
Trump aumenta verba para faculdades historicamente negras ao custo de cortes em outras iniciativas para minorias

O governo Trump planeja injetar quase US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões) em faculdades historicamente negras e universidades tribais, um lucro inesperado financiado em grande parte por cortes em programas para estudantes de minorias em outros lugares. O governo também redirecionará dinheiro para outras prioridades políticas do presidente Trump, incluindo US$ 137 milhões (R$ 729 milhões) extras para História americana e educação cívica e mais US$ 60 milhões (R$ 319 milhões) para escolas charter — escolas financiadas com recursos públicos, mas administradas de forma privada.
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Os aumentos ocorrem após um pedido da Casa Branca para um corte de 15% no orçamento do Departamento de Educação no próximo ano, enquanto o presidente Trump busca apoio para fechar o órgão permanentemente. Os programas de História agora receberão cerca de sete vezes o financiamento esperado para este ano, e as escolas charter terão um aumento de 13%.
As mudanças foram descritas por três pessoas familiarizadas com os planos, que insistiram em permanecer anônimas para não falar sobre discussões privadas. Dois altos funcionários do Departamento de Educação disseram que o financiamento adicional para as prioridades do presidente Trump seria anunciado já na segunda-feira.
Para financiar as mudanças, o governo cortou verbas de outras partes do orçamento da educação. O maior corte, anunciado pelo departamento na semana passada, é um prejuízo de US$ 350 milhões (R$ 1,8 bilhão) em programas que apoiam estudantes de minorias em cursos de ciências e engenharia, escolas com matrículas hispânicas significativas e outros subsídios federais em instituições que atendem minorias.
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A administração também cortou verbas de programas para superdotados e talentosos, que, segundo ela, usam segmentação racial no recrutamento em alguns casos, e de escolas magnet (de especialização), que têm sido usadas como uma ferramenta para combater a segregação escolar.
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O presidente Trump tem buscado rotineiramente se alinhar a faculdades e universidades historicamente negras como uma forma de ganhar a boa vontade dos eleitores negros, que há muito tempo são céticos em relação à sua liderança.
No primeiro mandato, Trump garantiu mais de US$ 250 milhões (R$ 1,3 bilhão na cotação atual) em financiamento anual e cancelou a devolução de mais de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão na cotação atual) em empréstimos federais de auxílio para as escolas. Em abril, ele assinou uma ordem executiva que criou um cargo na Casa Branca para supervisionar uma nova "Iniciativa para Faculdades e Universidades Historicamente Negras", embora essa posição permaneça vaga.
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Ao mesmo tempo, o presidente repetidamente minimizou a história dos negros nos Estados Unidos, incluindo no mês passado, quando reclamou que os museus do Smithsonian focam demais em "como a escravidão foi ruim".
Tradicionalmente, o Escritório de Direitos Civis do Departamento de Educação concentrou grande parte de sua carga de trabalho jurídica em denúncias de discriminação racial. Sob a administração Trump, o escritório passou a priorizar acusações de discriminação contra estudantes brancos e reduziu proteções para estudantes transgêneros. Novas orientações disciplinares da Casa Branca instruem as escolas a não considerarem disparidades raciais, focando apenas no comportamento dos alunos.
A suspensão em financiamento federal na semana passada teve como alvo sete bolsas para instituições voltadas a minorias, que são faculdades com matrícula significativa de estudantes de grupos minoritários. A administração Trump eliminou o financiamento, dizendo que programas com cotas raciais eram inerentemente racistas e violavam a lei de direitos civis.
Em vez disso, esse dinheiro será destinado às faculdades e universidades historicamente negras, que foram criadas para educar estudantes negros em uma época em que outras instituições não os aceitavam, e que hoje estão abertas a alunos de todas as raças. Essas instituições receberão US$ 1,34 bilhão (R$ 7,14 bilhões) neste ano, 48% a mais do que estava orçado, segundo o departamento.
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Lodriguez Murray, vice-presidente sênior da UNCF, anteriormente United Negro College Fund, disse que o dinheiro extra é uma "bênção" para as faculdades e universidades historicamente negras. Elas têm sido subfinanciadas desde sua criação, afirmou, e cerca de 70% de seus estudantes vêm de famílias de baixa renda.
