Tarcísio diz que apoia Flávio, mas que 'está cedo ainda' para avaliar escolha de Bolsonaro
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou nesta segunda-feira, 8, que a candidatura a presidente do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) terá o seu apoio, mas que provavelmente não será a única no campo da direita. Ele também disse que ainda está cedo para avaliar se a decisão de Jair Bolsonaro em escolher o seu filho para ir às urnas é a mais correta.
— Isso aí a gente vai avaliar ao longo do tempo agora. Eu acho que está cedo — declarou ele, ao ser indagado sobre números das pesquisas eleitorais que colocam Flávio em desvantagem contra Lula (PT) e com pior performance do que outros postulantes, incluindo Tarcísio.
Tarcísio finalmente comentou sobre o fato político na tarde desta segunda-feira, 8, durante o anúncio do repasse de verbas de custeio para a saúde de Diadema, cidade do ABC paulista. A informação de que Bolsonaro escolheu Flávio para a disputa contra Lula (PT) em 2026 veio à tona na última sexta.
— O presidente Bolsonaro é uma pessoa que eu respeito muito, sempre disse que eu serei leal a ele. Isso é inegociável. O Flávio vai contar com a gente. Ele tem uma grande responsabilidade a partir de agora, porque ele se junta a outros grandes nomes da oposição, como Zema, Caiado e Ratinho Júnior, todos extremamente qualificados — afirmou o governador.
Tarcísio alegou que o mais importante é um "projeto estrutural" de país, e não o candidato, e que vê como positiva a multiplicidade de candidaturas. Disse ainda que uma crise fiscal é inevitável em 2027 e criticou o "desarranjo" político e institucional que, em sua opinião, derivada de uma "crise de liderança".
— São muitas questões que vão demandar esse projeto, esse esforço e essa liderança, e o Flávio agora se apresenta para encabeçar esse projeto — afirmou o govenador. — Acho que vamos ter vários projetos realmente, que vão convergir no segundo turno. Em termos de estratégia eleitoral, vai ser positivo, porque vão apresentar uma discussão de alto nível.
Resistências a Flávio
Apesar do discurso de reeleição, Tarcísio era o postulante favorito entre dirigentes de partidos do “Centrão” para a vaga e articulava apoios. Sem o endosso de Bolsonaro, de quem foi ministro, ele não deve concorrer. Parte do meio político, contudo, analisa o posicionamento de Flávio como uma tentativa de manter o protagonismo nas discussões eleitorais e tentar um acordo pela anistia no Congresso.
Pesa contra o filho de Bolsonaro o histórico de polêmicas, incluindo acusações de “rachadinha” no gabinete da Alerj que resultaram na abertura de investigações, além da rejeição ao sobrenome do ex-presidente. Alguns dos principais articuladores políticos entendem, a partir das pesquisas de momento, que Flávio reduziria as chances de vitória contra Lula e teria mais dificuldades de conquistar o eleitorado de centro.
A análise, como regra, tem sido feita nos bastidores, de modo a não se indispor com o bolsonarismo. Ciro Nogueira, presidente do PP, um dos entusiastas da candidatura de Tarcísio, foi um dos poucos que manifestou a indisposição publicamente. Em viagem a Curitiba, declarou que a decisão “não pode ser só do PL” e que os governadores Tarcísio e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, teriam mais viabilidade de aglutinar a direita.
— Se eu tivesse que escolher pessoalmente um candidato para suceder o Bolsonaro, seria o Flávio, pela minha proximidade, mas política não faz só com amizade. Faz com pesquisa, viabilidade, ouvindo partidos aliados — disse.
Valdemar Costa Neto, presidente do PL, contudo, ratificou a decisão de Bolsonaro, dizendo que, a partir deste momento, Flávio é o candidato do partido para 2026.
De "tem um preço" a "irreversível"
No final de semana, Flávio deu ainda mais motivos para desconfiança de que a candidatura não seria para valer ao dizer que tem “um preço” para desistir da eleição. Ele deu a entender que seria a liberdade do pai, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão como líder da trama golpista e que atualmente cumpre pena na superintendência da Polícia Federal em Brasília.
Menos de 24h depois, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, Flávio mudou o discurso e passou a alegar que a candidatura é "irreversível" e que a única possibilidade de ser substituído seria por Jair. “Eu também atendo a todos os requisitos, com a vantagem de que tenho o sobrenome Bolsonaro”, disse ele, descartando Tarcísio como opção: “Seria uma ignorância muito grande, e ignorante é tudo o que Tarcísio não é.”
Tarcísio permaneceu três dias sem emitir declarações sobre a candidatura de Flávio. Mais cedo, o governador de São Paulo participou da posse do ex-deputado estadual Carlos Cezar (PL) no Tribunal de Contas do Estado (TCE) ao lado de Valdemar, e mais uma vez foi blindado de questionamentos da imprensa por assessores, seguranças e até policiais.
Indicado pela Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), Cezar consolida a influência de Tarcísio na Corte. Dos sete membros, quatro foram nomeados durante o seu mandato. O órgão é responsável por julgar a prestação de contas do estado e dos municípios paulistas, exceto a capital, além de fiscalizar contratos e outros procedimentos administrativos.
Tarcísio, assim como Valdemar, saiu rapidamente ao término do evento por uma porta lateral do auditório à qual apenas autoridades tinham acesso. Quem tentava contornar o salão tinha pela frente um painel móvel no meio do corredor que impedia chegar aos elevadores e era observado de perto por guardas.
Flávio, por sua vez, tem uma reunião marcada com dirigentes de partidos esta noite, em sua casa, em Brasília, com expectativa de reunir partidos como PL, PP, União Brasil e Republicanos. Por volta do mesmo horário, o governador deve jantar com o corpo consular no Palácio dos Bandeirantes.
