Três aliados disputam o apoio de Ratinho Jr na sucessão no Paraná
Em meio à indefinição sobre a possibilidade de disputar o Planalto em 2026, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), também deverá escolher quem ocupará o lugar de seu sucessor na corrida pelo comando do estado em 2026. À sua disposição, se colocam três nomes do PSD, que incluem o secretário das Cidades, Guto Silva, que teria a preferência pela proximidade com o mandatário. Além dele, também são cotados o presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi, e o ex-prefeito de Curitiba, Rafael Greca, já cortejados para o lançamento de chapas por outros partidos.
Entre os cotados, Guto Silva é visto como a escolha provável do governador. Ao longo dos dois mandatos de Ratinho, exerceu o comando da Casa Civil e da Secretaria de Planejamento. Atualmente, está à frente da pasta Cidades, considerada estratégica para a articulação junto a prefeitos por abarcar investimentos em infraestrutura nos municípios. A indicação do seu nome, no entanto, enfrenta resistências dentro de partidos da base do governo, que argumentam que ele tem pontuado abaixo de Curi e Greca em pesquisas de intenções de voto realizadas até o momento.
Os dois têm a preferência do Progressistas, que anunciou ontem que "não vai homologar" a candidatura ao governo do estado do senador Sergio Moro (União). Na prática, o anúncio revelado ao GLOBO pelo presidente nacional da sigla, Ciro Nogueira (PI), inviabiliza o lançamento da candidatura de Moro na disputa pelo Palácio do Iguaçu em 2026, já que o União Brasil estará federado ao PP nas urnas.
Nos bastidores, integrantes da federação e aliados de Ratinho consideram que ambas as siglas preferem compor a aliança do atual governador do que apostar no senador. Entre representantes, há a percepção de que o senador escanteou caciques dos dois partidos no Paraná e parte deles acabou migrando para outras siglas, o que irritou a cúpula nacional. Para o Senado, Moro declarou apoio à jornalista Cristina Graeml, nome associado ao lavajatismo e com pouco trânsito na classe política.
— Moro teve sete meses para agregar apoios à sua candidatura e não conseguiu ninguém. Está decidido que ele não será candidato pela federação, e depois vamos avaliar se lançamos candidatura própria ou se fazemos aliança — afirmou o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR).
Barros, cuja filha preside o diretório do PP no Paraná, foi quem organizou a visita de Ciro Nogueira ao estado ontem. Crítico notório da Lava-Jato, operação que teve Moro como juiz, o parlamentar também afirma que a legenda trabalha no Paraná para “eventualmente filiar o Rafael Greca ou o Alexandre Curi”, dois nomes do PSD cogitados também como escolhas de Ratinho à sucessão.
Atualmente secretário de Desenvolvimento Sustentável do governo do Paraná, Greca afirmou que está “deixando que as coisas aconteçam” e que respeita qualquer decisão de Ratinho, mas frisou ser “o melhor colocado” nas pesquisas. Ele também destacou ser próximo a Ricardo Barros e à mulher do deputado, a ex-governadora Cida Borghetti, que já foi citada como possível candidata do PP ao governo.
— É muito cedo para falar em mudança de partido. O PP indica que quer estar comigo, são meus amigos há muitos anos, mas também converso muito com o governador. Nunca fui candidato contra ninguém — disse Greca.
Curi, embora esteja no PSD, exerce influência hoje sobre o diretório estadual do Republicanos, onde emplacou seu irmão como vice-presidente. O partido, que já declarou apoio ao presidente da Assembleia para concorrer ao governo, filiou recentemente o deputado federal Pedro Lupion. Líder da bancada ruralista, Lupion deixou o PP por avaliar que estava sem espaço na federação com o União Brasil para concorrer ao Senado.
— Minha candidatura (ao governo) tem sido construída aos poucos, com muito diálogo e atenção ao que se tem sido discutido pela atuação do pessoal do meu partido, o PSD — disse Curi.
Segundo interlocutores, a escolha do indicado final será deixada para março, mais próximo do prazo de descompatibilização exigido para a entrada no processo eleitoral.
Portas fechadas
Além da dificuldade para ter apoio do Centrão, Moro tampouco conseguiu atrair o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro. O partido negocia uma aliança com Ratinho Jr. e alinhou com o governador que indicará um candidato ao Senado em sua chapa. O deputado federal Filipe Barros (PL-PR) é o nome mais cotado.
Apesar do isolamento, Moro vem sustentando a candidatura pelo fato de ser o nome que mais pontua em pesquisas de intenções de voto divulgadas até aqui, e lideranças partidárias no Paraná avaliam que ele pode migrar para outro partido se for barrado no União. Por ora, no entanto, outras siglas com perfil próximo ao do senador, como o Novo e o Missão, já têm seus pré-candidatos ao governo.
O Novo filiou o vice-prefeito de Curitiba, Paulo Martins, bolsonarista que deixou o PL por discordar da aliança com os nomes apontados como sucessores de Ratinho. Martins afirma que “a base não digeriria” uma filiação de Moro, e que o senador “teria dificuldade” para encontrar espaço no partido. Uma das apostas do Novo é lançar o ex-deputado Deltan Dallagnol ao Senado, embora ele tenha sido cassado em 2023 pela Justiça Eleitoral, o que pode deixá-lo inelegível.
Deltan, então procurador, foi o coordenador da Lava-Jato em Curitiba quando Moro era o juiz responsável pelos casos da operação, mas ambos se afastaram na eleição de Curitiba no ano passado. O ex-procurador apoiou Pimentel, enquanto Moro se alinhou a Cristina Graeml.
Já na esquerda, alas do PT e PDT divergem sobre a escolha da candidatura que será o contraponto ao sucessor de Ratinho e a Moro. De um lado, o deputado estadual Requião Filho tem se colocado como pré-candidato ao governo. Do outro, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia apoiar o ex-deputado estadual Enio Verri (PT), diretor da Itaipu Binacional e aliado da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT).
