Situação financeira difícil do agro não tira o sono do Bradesco, diz presidente do banco

 

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O agronegócio, que mesmo com safra recorde em 2025/2026 enfrenta perda de rentabilidade, com alta de inadimplência e pedidos de recuperação judicial, continua sendo uma boa oportunidade de negócios para o Bradesco. Durante apresentação de resultados do terceiro trimestre, o presidente do banco, Marcelo Noronha, afirmou que o setor "não tira o sono" do banco.

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— No curto prazo, pode ter um soluço um pouco maior com esse negócio do financiamento de equipamentos. Mas isso não tira o nosso sono, nem as oportunidades que a gente tem dentro desse setor. Esse é talvez o setor mais dinâmico da economia brasileira. A tendência dele é de crescimento — disse Noronha.

Este ano, o Bradesco comprou 50% do Banco John Deere, especializado em financiamento de equipamentos para o agro, e ampliou sua atuação setor. Essa parceria permite ao Bradesco oferecer mais crédito e serviços aos clientes e concessionários da John Deere. O John Deere manteve sua marca e autonomia na gestão de seus negócios.

Na carteira total de crédito do Bradesco, o crédito rural avançou 10,5% no terceiro trimestre na compração com o trimestre anterior e 20,6% na comparação anual. Foi uma das linhas que mais cresceram, compensando a tendência mais fraca nos empréstimos a grandes empresas, que recuaram 1,2% no período.

"A carteira de crédito expandida do Bradesco continuou a crescer no terceiro trimestre, embora em um ritmo mais moderado, refletindo a abordagem disciplinada do banco para uma expansão ajustada ao risco. A carteira total atingiu R$ 1,034 trilhão, alta de 1,6% na comparação trimestral e de 9,6% na anual", escreveram os analistas da XP Investimentos.

Noronha afirmou que o Bradesco está "muito feliz" com o negócio com o John Deere. Ele disse que esse banco tem uma "pulverização maior" no financiamento de equipamentos e, até pelo tamanho diferente das empresas do agro, carrega alguma inadimplência.

— Mas temos normalmente temos tido uma boa recuperação no tempo, de um trimestre para o outro. Mas estamos mais restritos do que outros operadores do agro brasileiro. E operamos, evidentemente, com garantias — explicou.

Noronha disse que também há muita coisa boa acontecendo no agro, que vem ganhando produtividade. Ele disse que a situação de cada empresa depende da região, da lavoura. Ele afirmou que o banco trabalha com modelos de crédito e tem agrônomos junto com o time comercial, "que conhecem profundamente certos tipos de lavoura, certos tipos de região, e que opinam no risco de crédito", explicou.

A inadimplência no agro chegou a 7,9% da população rural no primeiro trimestre de 2025, segundo a Serasa Experian, um aumento de 0,9 ponto percentual em relação ao mesmo período de 2024. Segundo um estudo da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), a oferta de cr[édito para o setor é a menor desde o Plano Real. Somente nos meses de julho, agosto e setembro, houve uma queda de 23% nos recursos disponíveis de custeio na comparação com o ciclo anterior. Nos investimentos a queda é de 44%.

O número de recuperações judiciais no agronegócio brasileiro bateu recorde no segundo trimestre de 2025, com 565 pedidos, uma alta de 31,7% em relação ao mesmo período de 2024. Esse crescimento, que representa o maior volume desde 2021, é provocado pela por juros elevados, altos custos de insumos, impactos climáticos e a alta do dólar, que afetaram a capacidade de pagamento de dívidas, segundo dados da Serasa Experian.

Lucro em linha com expectativas

No terceiro trimestre, o Bradesco apresentou lucro líquido recorrente de R$ 6,2 bilhões, alta de 2% na compração trimestral e de 19% em relação ao mesmo período do ano passado. O número veio dentro do que o mercado esperava.

"O Bradesco reportou resultados sólidos no terceiro trimestre, em linha com as expectativas. O banco continua a consolidar a rentabilidade e melhorar a qualidade dos ativos, confirmando progresso consistente. A recuperação permanece gradual, mas o banco parece ter alcançado uma nova base de normalização dos lucros", escreveram os analistas da XP Investimentos.