Vice-prefeito articula descontos para policiais em comércios do Centro de São Paulo
O vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Mello de Araújo (PL), tem organizado uma série de pequenas intervenções no Centro da cidade para reforçar o discurso de que a região está "livre da Cracolândia" — a iniciativa inclui, por exemplo, apresentações de músicos em ruas do entorno do antigo "fluxo" de usuários de drogas.
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A primeira área escolhida foi a rua General Osório, conhecida como “Rua das Motos”, com diversas lojas para motociclistas. Em reunião com empresários e comerciantes da área, Mello, que é coronel da Polícia Militar e foi indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, apresentou uma proposta: que os estabelecimentos passem a oferecer descontos para agentes de segurança.
— Se você vai nos Estados Unidos e fala que é agente de segurança, eles oferecem uma série de benefícios — afirmou Mello ao grupo, que sugeriu que as lojas coloquem placas para informar sobre o desconto.
Segundo ele, a iniciativa seria uma forma de valorizar o trabalho policial. O vice-prefeito faz questão de frisar à reportagem que a proposta é “voluntária, nada obrigatória, partindo do próprio comerciante”.
— Nas conversas informais, os comerciantes falaram da importância das forças de segurança, e falei de uma experiência que deu certo na Ceagesp — conta Mello, que chefiou o centro de distribuição de alimentos na época do governo Bolsonaro e articulou descontos em compras de policiais. — Eles (os comerciantes) vão conversar entre si, e não tem nada certo. Por enquanto, é conversa informal de rua, nada acertado — disse ao GLOBO.
Entre os presentes na conversa com Mello estava Mário Kamei, presidente e fundador da Associação da Rua das Motos. Ao GLOBO, o comerciante afirma que sua própria loja já oferece esse tipo de desconto e que a entidade estuda incentivar outros proprietários a aderirem. Ele negou, porém, que a medida serviria para atrair mais policiamento para a área. Segundo Kamei, a segurança proporcionada pela atual gestão é suficiente.
— Se mantiver assim, como está hoje, está ótimo — afirmou.
Para o advogado especialista em segurança pública Fernando Capano, embora exista um hábito antigo de troca de favores entre empresários e policiais, existe uma diferença quando a sugestão é feita por um agente público. Capano avalia que, quando a ideia parte de uma autoridade, como o vice-prefeito, ela não pode se dar como uma "conversa informal".
— Uma política de descontos precisaria de regulamentação própria, não dá para ser algo "de boca". A administração pública não age informalmente. Parece-me complicado simplesmente dizer (aos comerciantes) que seria legal oferecer descontos para policiais — afirmou.
A caravana das iniciativas de Mello pelo Centro já tem itinerário definido. No mapa estão as ruas Santa Ifigênia, tradicional polo de eletrônicos, e José Paulino, conhecida pelo comércio de confecções.
Segundo o vice-prefeito, cada região deve receber um tipo diferente de apresentação, como música ou ballet. A medida, ele diz, busca incentivar a retomada da região após anos de cenas abertas de uso de drogas na Cracolândia.
