Tropas de Trump chegam a Chicago; escalada de tensões tem troca de insultos e restrições a agentes de imigração

 

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Soldados da Guarda Nacional começam patrulhamentos nas ruas de Chicago nesta quarta (08)

Tropas da Guarda Nacional enviadas pelo governo Trump chegaram na região metropolitana de Chicago no final de terça-feira (7) e se preparam para entrar na 3ª maior cidade dos Estados Unidos.

O movimento intensificou uma escalada de tensões entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e os governos municipal e estadual — ambos democratas—, que já teve processos na Justiça, trocas de insultos e restrições contra agentes federais. (Leia mais abaixo)

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Cerca de 200 soldados da unidade do Texas da Guarda Nacional foram designados pelo governo Trump para Chicago até o momento. As tropas se instalaram em um centro da Reserva do Exército em Elwood, a cerca de 50 km de Chicago e estão recebendo treinamento para a operação (veja fotos abaixo).

Para justificar o envio das tropas, o governo Trump vem dizendo em diversas ocasiões nas últimas semanas que Chicago tem altos níveis de violência e que agentes federais do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE) e do Serviço de Proteção Federal (FPS) estão sofrendo "ataques coordenados por grupos violentos".

Trump disse nesta quarta-feira que o prefeito de Chicago e o governador de Illinois "deveriam estar presos por não conseguirem proteger agentes do ICE". O presidente descreveu Chicago com diversos termos hostis nas últimas semanas, e chegou a chamar a cidade de "buraco infernal" do crime —apesar de as estatísticas policiais mostrarem quedas significativas na maioria dos crimes, incluindo homicídios.

Tropas da Guarda Nacional do Texas caminham por centro de treinamento do Exército em Elwood, perto de Chicago, nos Estados Unidos, em 7 de outubro de 2025.

REUTERS/Jim Vondruska

O envio de tropas a Chicago enfrenta forte resistência dos governos tanto da cidade de Chicago quanto do estado de Illinois, ambos democratas.

O prefeito de Chicago, Brandon Johnson, disse "rezar por Trump" para que ele se torne uma pessoa melhor e que o presidente americano "toma decisões que fariam Vladimir Putin corar". Já o governador de Illinois, JB Pritzker, acusou Trump de fabricar uma crise, usar as tropas como “peças de teatro político” e disse que não recebeu nenhum aviso prévio de Washington.

Johnson também assinou uma ordem executiva para estabelecer "zonas livres do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega)", que proibiu batidas de imigração em propriedades municipais e locais privados que se oponham à presença de agentes do ICE. A Casa Branca chamou a medida de doentia e perturbadora.

O governo de Illinois entrou na Justiça contra o envio de tropas da Guarda Nacional do Texas a Chicago, porém uma juíza federal não concedeu a liminar porque disse que precisava de mais informações para barrar a medida.

Os argumentos de Trump para enviar tropas federais para Chicago - e o que diz a oposição

Outros 300 soldados da Guarda Nacional de Illinois, estado que engloba Chicago, também foram designadas à cidade pelo secretário de Guerra, Pete Hegseth. Esse envio, porém, foi barrado pela Justiça estadual. Chicago tem mais de 2,7 milhões de habitantes e é um grande centro econômico dos EUA.

Soldado da Guarda Nacional do Texas com fuzil na mão no centro de treinamento do Exército em Elwood, perto de Chicago, nos Estados Unidos, em 7 de outubro de 2025.

REUTERS/Jim Vondruska

Apesar do governo Trump ter alegado proteção a agentes federais e combate à violência na cidade, a missão exata das tropas federalizadas da Guarda Nacional ainda não está clara.

O segundo mandato do republicano tem sido marcado por uma forte operação anti-imigração, e Chicago é considerada uma "cidade-santuário", por ter políticas voltadas a imigrantes e ser considerada segura para esse grupo. Trump tem utilizado decretos emergenciais para acelerar sua agenda nesses centros urbanos. (Leia mais abaixo)

Uma estratégia militar mais ampla

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fala com repórteres na saída da Casa Branca em 5 de outubro de 2025.

REUTERS/Aaron Schwartz

Desde que retornou à Casa Branca, em janeiro, Trump enviou ou anunciou planos de enviar tropas para dez cidades dos EUA, incluindo Baltimore, Memphis, Washington D.C., Nova Orleans e as cidades californianas de Oakland, São Francisco e Los Angeles.

A maioria dos crimes violentos nos EUA caiu nos últimos anos. Em Chicago, os homicídios diminuíram 31% até agosto, totalizando 278, segundo dados policiais. Em Portland, os homicídios caíram 51% — de 35 para 17 — entre janeiro e junho de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024.

Em Portland, uma instalação do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) tem sido palco de protestos noturnos há meses, que atingiram o auge em junho, quando a polícia local declarou motim; confrontos menores ocorreram desde então. No último fim de semana, multidões maiores se reuniram em frente à instalação, e agentes federais lançaram gás lacrimogêneo.

Um tribunal de apelações marcou para quinta-feira a audiência sobre o recurso do governo para reverter as decisões judiciais anteriores e permitir o envio da Guarda Nacional a Portland.

A governadora democrata do Oregon, Tina Kotek, disse que se reuniu na terça-feira com a secretária do Departamento de Segurança Interna, Kristi Noem, e afirmou que não há “nenhuma insurreição” no estado.

“O Oregon está unido contra o policiamento militar em nossas comunidades”, declarou Kotek.

O chefe de polícia de Portland, Bob Day, afirmou na terça-feira que o departamento precisa trabalhar mais de perto com agentes federais para aumentar a presença policial nas instalações do ICE.

“Temos tentado coordenar isso com a resposta federal porque temos políticas e expectativas diferentes em relação aos procedimentos”, disse.

Noem afirmou à Fox News na terça-feira que disse ao prefeito de Portland, Keith Wilson, que, se a cidade não reforçasse a segurança no prédio do ICE, não obtivesse apoio das forças locais e não tomasse outras medidas de segurança, “enviaríamos quatro vezes mais agentes federais para cá”.

Em setembro, um juiz federal declarou que o governo havia “deliberadamente” violado a lei ao enviar tropas da Guarda Nacional para Los Angeles, durante protestos contra as batidas de imigração.