Vigia rendida por assaltante conta detalhes do roubo na biblioteca: 'Só queriam as obras de arte'

 

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Assaltantes usaram uma arma, um martelo e uma bolsa de lona no assalto à Biblioteca Mário de Andrade, na manhã do último domingo (30), contou uma funcionária ao SP1, da TV Globo. A ação, de acordo com relato da vigia que presenciou o assalto, começou perto das 10h20 da manhã e, cerca de vinte minutos depois, a dupla já tinha deixado o endereço e seguido para uma esquina, a menos de 200 metros dali, onde a van preparada para a fuga estava estacionada.

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— Eu estava no meu posto quando um deles veio na minha direção e pediu para que eu guardasse o celular. Ele me mostrou uma arma e disse que era um assalto. Ele perguntou se eu poderia acompanhá-lo e disse que não era nada pessoal, que ele só queria as obras de arte. Enquanto um deles me acompanhava, outro observava o ambiente — disse a vigia em entrevista ao SP1.

Segundo ela, quando o assaltante chegou ao local da exposição, ele retirou um martelo de uma mochila e tentou quebrar a cúpula de vidro onde estavam as gravuras de Candido Portinari, da obra “Menino de Engenho”. Sem conseguir quebrar a proteção com a ferramenta, ele subiu na estrutura, que cedeu com o peso do assaltante. Nesse momento, ele pegou cinco das sete gravuras expostas.

Os quadros da série “Jazz”, de Henri Matisse, que estavam presos em uma parede, foram puxados à força. “Deu até um pouco de trabalho”, relatou a vigia sobre o assalto.

Após recolherem as obras, a dupla, que também tinha rendido um casal de idosos quando chegou na exposição, saiu pela porta da frente da biblioteca. Eles caminharam até a van e fugiram.

Até agora, uma pessoa foi presa por envolvimento no assalto. Felipe dos Santos Fernandes Quadra, de 31 anos, teria dito em depoimento à polícia que foi contratado por um terceiro e que obedecia ordens. Segundo a defesa de Felipe, seu cliente teve uma “atuação de menor importância, não havendo qualquer indício de que tenha atuado como idealizador, executor principal ou sequer beneficiário direto do suposto delito”.

Felipe foi localizado em uma casa na Mooca, na Zona Leste, e já tinha antecedentes por furto, roubo e tráfico de drogas. Outros possíveis envolvidos não tiveram a identidade divulgada até agora. Uma das hipóteses é a de que eles tenham atuado sob encomenda para algum intermediário conhecedor do mercado das artes. Especialistas ouvidos pelo portal g1 estimam que as obras levadas poderiam valer um total de até R$ 1 milhão.

Para evitar que as peças deixem o país, a Prefeitura de São Paulo acionou a Interpol, por meio da Polícia Federal. A 1ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) afirmou, em nota, que apura o caso.

Ação detalhada

A fuga, no último domingo, envolveu o abandono de um carro, trocas de roupas dos suspeitos e até o descarte temporário de alguns dos quadros em uma esquina do Centro de São Paulo, após um dos criminosos se assustar com a aproximação de um veículo que imaginou ser uma viatura. De acordo com a prefeitura, câmeras do sistema municipal de reconhecimento facial, o Smart Sampa, registraram a ação — desde o roubo até a chegada dos suspeitos a um endereço onde as obras supostamente estariam escondidas.

Nenhuma obra foi recuperada até o fechamento da edição. Apesar da suposta identificação do esconderijo, as autoridades informaram que aguardavam a emissão de um mandado de busca e apreensão para vistoriar o imóvel.

Ao sair da biblioteca com os 13 itens, os assaltantes caminharam até o Vale do Anhangabaú, a poucos metros do local, onde uma van azul os aguardava. O veículo usado na fuga foi posteriormente abandonado.

As gravações mostram que, enquanto descarregava a van, um dos criminosos chegou a apoiar as obras em uma parede, ao lado de uma pilha de lixo, ao se assustar ao pensar que uma viatura se aproximava. Momentos depois, o suspeito retornou, recolheu os quadros e continuou a trajetória a pé, chegando a atravessar a Avenida Nove de Julho carregando o material roubado.

A ousadia da ação repercutiu na imprensa internacional, que correlacionou o caso com outros episódios de vulto pelo mundo. “O assalto ocorre menos de dois meses depois de o mundo da arte ter sido abalado por uma invasão descarada no Museu do Louvre, em Paris, onde ladrões roubaram joias de valor inestimável”, descreveu a emissora britânica BBC.

“Chamou a atenção a facilidade com que os criminosos conseguiram entrar na segunda maior biblioteca do Brasil e roubar obras valiosas”, escreveu, por sua vez, o jornal argentino Clarín.

(Colaborou Nelson Gobbi)