— Recebemos de bom grado os recursos adicionais — disse ele, acrescentando acreditar que o montante pode ser substancial o suficiente para fazer diferença nos campi, mesmo que seja um impulso pontual.
Marybeth Gasman, diretora executiva do Centro Rutgers para Instituições Voltadas a Minorias, disse que os novos gastos não deveriam vir às custas de programas voltados ao apoio a estudantes negros e hispânicos em outras escolas. Ela afirmou que essas instituições educam mais da metade de todos os estudantes não brancos e pediu que o Congresso reaja à tentativa unilateral do Executivo de realocar recursos.
— Essas instituições não deveriam ser colocadas umas contra as outras, o que parece ser o que a administração Trump está fazendo — disse Gasman, que também é vice-reitora de pesquisa da Escola de Pós-Graduação em Educação da Rutgers.
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As faculdades tribais, geralmente controladas e administradas por tribos nativo-americanas e que recebem apoio federal, também terão cerca de US$ 108 milhões (R$ 575 milhões) neste ano, o dobro do que estava previsto pelo Departamento de Educação, segundo autoridades federais. Essas faculdades também recebem recursos pelo Departamento do Interior, verbas que o governo Trump havia proposto cortar no início do ano, embora parlamentares no Capitólio tenham resistido.
O Departamento de Educação está direcionando esse dinheiro para a agenda de Trump, a duas semanas do fim do ano fiscal, em 30 de setembro, aproveitando-se de uma brecha criada pelo impasse partidário em Washington. As mudanças são uma injeção única e valem apenas para o financiamento deste ano.
O dinheiro para ensino de história e educação cívica irá para um projeto pessoal de Trump, que se queixou durante a campanha no ano passado do que via nas escolas americanas como falta de orgulho nacional. Ele prometeu encontrar uma maneira de "certificar professores que abracem valores patrióticos, apoiem nosso modo de vida".
Como presidente, ele ameaçou cortar verbas de escolas que se afastassem de temas de "educação patriótica". Agora, o governo federal gastará US$ 160 milhões (R$ 852 milhões) em ensino de história americana e educação cívica neste ano, contra US$ 23 milhões (R$ 122 milhões) autorizados pelo Congresso.
Os recursos financiarão a formação de professores em preparação para o 250º aniversário da fundação do país no próximo ano. O programa dará ênfase a documentos originais da época dos pais fundadores, uma ideia popular em círculos conservadores.
O dinheiro virá principalmente de um corte de quase US$ 140 milhões (R$ 745 milhões) em programas de formação de professores que, segundo autoridades federais, promoviam "ideologia divisiva racial" em sala de aula.
As escolas charter também têm sido um pilar da política educacional de Trump, que enfatiza dar mais escolha aos pais.
A primeira visita oficial de Linda McMahon, secretária de Educação, foi à Vertex Partnership Academies, uma escola charter no Bronx. Trump também busca um aumento para essas escolas em seu pedido orçamentário para o próximo ano.
As charters terão US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões) para gastar neste ano, acima dos US$ 440 milhões (R$ 2,34 bilhões) aprovados por parlamentares federais.
Para pagar o novo financiamento das escolas charter, o governo cortou US$ 15 milhões (R$ 80 milhões) das escolas magnet, US$ 9 milhões (R$ 47 milhões) de programas para superdotados e talentosos, e US$ 31 milhões (R$ 165 milhões) do Ready to Learn, que financiava programas da rede PBS para crianças pequenas.
O Congresso normalmente controla como o dinheiro federal é gasto. Mas, sem apoio suficiente para aprovar uma lei orçamentária anual, o Legislativo tem recorrido a medidas emergenciais para manter o governo funcionando. Essas medidas temporárias garantem que os níveis de financiamento sejam mantidos nos patamares existentes, mas, ao contrário de leis regulares, não especificam como o dinheiro deve ser gasto.
Muitos democratas se opuseram à medida emergencial mais recente, em março, alertando que a falta de diretrizes explícitas criaria, na prática, fundos de manobra para a Casa Branca. Agora, seis meses depois, o governo está aproveitando o momento, usando a flexibilidade permitida pela medida emergencial para redirecionar recursos às prioridades de Trump.