‘Textão’ que foi base para cinco questões no Enem 2025 estreia novo modelo do MEC e pode se repetir no próximo domingo
A edição de 2025 marcou a estreia de um novo formato de questão no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): os "testlets", modelo em que um único texto, gráfico ou situação-problema serve de base para várias questões independentes. A metodologia, usada em avaliações internacionais como o Pisa, apareceu pela primeira vez no domingo (9), na prova de Linguagens, com um longo texto seguido de cinco itens — o maior bloco integrado da história do exame.
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Segundo o Inep, responsável pela aplicação, a proposta torna a prova mais contextualizada e favorece a integração dos conhecimentos avaliados. O uso de um texto-base único também permite reduzir o tamanho da prova, aproximar o exame da leitura de fontes primárias, explorar tarefas cognitivas mais complexas e evitar a duplicação de esforços na leitura de vários excertos, diz o instituto.
— Os itens apresentados nesse modelo foram todos pré-testados. A expectativa é que o modelo seja adotado não apenas para Linguagens, mas expandido para outras áreas — antecipou Hilda Linhares, diretora de Avaliação da Educação Básica do Inep.
A ex-presidente do Inep Maria Helena Guimarães também vê a mudança como positiva.
— Sou favorável e considero um avanço importante para o aperfeiçoamento do Enem. O novo modelo de teste é mais inteligente, requer domínio de leitura e estimula o raciocínio crítico do estudante. É mais exigente. Requer mais preparo e habilidade de compreensão leitora. Desafia o estudante a resolver tarefas e problemas mais complexos.
Modelo pode aparecer no segundo dia
Para o especialista em Educação Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Educação, a mudança indica um caminho claro: provas mais interdisciplinares.
— O modelo organiza várias questões em torno de um mesmo texto-base. Pode ser um gráfico, uma tabela, uma situação-problema. É exatamente o que já acontece no Pisa, em que o estudante lê um único estímulo e responde a itens diferentes, cada um com seu próprio comando e alternativas — explica.
Celedônio considera provável que o formato reapareça no próximo domingo (16), na prova de Ciências da Natureza.
— O próprio Inep diz que o modelo pode ser usado em outras áreas. Não seria absurdo que um texto sobre meio ambiente, por exemplo, desse origem a questões de Biologia e Química — talvez até das três disciplinas da área. Isso empurra o Enem para um formato mais interdisciplinar.
Cansativa, mesmo mais curta
Apesar de a prova deste ano ter sido considerada “mais curta”, ela manteve as mesmas 32 páginas tradicionais — o que indica que o volume de caracteres e imagens seguiu próximo ao de edições anteriores.
Para Celedônio, a sensação de cansaço relatada por muitos participantes pode estar ligada à dificuldade maior em Ciências Humanas, apontada por estudantes, além do impacto do “textão” de Linguagens.
A adoção dos "testlets", segundo ele, deve continuar.
— Me parece uma tendência. O Inep provavelmente já está testando novos modelos para um novo Enem. E isso é positivo: permite avaliações mais integradas e próximas de situações reais.
O primeiro textão
O texto “De próprio punho”, da escritora mineira Ana Elisa Ribeiro e publicado na revista Rascunho, ocupou toda a primeira página da prova de Linguagens — algo inédito desde 2009 — e retratou outra transformação entre gerações. Em 45 linhas e 2.863 caracteres, ele relata, de forma lúdica, como a escrita à mão entrou em desuso e foi substituída gradualmente pela tecnologia.
“A escrita e suas tecnologias incríveis vão se reposicionando, mudando de status, numa ciranda interessante e importante que pode ser vista à luz de certa diversidade que encontra suas oportunidades e seus efeitos, aqui e ali”, diz a autora em sua obra. O texto serviu de base para cinco questões — recurso recorrente nos antigos vestibulares tradicionais, mas que nunca havia sido utilizado no Enem.
Levantamento do GLOBO mostra que nenhum outro texto do Enem passou de dois mil caracteres — o segundo maior apareceu em 2010, um editorial do jornal “Folha de S. Paulo”, de 1.904 caracteres.
— O texto deste ano teve até as linhas numeradas, parecendo bem o formato dos antigos vestibulares. Para o Enem, ele é gigante — afirmou Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações Educacionais no SAS Plataforma de Educação.
