Sedes, segurança e comunicação: final entre Palmeiras e Flamengo reflete evolução logística da Libertadores nas últimas décadas

 

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Entre os mais de quatro mil quilômetros que separam Rio de Janeiro e São Paulo de Lima, sede da final da Libertadores, que será disputada por Flamengo e Palmeiras no sábado, às 18h (de Brasília), há um longo caminho logístico que envolve clubes, federações e empresas especializadas. O apito inicial de Dario Herrera será o fim simbólico da primeira parte de uma operação que, entre outras partes, tem a Off Side, empresa especializada em logística esportiva, que completa 25 anos numa temporada com dois clientes na decisão.

Filho do jornalista José Carlos Rego, jornalista e ex-jurado do Estandarte de Ouro do GLOBO (falecido em 2006), Rodrigo Ernesto, CEO da empresa, a fundou depois de algumas experiências de recepção de clubes no início dos anos 2000. Questões como viagens, burocracias de documentação, instalações de hospedagem e treinos estão no dia a dia da empresa.

Rodrigo Ernesto ao lado do presidente da Fifa, Gianni Infantino

Instagram/Off Side

Contato entre os rivais

De lá para cá, conta ele, a principal mudança, em se tratando de logística internacional, foi a tecnologia de comunicação. A telefonia móvel evoluiu: saíram de cena as custosas ligações internacionais e chegaram ferramentas como o WhatsApp. Outra mudança foi na relação entre os clubes que se enfrentam: a empresa passou a estabelecer um contato com os rivais, principalmente em jogos internacionais, facilitando questões como local de treinos, por exemplo.

— Pouco a pouco, fomos quebrando a questão da animosidade, de uma relação de guerra, criando uma relação, aproximando os clubes, para tentar que, quando meu cliente chegasse na cidade, ele já tivesse um respaldo do adversário. Aí, criamos as “cartas de reciprocidade”. Os clubes teriam algo quando viajassem e, em troca, dariam o mesmo quando recebessem o adversário em sua cidade. Se tinha dado tudo certo, eu cobrava que o meu clube também entregasse o que estava acordado — destaca Rodrigo Ernesto.

Boca Juniors no Maracanã antes da Libertadores de 2023, decidida entre os xeneizes e o Fluminense. Dois clubes clientes da Off Side

Guito Moreto

Ele valoriza também a maturação da Conmebol, que nos últimos anos estabeleceu protocolos de organização e de punições que elevaram o nível de torneios como a Libertadores.

— Antigamente, qualquer clube que fosse jogar no Brasil ou brasileiro que fosse para o exterior teria, obrigatoriamente, que cuidar da sua própria segurança. Ou seja, se vou jogar em Cáli, na Colômbia, tinha que procurar o batalhão de polícia de lá para mandar um ofício pedindo uma escolta para o dia do jogo — exemplifica — Isso mudou. O regulamento transferiu para o mandante a responsabilidade da segurança do visitante e criou uma série de sistemas. O visitante tem a obrigação de colocar os dados e informações da sua viagem até determinado prazo antes para que o mandante se programe e resolva todas as questões.

Mudança de país em 2018

Mesmo com o novo cenário, o trabalho segue tendo seus momentos de imprevisibilidade. Rodrigo lembra da final da Libertadores de 2018, transferida de Buenos Aires para Madri após episódios de violência antes do segundo jogo entre Boca Juniors e River Plate.

Na ocasião, a empresa passou quatro dias trabalhando com possibilidades de mudanças de sede. Como quase todos os envolvidos, foi pega de surpresa, numa quarta-feira, com o anúncio de que o jogo seria na capital da Espanha, até então não cogitada nas opções. No dia seguinte, já estavam na cidade para acelerar a operação. A atuação fortaleceu a relação com o Boca, cliente.

Neste ano, a logística passou por uma nova provação, quando houve a possibilidade de mudança de sede da final em meio às turbulências políticas na capital peruana, no mês passado.

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— A Conmebol sempre foi muito firme nessa questão com os clubes, de que a final seria mantida em Lima. Temos muito parceiros no país. Cidadãos, moradores de Lima, funcionários de hotéis, transporte, o próprio Alianza Lima. Queríamos saber se tínhamos que nos preocupar, o que eles estavam ouvindo e vendo. A gente tinha o termômetro e ia avisando nossos clientes, que perguntavam também. A Conmebol também estava auxiliando muito. Estaríamos preparados se tivesse que mudar a sede. Se mudasse, não seria por vontade da organização, seria por determinação do país em não poder garantir a segurança.

Ansiedade máxima

Nesta edição, a Off Side trabalha em sua 13ª final, a sétima entre dois clubes que são seus clientes. Ainda que, na final, a Conmebol centralize muitos aspectos da operação, o aspecto de parceria entre a empresa e o setor de logística dos clubes (que tem a palavra final) segue firme. Nesta final, por exemplo, a Off Side tem contatos, familiaridade e caminhos nos hotéis e nas instalações de treinos que Flamengo e Palmeiras utilizarão.

— Sabemos que ainda assim a ansiedade é máxima, de todas as partes, então nossa empresa tem que se colocar sempre um passo à frente, deixando o clube tranquilo que sempre vamos resolver o que precisar. São muitas demandas particulares, cada um tem o seu perfil, e temos que estar preparados. Conhecer o local, a cidade, ter todos os contatos locais para resolver o que for preciso — encerra.