Seguradoras usam IA para novas coberturas
As seguradoras vêm criando produtos voltados para o campo e utilizando tecnologia para aprimorar as apólices no mercado. A estratégia visa ampliar a penetração no meio rural no momento em que a contratação de seguros vem caindo nos últimos anos. Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), a área rural segurada caiu pela metade no ano passado, para 7 milhões em 2024. Para este ano, espera-se um novo recuo nessa cobertura, de 5%.
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—A demanda para o seguro acompanha o ritmo do crédito aos produtores, que estão preocupados com taxas de juros, perdas de produção e aumento do endividamento. Isso retrai a busca por crédito e, em consequência, por seguro — avalia Fabio Damasceno, diretor técnico de seguro rural da Mapfre.
Uma experiência-piloto lançada pela companhia no Centro-Oeste, o seguro “Faixa + Margem”, voltado à cultura da soja, trouxe bons resultados, segundo Damasceno. É um produto multirrisco que usa a produtividade histórica do produtor como base de cálculo, permitindo regulação dos sinistros por área total ou por talhão (um pedaço do terreno).
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Outro produto com tecnologia embarcada é o “Posiciona Agro”, apólice patrimonial que utiliza dados geográficos para aprimorar a análise de risco do cliente.
O mercado tem investido no uso de inteligência artificial (IA), ferramentas com imagens de satélite e drones, especialmente no seguro multirrisco, que tem sido o mais procurado pelos produtores, diz Talita Ferrari, diretora comercial da Wiz Corporate.
Esse produto, que cobre perdas nas lavouras provocadas por eventos climáticos extremos como seca, chuva e granizo, é o mais procurado. Hoje, cerca de 65% de todas as apólices vendidas para o campo estão concentradas em grãos, especialmente soja, milho e trigo.
Prejuízo com seca
Com 175 hectares destinados a lavouras em duas propriedades em Rancharia, no interior de São Paulo, o produtor rural Antônio Américo de Aquino conseguiu suportar o prejuízo provocado pela queda de safra de soja em função de uma forte estiagem que ocorreu em 2023, graças a uma apólice contratada naquele mesmo ano.
— Eu pressenti o perigo. O seguro dá tranquilidade e nova vida ao agricultor — afirma Aquino.
Verba menor
Apesar dessa tranquilidade, menos de 7% das terras agrícolas estão seguradas, calcula o presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Glaucio Toyama. Segundo ele, o programa de subvenção do governo ao Prêmio do Seguro Rural, que sofreu drástica redução de seu orçamento — de R$ 1,06 bilhão para R$ 445,2 milhões —, deveria ter subido para R$ 2,5 bilhões.
— Ampliaria em 20 milhões de hectares a área segurada — afirma o executivo.
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Enquanto isso, o mercado busca novos produtos, como o seguro paramétrico, uma das inovações mais relevantes do segmento, pois muda a lógica tradicional da indenização.
Em vez de depender de vistorias presenciais ou análises demoradas das perdas, a indenização é acionada automaticamente quando indicadores pré-definidos — como volume de chuva, temperatura ou índice de vegetação — ultrapassam os limites estabelecidos no contrato, imprimindo rapidez nos pagamentos.
Segundo Gabriel Perez, cofundador da MeteoIA, o paramétrico somente se tornou viável graças ao avanço de tecnologias de monitoramento climático, sensoriamento remoto e modelagem preditiva. A companhia usa inteligência artificial aplicada a séries históricas de dados climáticos, informações de satélite em alta resolução e estações meteorológicas de superfície para identificar padrões e anomalias.
— A adoção (do seguro paramétrico) ainda está em fase de amadurecimento no Brasil, mas cresce de forma consistente — diz o especialista.
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Também vêm crescendo os seguros que cobrem máquinas, benfeitorias, estoques e até a vida do produtor, lembra Paulo Hora, superintendente executivo de negócios e soluções rurais da Brasilseg, que menciona ainda os riscos nomeados, em especial para frutas, hortaliças e algumas culturas de inverno, como o trigo.
— Temos mais de 80 opções que garantem a proteção aos principais grupos de cultura, no caso grãos de verão e de inverno, frutas e hortaliças, nas modalidades multirrisco e riscos nomeados —informa o coordenador comercial do ramo Agro da Essor Seguros, Moacir Oss Emmer.
A companhia cria produtos além do modelo tradicional, ao unir ferramentas digitais, análise de dados e novos tipos de cobertura. O objetivo é avaliar individualmente cada produtor e suas áreas, ao considerar fatores como tecnologia empregada, nível de investimento, tipo de cultura e riscos climáticos da região da lavoura.
Pouco seguro na pecuária
Por outro lado, o seguro pecuário não figura no radar da maioria das empresas do setor. Karen Matieli, consultora e especialista neste tipo de proteção, afirma que o ramo pecuário ainda é pouco explorado pelo mercado. O produto existe há duas décadas e não possui adesão significativa. Karen estima que menos de 1% do rebanho brasileiro tenha algum tipo de seguro.