Sem luz em casa, paciente renal de 12 anos precisa descer 14 andares de escada para fazer diálise em SP

 

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A menina Maria Sofia Araujo Freiria, de 12 anos, precisou descer 14 andares de escada, sem luz elétrica, na última quinta-feira (11) para chegar ao Instituto da Criança, no Hospital das Clínicas, em São Paulo. A corrida ao hospital teve motivo sério para acontecer. Maria Sofia é paciente renal, está na fila do transplante e, por razões médicas, não pode ficar mais do que 24 horas sem fazer o procedimento de diálise.

A corrida até o HC foi acompanhada pela mãe, Daylyana Araujo, de 42 anos, que tentava contato com a Enel para ressaltar a necessidade de que a alimentação de energia fosse restabelecida no apartamento em que elas moram, no bairro da Mooca. Isso porque, em dias normais, a menina consegue fazer o tratamento em casa, junto à mãe, enquanto dorme.

A energia começou a faltar na casa da família entre segunda e terça-feira. Na terça, chegou a São Paulo o ciclone que trouxe chuvas intensas à cidade e fez disparar o número de imóveis sem luz — na quarta-feira, quando o fenômeno trouxe um vendaval, 25% da cidade ficou às escuras. Embora tenha começado antes do auge do caos na metrópole, o problema de energia de Daylyana teve uma demora no reparo por conta e “alta demanda” de atendimento, disse um responsável pela Enel, ao telefone, para Daylyana, em mensagens também ouvidas pelo GLOBO.

— Maria Sofia sofre de insuficiência renal. Nós passamos 50 dias internadas entre agosto e outubro. Ela fez uma cirurgia e teve que colocar os cateteres para fazer a diálise. No caso dela, o procedimento pode ser feito em casa. Conseguimos os equipamentos junto com o HC, do convênio e viemos para casa para ter melhor qualidade de vida — diz a mãe. — É um processo que é para ser feito normalmente à noite porque a pessoa fica ligada na máquina durante 10 horas. Desse modo pode dormir e encerrar o procedimento pela manhã.

A partir da tarde de terça, não havia mais luz no apartamento. A principio, foi informado que o serviço seria retomado naquele dia mesmo por volta das 22h, por conta da prioridade que a saúde de Sofia requer. O que não foi feito. Na quarta, pela manhã, foi pedido que a mãe mandasse documentos referentes ao quadro de saúde da menina. Sem resposta ou previsão da Enel sobre a retomada do serviço na casa, porém, foi preciso levar Sofia ao hospital para que ela fizesse o procedimento de diálise, vital para ela, sob internação.

— Fomos ao hospital, nos internamos. A luz voltou ontem por volta das 16h, mas ai já não podiamos sair, pois era preciso esperar ter alta — explicou. — Descemos 14 andares de escada para ir ao hospital. O ideal, nesses casos, é fazer o procedimento com a máquina que temos aqui em casa, mas ela pesa 20 kg e era dificílimo leva-la no escuro.

O plano da família é que a diálise siga ocorrendo normalmente em casa. Para isso, investiram em um equipamento de "nobreak" que pode facilitar a estabilidade do serviço de maneira temporária. O investimento foi de R$1,2 mil.

— A nossa prioridade é o conforto dela. Além disso, desligar a máquina após o procedimento ter começado não é simples. Pois há um risco bem alto de infecção. Não é tão simples ligar e desligar — afirma. — De noite, ela orava e dizia: Senhor, sei que tem muitas pessoas precisando. Mas só me mande a luz (elétrica) que não peço mais nada.

Procurada, a Enel não respondeu porque levou tanto tempo para religar o serviço na casa de Daylyana.