Seminário especial 'Caminhos do Brasil' discute turismo no país, que bateu recorde de visitantes em 2025

 

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O recorde de 8 milhões de turistas internacionais no Brasil, registrado de janeiro a novembro deste ano, evidencia o potencial do país em desenvolver a atividade a despeito de gargalos estruturais como infraestrutura, qualificação de mão de obra e segurança pública. As oportunidades e os desafios do setor estiveram no centro do debate entre autoridades e representantes do mercado que participaram do evento “Caminhos do Brasil-Turismo”, uma iniciativa dos jornais O GLOBO e Valor e da rádio CBN, realizado na semana passada, no Rio.

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O seminário coincidiu com a semana em que o Ministério do Turismo e a Embratur divulgaram que o país recebeu 8 milhões de visitantes estrangeiros nos 11 primeiros meses do ano. Os números representam o melhor ano do setor desde que os dados começaram a ser contabilizados, em 1974. Em 2024, por exemplo, haviam sido computados 6,7 milhões de turistas do exterior.

Com o resultado, o Brasil já superou a meta anual de 7,7 milhões estabelecida pelo Plano Nacional de Turismo 2024-2027. Em um cenário mais promissor, o documento do governo federal fala em 10 milhões de estrangeiros até o fim do período.

Encontro promovido por O GLOBO, Valor e Rádio CBN debateu o turismo com várias autoridades

Fabiano Rocha

Dados festejados

A secretária-executiva do Ministério do Turismo, Ana Carla Lopes; a presidente do conselho de administração da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Ana Carolina Dias; e o presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação e diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Alexandre Sampaio, comemoraram os números no debate mediado pelas jornalistas Alessandra Saraiva, do Valor, e Glauce Cavalcanti, do GLOBO.

Para Ana Carolina Dias, da Abav, a influência positiva do setor sobre a economia foi perceptível após a pandemia de Covid-19:

— A gente estava engatado naqueles 6 milhões (de turistas internacionais) há anos. Depois do que nós passamos, as pessoas viram que o turismo deu um resultado rápido economicamente. O turismo dá rentabilidade, gera resultados e empregabilidade.

Na avaliação dos participantes, o interesse pelo patrimônio histórico e cultural das cidades do país tem crescido nos últimos anos. A presidente do conselho da Abav destacou o potencial do país a partir da diversidade natural de paisagens como a Amazônia, os Lençóis Maranhenses e o Pantanal.

— A gente está tão acostumado com o potencial do Brasil que, muitas vezes, não dá valor. O Brasil tem potencial muito grande, e é essa experiência que as pessoas estão buscando — frisou Dias.

Os debatedores também ressaltaram marcos importantes para o reconhecimento da atividade em âmbito internacional. O mais recente foi a citação do turismo como ferramenta de combate às desigualdades na declaração do G20, divulgada na cúpula de Joanesburgo, na África do Sul. Foi a primeira vez que o tema surgiu em um texto final do fórum de potências econômicas.

— É um ganho fenomenal que fica não só para os países que fazem parte do bloco, mas para o mundo — destacou Ana Carla Lopes, do Ministério do Turismo.

Já Alexandre Sampaio, diretor da CNC, lembrou a escolha do Rio como sede do primeiro escritório regional da ONU Turismo nas Américas:

— É uma ratificação da importância do destino para toda a América do Sul.

Infraestrutura

Apesar do tom otimista, os participantes admitiram que o país precisa superar problemas crônicos para desenvolver novos destinos e ampliar a participação do setor na economia brasileira. O turismo e as demais atividades relacionadas ao setor representam em torno de 8% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados do Ministério do Turismo e do IBGE.

A secretária-executiva do Ministério do Turismo afirmou que a pasta atua em conjunto com os ministérios de Portos e Aeroportos e dos Transportes para realizar obras de asfaltamento, pavimentação e construção de pontes:

— Eu quero chegar nos dois dígitos de PIB, mas eu quero que chegue de maneira responsável. E para isso a gente precisa, sim, investir em infraestrutura.

Sampaio, da CNC, defendeu a inclusão do turismo no programa de governo dos candidatos às eleições nacionais e estaduais do ano que vem para que o setor tenha cada vez mais importância e seja reconhecido como uma atividade econômica fundamental para a economia do Brasil.

— O Brasil precisa de diálogo. Precisa de segurança jurídica. Precisa de políticas públicas construídas com base na escuta ativa da sociedade e dos setores produtivos — disse José Roberto Tadros, presidente da CNC, em discurso recente no Senado.

Os participantes do seminário relativizaram o impacto da violência sobre a atividade. Após uma megaoperação no Complexo do Alemão deixar 122 mortos no fim de outubro e repercutir na imprensa internacional, o setor havia ressaltado os efeitos negativos para a imagem do estado às vésperas da alta temporada.

Ana Carolina Dias, da Abav, pontuou que a segurança pública prejudica a prospecção do Brasil como destino para os estrangeiros. A violência, diz, também afasta os próprios brasileiros do estado do Rio.

— A insegurança existe no mundo todo, mas o que assusta no Brasil não é o assalto de roubar carteira, e sim a criminalidade de uma forma mais agressiva — argumentou.

Ainda assim, Sampaio, da CNC, ponderou que a violência não é um limitador para a atração de turistas:

— A gente tem outros problemas que talvez mereçam mais atenção. Se a gente desenvolver e ressaltar as nossas vantagens comparativas, nós superamos esse processo.

O projeto “Caminhos do Brasil” é uma iniciativa dos jornais O GLOBO e Valor e da Rádio CBN, com patrocínio do Sistema Comércio, através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas federações. (*Do Valor)