Vendaval em São Paulo: Guarulhos e Congonhas têm mais de 100 voos cancelados

 

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Os Aeroportos de Guarulhos e Congonhas registraram mais de 100 decolagens canceladas por conta de um vendaval que atinge a cidade de São Paulo e a região metropolitana nesta quarta-feira (10). Os dados foram levantados por O GLOBO na plataforma FlightRadar 24.

As fortes rajadas de vento registradas na cidade ultrapassam 90 km/h e causaram também falta de água e queda de energia para mais de 2 milhões de imóveis na Grande São Paulo. O Corpo de Bombeiros recebeu 514 chamados para quedas de árvores e a prefeitura de São Paulo e o governo estadual fecharam os parques públicos.

Na tarde desta quarta, a situação era problemática em Congonhas. Imagens enviadas para O GLOBO mostram os guichês do aeroporto lotados.

A farmacêutica Camila Reis, 30 anos, soube que o voo que partiria do Aeroporto de Congonhas às 17h, com destino ao Rio de Janeiro, foi cancelado ao chegar para o embarque com duas horas de antecedência. Ela também conta que a informação foi repassada apenas pelo aplicativo, já que o painel disponível no local para o controle de voos foi congelado.

— O aeroporto está em completo caos, não tem ninguém para dar informação. Já estou praticamente uma hora na fila, e continuo longe do guichê, que é único lugar que eles disponibilizam para tentar remarcar o voo. Vou tentar voltar ainda hoje para o Rio, mas a situação ainda está certa — disse.

Até as 18h, ao menos 78 decolagens, que deveriam ocorrer entre a madrugada desta quarta e o fim do dia, foram canceladas em Congonhas. O destino mais afetado é o Rio de Janeiro, com 24 voos, seguido de Curitiba, com 10 casos e Belo Horizonte, com 9. Nas chegadas, a situação também foi problemática. 38 voos que deveriam pousar no aeroporto foram desviados para outras cidades e outros 55 foram cancelados ainda na origem.

As companhias aéreas que registraram o maior número de cancelamentos nas decolagens de Congonhas foram, até o momento, a Latam (38 casos), Gol (27) e Azul (12).

Procurada, a Latam informou que está "oferecendo a assistência necessária aos passageiros impactados. Por fim, a companhia reforça que adota todas as medidas de segurança técnicas e operacionais para garantir uma viagem segura para todos". Já a Gol diz que "clientes impactados receberão as facilidades previstas conforme suas necessidades". A Azul não respondeu, até o momento.

A concessionária Aena informa, por meio de nota, que o aeroporto "opera normalmente, estando aberto para receber pousos e decolagens". A empresa afirma que os cancelamentos e desvios foram "decisões operacionais das companhias áreas por causa dos ventos fortes com rajadas de mais de 90 km/h [..] a Aena recomenda que os passageiros com viagens programadas entrem em contato com as companhias aéreas para saber a situação do seu voo".

O aeroporto de Guarulhos foi menos afetado. Os dados do FlightRadar 24 mostram 37 decolagens canceladas, a maior parte voos nacionais, com exceção de dois voos da Latam para Lisboa, em Portugal. Nas chegadas, foram 21 voos desviados para outras cidades e 35 cancelados ainda na origem.

O GLOBO procurou a GRU Airport, que informou que as operações foram impactadas pela ventania e que a partir das 16h20, "com a melhoria das condições climáticas, as operações de chegada começaram a ser normalizadas. Os voos de partida de Guarulhos seguem normalmente. A GRU Airport reforça seu compromisso em garantir a segurança e a eficiência das operações, mesmo em condições meteorológicas adversas".

Ciclone extratropical

O ciclone extratropical que se formou no Atlântico Sul segue afetando o clima no estado de São Paulo que está registrando ventos em alta velocidade. Segundo a Defesa Civil, as cidades mais afetadas pelo fenômeno são as do litoral. Santos registrou rajadas de até 83,3 km/h nesta manhã, e Bertioga de 87,8 km/h.

Na capital, o momento mais crítico foi a marca de 81,7 km/h nesta manhã. Ventos acima de 50 km/h foram registrados em pelo menos outras nove cidades do interior e da região metropolitana. Os ventos sopram predominantemente na direção Sudeste-Leste.

O vendaval já estava previsto desde segunda-feira, quando o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta de ressaca e tempestade para toda a costa da região Sul e de São Paulo.

Quando um ciclone extratropical se forma, ele cria uma área de baixa pressão que altera a circulação dos ventos em grande escala. Nesse fenômeno, o ar ao redor da baixa pressão acelera para preencher o vazio gerado pela queda de pressão atmosférica no núcleo do ciclone.

Quanto maior o contraste de pressão entre o centro da baixa e as áreas vizinhas (chamado de gradiente de pressão), mais fortes tendem a ser as rajadas. No caso de São Paulo, o ciclone que provocou chuva ontem continuou se movimentando no oceano, mantendo a pressão relativamente baixa e reforçando esse gradiente.

Com o céu mais aberto nesta manhã, a superfície recebeu mais radiação solar, o que aquece o ar próximo ao solo e intensifica o fenômeno. O aquecimento faz camadas altas de ar descerem para perto da superfície, intensificando as rajadas, mesmo sem a presença de chuva.

O vendaval em São Paulo deve continuar ao longo do dia, segundo o serviço meteorológico Wind Guru, especializado em previsão de vento. Durante a noite, as rajadas ainda poderão estar na faixa dos 83 km/h.