Um dia depois da prisão inédita de generais por golpe, Iphan vota tombamento do Dops, o QG da tortura na ditadura

 

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O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reúne-se nesta quarta-feira para deliberar sobre o tombamento definitivo da antiga Repartição Central de Polícia, mais conhecido como antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Rua da Relação, no Centro do Rio. O imóvel, que o governo federal pretende transformar em um centro de memória, é um dos maiores símbolos da repressão política no estado durante a ditadura militar. A reunião acontece um dia após a prisão inédita de generais por tentativa de golpe de Estado.

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De acordo com o Iphan, o pedido de tombamento do Dops dá-se em razão dos valores histórico e artístico relevantes do imóvel. A proposta a ser apresentada pede a inscrição do prédio nos Livros do Tombo Histórico e das Belas Artes, passando a integrar oficialmente o conjunto de bens protegidos pelo Iphan. Em maio deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) indicou que a antiga sede do Dops retornasse ao governo federal para a criação de um memorial — ela estava sob responsabilidade do Estado do Rio. O MPF alertou à época para o estado de abandono do prédio, vinculado à Polícia Civil. Já no último dia 30, foi publicado no Diário Oficial da União o edital de tombamento provisório.

O edifício foi inaugurado em 1910 para sediar a Repartição Central de Polícia. Ao longo de sua história, abrigou diferentes polícias políticas encarregadas de reprimir movimentos e expressões sociais considerados ameaças à ordem pública. O local reuniu acervos como o Nosso Sagrado — antes intitulado de Museu da Magia Negra e rebatizado numa reparação ao racismo religioso — com peças apreendidas em cultos de religiões de matriz africana, durante movimento de repressão e perseguição no início do século passado. Em 2020, o acervo foi para o Museu da República.

Entre 1962 e 1975, o imóvel abrigou Dops-RJ, usado durante a ditadura militar como local de detenção e tortura de presos, incluindo políticos, artistas, líderes estudantis contrários ao regime . O imóvel integra uma lista de pelo menos 49 locais identificados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania em que ocorreram violações de direitos humanos durante os governo militares, como torturas, mortes e ocultação de corpos, e de resistência.