UnB anuncia retorno ao Sisu a partir de 2026
A Universidade de Brasília (UnB) anunciou, no dia 17 de novembro, que voltará a aceitar o ingresso de novos alunos através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação, para o ano que vem. Ela também decidiu participar do programa Pé-de-Meia Licenciaturas, iniciativa do governo federal para apoiar financeiramente alunos na graduação para se tornarem professores. No entanto, a decisão será implementada de forma gradual e dependerá da adesão voluntária das unidades acadêmicas.
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A instituição não aderia ao sistema desde 2020 e os interessados deveriam se inscrever por meio de um edital próprio, utilizando a nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). À época, a UnB alegou que a evasão entre os estudantes que ingressam por meio do Sisu era maior, além do não preenchimento de todas as vagas do sistema, sendo necessárias várias chamadas. Além disso, também informaram incompatibilidade entre o calendário acadêmico e o que era estabelecido pelo Ministério da Educação.
Em nova decisão, motivada pelo programa Pé-de-Meia Licenciaturas e aprovada por unanimidade, a instituição estabelece a volta ao Sisu para “reduzir vagas ociosas” e “combater a evasão, por meio de incremento nas ações de permanência”.
A proposta foi embasada por um relatório técnico, que indicou que há cerca de 20% de vagas ociosas, considerando todos os cursos, e uma queda na taxa de matrícula desde 2019 — último ano em que o Sisu foi utilizado pela instituição para o ingresso de novos alunos.
A instituição afirma que a queda foi agravada pela pandemia de Covid-19, além dos níveis elevados de evasão, principalmente em licenciaturas. Agora, com a adesão ao programa de apoio financeiro aos estudantes da modalidade, Andréa Cabello, professora do Departamento de Economia da UnB, acredita que a adesão seja maior justamente nesses cursos.
A economista pondera que a volta não é negativa, mas que, assim como todas as políticas públicas, o monitoramento dos resultados deve ser contínuo. Além disso, considera válida a participação no programa do governo voltado à permanência estudantil, mas que também precisará ser acompanhada e avaliada para saber o custo-benefício para as instituições que participam.
— A decisão de participar do Programa Pé-de-Meia Licenciaturas e, consequentemente, do Sisu, é válida, pois a formação de professores no Brasil é um dos maiores desafios que temos do ponto de vista de educação básica. Entretanto, essa decisão deve vir acompanhada de monitoramento e avaliação para averiguar se o custo-benefício da decisão vale a pena para as instituições aderentes — afirma a professora.
O acompanhamento citado por Cabello será feito pelo Decanato de Ensino de Graduação (DEG), que apresentará relatórios regulares ao Cepe para avaliar a continuidade da modalidade tanto do Sisu quanto do programa do governo.
Taxas de evasão maiores no Sisu
De acordo com uma pesquisa feita por Andréa Cabello, metade dos ingressantes pelo Sisu evadem do ensino superior, enquanto a taxa dos alunos que entram por outros meios é de até 20 pontos percentuais menor. A maior recorrência acontece logo no primeiro período e ela atribui como causas a liberdade do aluno de trocar sua inscrição várias vezes durante o prazo para seleção e o abandono de quem escolheu um curso sem refletir o bastante.
Com a volta do Sisu para o ingresso na UnB, a economista acredita que o problema ainda irá se manter, mas que projetar o impacto agora seria difícil, visto a adesão também ao programa Pé-de-Meia Licenciaturas:
— É difícil prever porque agora temos duas políticas em execução de forma simultânea para alguns cursos: por um lado, a adesão ao Sisu, que se a tendência histórica se mantiver, é um fator que pode aumentar a probabilidade de evasão. Mas, por outro lado, temos o programa do governo Pé-de-Meia, cujo objetivo principal é aumentar a atração e reduzir a evasão em cursos de licenciatura. Tudo depende de como a interação na prática desses dois efeitos ocorrerá. Para alguns cursos e instituições, o primeiro dos efeitos pode ser maior; para outros cursos e instituições, o segundo pode superar.
Bacharelado em Inteligência Artificial
Outra novidade na UnB é a aprovação do curso de bacharelado em Inteligência Artificial (IA). A previsão de início é para o primeiro semestre de 2026. A graduação terá duração de quatro anos, com ênfases em: desenvolvimento de modelos para a indústria, governo e sociedade; engenharia de sistemas inteligentes, com foco em engenharia de software e sistemas embarcados; e robótica, visão computacional e hardware para IA.
Segundo a instituição, o objetivo é formar profissionais com base sólida em computação, matemática e estatística, para atuarem no mercado em expansão.
“A IA não é apenas tecnologia; envolve direcionamentos éticos, políticos e sociais, e espero que nosso curso consiga contemplar essas diretrizes”, ressaltou o professor Wander Cleber.
*Estagiária sob supervisão de Luã Marinatto.
