Sem energia em casa, paulistano vai ao bar para carregar o celular e manter a rotina

 

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Com o apagão que dura mais de 24 horas na capital paulista, muitos moradores estão tendo de se improvisar e pedir favores para conseguir carregar o celular. Na Vila Santa Catarina, próximo ao terminal Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, Beatriz Gatz, de 21 anos, segue sem energia desde às 9h de quarta-feira (10). Moradora do 12º andar de um prédio da Rua Viçosa do Ceará, ela conta que os geradores estão fornecendo energia apenas para a parte social do prédio, elevadores e portões.

—- Têm muitas crianças e idosos aqui, estávamos em um grande problema sem geradores. Primeiro informaram que a luz voltaria ontem ao meio dia de ontem, mas nada. Depois a previsão passou para às 14h, para às 17h… E até agora não voltou —- conta.

Sem bateria no celular e no computador, a estudante precisou procurar por algum conhecido da região que ainda estivesse com energia elétrica para poder trabalhar. Na casa de uma amiga, ela carregou todos os eletrônicos, incluindo carregadores portáteis, para abastecer a família.

—- No final do dia, quando voltei para casa, vimos que a comida da geladeira estava começando a estragar. Meus pais levaram tudo para a casa de uma tia. Não temos noção de quando a energia vai voltar —- diz. A família também está sem água potável, já que o filtro elétrico não funciona.

A poucas quadras dali, Valmis Borges, de 79 anos, recorreu a uma lanchonete para poder carregar o celular e, assim, trabalhar. Morador da Rua das Tâmaras, o corretor de seguros não consegue atuar desde às 15h de ontem, quando a energia elétrica acabou em sua casa.

—- Quero saber quem vai pagar pelo meu prejuízo. Fora o nervosismo… Essa situação nos deixa perdidos — relata o corretor.

Na mesma lanchonete, pouco depois chegou Rosângela Dias com a mesma demanda: carregar o celular. Cabeleireira e dona de um pequeno salão de beleza na Avenida Damasceno, ela também está sem energia desde o início da tarde de quarta.

—- Precisei dispensar a manicure que trabalha comigo. O salão funciona no endereço da minha casa, somos só eu e ela —- diz.

Rosângela conta que cancelou ao menos dez clientes entre ontem e hoje. Houve solução apenas para um atendimento, realizado de última hora na casa da cliente.

—- O prejuízo mesmo vai vir no final do mês —- relata

Na Zona Sul, as tomadas da estação do metrô Praça da Árvore foram disputadas por jovens e adultos que precisavam recarregar as baterias dos celulares para conseguir manter a rotina do dia.

Idosa fica trancada em casa

Na Rua Morro Agudo, na região de Perdizes, Zona Oeste da capital paulista, uma árvore caiu ontem por volta das 10h e desde então impede a passagem de moradores, transeuntes e carros. A árvore caiu no terreno de Neide Maria, de 73 anos. A aposentada, desde o ocorrido, não consegue sair de casa.

A aposentada Neide Maria, de 73 anos, que não consegue sair de casa por ter uma árvore bloqueando a entrada em Perdizes

Maria Isabel de Oliveira

—- Só posso sair de casa se for para descer a rua, mas há tantos morros na região, não aguentarei andar. Tentei chamar um carro de aplicativo, mas eles estão reclamando de vir até aqui. A fiação da rua está toda estourada —- diz Neide.

Ela e seu filho, Thiago, de 39 anos, acreditam que o muro não foi danificado, já que a estrutura da plantação foi contida pela copa de uma árvore da casa. A certeza só virá quando a árvore caída for retirada —- o que segue sem previsão. A idosa estava em casa quando a árvore caiu, em decorrência da ventania.

—- Quando aconteceu, eu estava no terraço em cima da minha garagem, rezando. Quando terminei, ela caiu e fez um estrondo. Comecei a tremer, meu filho gritou e eu entrei. Ainda está ventando e eu estou com muito medo, com pavor que aconteça algo —- relata a aposentada.

Apesar de Neide seguir com energia elétrica, três casas da rua seguem sem luz desde a manhã de quarta. Um de seus vizinhos, de mais de 80 anos, não consegue usar o carro, pois a árvore está impedindo a retirada.

*Estagiária sob supervisão de Luiz Rivoiro