Setor do turismo busca saídas para expandir número de visitantes sem degradar destinos
Após o recorde de visitantes estrangeiros no Brasil registrado este ano, o setor já busca estratégias para manter o viés de alta. Mas o crescimento precisa ser sustentável, respeitando limites sociais e ambientais dos destinos, a fim de evitar o chamado “turismo de massa”, de características predatórias, como discutiram os participantes do evento “Caminhos do Brasil”.
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— Não basta só comemorar o recorde. A gente já tem que saber de que maneira vai se manter esse crescimento, de maneira responsável, organizada e estruturada — afirmou Ana Carla Lopes, diretora-executiva do Ministério do Turismo, frisando que os números de 2025 foram alcançados a partir de um trabalho integrado unindo esferas pública, privada e a sociedade civil. — Não quero sair de 8 milhões para 15 milhões no ano. Eu quero sim, de maneira construtiva, fazer com que o turismo continue sendo uma das principais atividades e um dos principais setores do Brasil.
Para a representante da pasta, a fórmula do equilíbrio do crescimento sustentável está na elaboração de políticas singulares e adequadas para cada destino, em uma processo de escuta das comunidades locais, em parceria com setor público, privado e terceiro setor. Ela deu como exemplo a Ilha do Combu, em Belém, que durante a COP30 recebeu milhares de pessoas. Apesar do saldo bem-sucedido, também houve cenas de caos em filas no terminal hidroviário, diante da extrema lotação.
— A Ilha do Combu fica a 10 minutos de Belém e é uma experiência turística já consolidada para quem é da região. Só que, a partir do momento que a gente abre as portas para 50 mil pessoas entrarem na cidade, essas pessoas procuram a melhor experiência, como o Combu. Mas os portos da região são para pequenos barcos de dez pessoas. Então o direcionamento da política deve ser de maneira singular, atendendo a particularidade daquela região, daquela experiência, daquele produto. A gente tem que ouvir quem está lá, eles têm que fazer parte da decisão. A parceria é essencial para combater o turismo de massa, porque não adianta só uma política pública de cima para baixo, a gente tem que saber quem é que vai estar lá na ponta.
Exemplos internacionais
Mundo afora, famosos destinos turísticos vêm impondo medidas de controle a fim de limitar o turismo de massa. Há casos famosos como Monte Fuji, no Japão, e Machu Picchu, no Peru, que diminuíram o horário e o número de visitantes por dia; Veneza, na Itália, que restringiu acesso de grandes grupos e a venda de ingresso; e Mallorca, na Espanha, que passou a cobrar uma taxa diária por visitante.
— Turismo de massa não é mais bem-vindo no mundo inteiro. Aquele turismo que vem com montes de pessoas devastando tudo, principalmente a natureza. Nós estamos saindo de uma COP30 e vemos o reflexo da necessidade de a gente cuidar do nosso planeta. E o turismo tem muita contribuição no tema — destacou Ana Carolina Dias, presidente do conselho de administração da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav). — A gente precisa de investimentos em estrutura, de hotéis, restaurantes, pontos turísticos, e de agências com qualificação para buscar parceiros com responsabilidade.
No Brasil, também vêm crescendo medidas de controle de turismo de massa em famosos destinos turísticos, através de taxas de visitação, mas não sem polêmica. O modelo é defendido pelo viés da proteção ambiental, com a possibilidade de arrecadar valores que abasteçam os cofres públicos. Ao mesmo tempo, há temores relativos à elitização do lazer e à redução de frequentadores, impactando a renda de quem vive de acolher os visitantes.
De Angra a Noronha
Recentemente, houve aprovações de cobranças de taxas em destinos como Campos do Jordão, no interior de São Paulo, e Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio. Outros locais já usam esse expediente há mais tempo, principalmente pelo argumento ambiental, como Morro de São Paulo (BA), Fernando de Noronha (PE) e Ubatuba (SP). Em Jericoacoara (CE), o caso foi parar na Justiça.
Na avaliação da secretária-executiva do Ministério do Turismo, as taxas de visitação devem ser debatidas de acordo com cada caso, considerando principalmente as necessidades da cidade e a sua condição ambiental:
— Não dá para São Paulo ou Rio de Janeiro cobrarem uma taxa de visitação. Mas os destinos que são principalmente mais vulneráveis a questões climáticas, ou a uma crescente muito grande de visitantes, a gente deve ter como atenção, e às vezes é até necessário necessário para combater o turismo de massa — argumentou Ana Carla Lopes.
O projeto “Caminhos do Brasil” é uma iniciativa dos jornais O GLOBO e Valor e da Rádio CBN, com patrocínio do Sistema Comércio, através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas federações.
