividades de cada um dos agentes para a recomposição dos sistemas — sugere Grimoni.

A relação entre a Enel e o governo municipal e estadual, no entanto, não vai nada bem. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) acusou a empresa de mobilizar menos veículos para atendimento da população do que a concessionária tem divulgado, em entrevista para a rádio CBN nesta quinta-feira (11).

— Ontem nós não tivemos nem 40 veículos circulando na cidade de São Paulo. Nós pegamos os dados das placas dos veículos que a Enel diz que tem, colocamos no SmartSampa e essas placas não aparecem circulando em nenhum local da cidade de São Paulo — afirmou Nunes, que defendeu uma intervenção do governo federal na empresa.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) também subiu o tom e chamou o desempenho contra a concessionária de “absolutamente insuficiente”.

— A gente oficia imediatamente, envia relatórios para a agência reguladora e comunica sobre a situação de todas as concessionárias. O maior tempo de restabelecimento, os maiores problemas são na área da Enel — afirmou ele, durante evento de entrega de moradias populares em Carapicuíba, na Grande São Paulo.