Três títulos de Libertadores, o mesmo repórter: como jornalista do GLOBO conquistou fama de pé-quente no futebol
Não acho que jornalista tenha que ser notícia, mas abro esta exceção para abraçar a alcunha de pé-quente que me colocaram — minha trajetória no GLOBO e na profissão realmente tem tido um quê de especial. Em pouco mais de dois anos na equipe de Esportes, são três títulos de Libertadores consecutivos que tive a honra de cobrir. No Rio, em Buenos Aires e em Lima, vi Fluminense, Botafogo e Flamengo alcançarem a Glória Eterna. E, mesmo que não entre em campo, eu me senti parte de cada uma.
Cheguei ao jornal em 2023, para um último estágio que se tornou o primeiro emprego efetivo. Geralmente, o ponto de partida do repórter esportivo é o cargo de setorista, que tem o dever de contar as notícias boas e ruins de um clube, as glórias e as picuinhas do dia a dia. Quando a chefia me ofereceu o posto no Fluminense, no fim de julho daquele ano, não tive dúvida em aceitar.
O que eu não imaginava — creio que nem os editores — era que o tricolor chegaria à final da Libertadores com o Boca Juniors e seria esse jovem repórter, totalmente “verde”, escalado para estar no Maracanã no dia 4 de novembro. Fui para a missão com uma colega mais experiente, e vimos John Kennedy mudar a história do clube. Minha impressão era que todas as luzes do mundo estavam voltadas para o estádio naquele dia — e que privilégio estar ali! Ainda combinei de fazer jornada dupla para cobrir a festa dos tricolores e ficar livre no domingo, pois era o dia da minha formatura na faculdade...
No ano passado, rumei para a cobertura do Botafogo. É normal que a chefia promova rodízio dos setoristas entre os clubes, para que eles ganhem mais bagagem. O alvinegro vinha de um ano traumático, e minha primeira visita ao Nilton Santos foi um baque: derrota para o Junior Barranquilla, pela Libertadores. “Comecei com o pé-frio, mas juro que vou melhorar”, falei para um assessor de imprensa do Botafogo depois da partida.
A primeira vez no exterior
E a campanha que começou mal realmente mudou de cara: o alvinegro avançou à fase de mata-mata com uma vitória sobre o Universitario, graças a um gol de Jeffinho. Brinco até hoje que foi um “lance de traços históricos”, frase que os editores cortaram do meu texto pelo exagero. A História me vingou! Após as classificações diante de Palmeiras, São Paulo e Penãrol — com uma goleada de 5 a 0 —, estava confirmado que eu iria a Buenos Aires para a final contra o Atlético-MG. Eu nunca tinha saído do país.
Fiquei feliz em ver a torcida do Glorioso, que havia me abraçado, tomando a capital argentina. Maioria no Monumental de Núñez, os botafoguenses foram do desespero com a expulsão do Gregore à epifania com a vitória por 3 a 1. O gol de Luiz Henrique gerou a maior gritaria que já presenciei em um estádio. Dediquei o título principalmente a meu avô Francisco, que faleceu em 2017 e não pôde presenciar isso em vida, mas era possível senti-lo nos ventos gelados de Buenos Aires.
Estável e feliz no cargo, assumi novo desafio em 2025, aos 25 anos: a cobertura do Flamengo, onde tudo parece ter dimensão maior, para o bem e para o mal. Mas se a chefia havia depositado a confiança em mim, não podia deixar passar a oportunidade. A troca de posto com o colega João Pedro Fragoso veio acompanhada de mensagens de amigos alvinegros: “Fica, você é pé-quente”. Já os rubro-negros falavam: “A Libertadores é nossa!”. Negava a fama e dizia que era lenda urbana, mas, por incrível que pareça, passei outra temporada sem saber o que é relatar uma eliminação.
Vasco em 2026?
A campanha teve muitos testes para cardíacos, como a vitória sobre o Táchira na última rodada da fase de grupos e os pênaltis contra o Estudiantes nas quartas. Em ambas, Rossi garantiu a continuidade do trabalho. Internacional e Racing também foram eliminados no caminho antes da final contra o Palmeiras. Mais uma vez, botei o passaporte para jogo e vim a Lima, para testemunhar um jogo desse tamanho e ver o gol do Danilo.
É incrível a sensação de ver seu nome assinando uma reportagem que poderá ser resgatada pelos próximos 100 anos ou mais. Já são três, e contando. E esse é um dos principais sentimentos de uma carreira ainda curta, mas que já tem tanta coisa para contar. Desde sábado, já apareceram alguns amigos me chamando de “amuleto” e outros pedindo para eu voltar para a cobertura do clube deles. Ainda tem o Vasco para fechar o circuito. Já pensou se em 2026...?
