Sapo brasileiro de 8 milímetros e com cor de abóbora é batizado em homenagem a Lula

 

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Ainda não é Natal, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já ganhou um presente. Ele passou a dar nome ao mais novo integrante da biodiversidade do Brasil, um animal que chama a atenção por suas peculiaridades. Trata-se de um sapo cuja descoberta foi anunciada nesta quarta-feira na conceituada revista científica PLOS One. O Brachycephalus lulai tem a cor de uma abóbora, mas passou séculos sem ter sido visto. Sua descoberta reafirma a Mata Atlântica como um dos biomas de maior biodiversidade do mundo, destacaram cientistas.

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O sapo que homenageia o presidente é pouco maior que um grão de arroz, porém, a potência de sua voz faz com que se faça ouvir na floresta. Considerado um dos menores animais vertebrados da Terra, o "sapinho do Lula" vive oculto sob a camada de folhas que cobre o chão da mata, a serrapilheira, e tem tamanha resiliência, que retira a água de que precisa para viver da umidade das plantas.

A espécie é exclusiva da Serra do Quiriri, em Santa Catarina. Ela pertence a um grupo de sapos conhecidos como pingos-de-ouro por suas cores exuberantes e tamanho diminuto. Muitos deles são venenosos — a toxina é uma forma de defesa para quem é tão pequeno —, mas não se sabe ainda se o sapinho do Lula tem algum tipo de veneno.

— Resolvemos homenagear o presidente, porque durante os seus governos foram criadas mais unidades de conservação no Brasil do que em qualquer outro momento. E proteção é tudo o que a Serra do Quiriri precisa — afirma um dos autores do estudo, o biólogo Luiz Fernando Ribeiro, pesquisador do Mater Natura (Instituto de Estudos Ambientais).

A pesquisa teve o apoio da Fundação Grupo Boticário.

Sapo é do tamanho de uma ponta de lápis

Luiz Fernando Ribeiro

Os machos do B. lulai medem cerca de 8mm. As fêmeas, maiores, chegam a 13,4mm — a diferença de tamanho se explica pela necessidade de as fêmeas carregarem os ovos, pesados para suas diminutas dimensões. Estes são depositados no solo da mata e não na água, como é da natureza dos sapos, e os B. lulai nem precisam passar pela fase de girino. Diferentemente dos filhotes da maioria dos sapos, rãs e pererecas, eles já nascem formados, microssapinhos, quase invisíveis a olho nu.

Adultos, são pequenos o suficiente para caberem na ponta de um lápis. Outra peculiaridade é que os sapinhos lula são diurnos — a maioria dos sapos sai à noite. E "gritam" muito alto para seu tamanho, são como cigarras em miniatura.

Habitat

Eles vivem somente nas florestas das encostas da Serra do Quiriri, no município de Garuva, no nordeste de Santa Catarina. A Serra do Quiriri, junto à divisa com o Paraná, é um dos últimos remanescentes da devastada Mata Atlântica do Sul do Brasil. No estudo, os pesquisadores propõem a criação de uma unidade de conservação. Mais especificamente, um Refúgio de Vida Silvestre (RVS), tipo de unidade de conservação integral que não demanda desapropriação de terras particulares.

Além de Ribeiro, integram a pesquisa, cientistas das universidades Estadual Paulista (Unesp), Federal do Paraná (UFPR) e de instituições do Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos. O minúsculo anfíbio foi descoberto, em boa parte, devido a sua poderosa voz. Ele foi descrito como espécie nova após estudos de morfologia, bioacústica e genética.

— O sapinho B. lulai é evidência de que ainda há imensa biodiversidade escondida na Mata Atlântica que a humanidade desconhece — destaca Ribeiro.

Biodiversidade, esta, das mais frágeis do planeta. Os sapos da mesma família do B. lulai vivem apenas na serrapilheira e dependem da proteção da copa das árvores para que a umidade seja mantida. Com o desmatamento, desaparecem. Também são sensíveis à elevação da temperatura, e o aquecimento associado às mudanças climáticas é um inimigo letal.

Se não bastassem tantas ameaças para um animal tão pequeno, ele, como a maioria dos anfíbios, é potencialmente vulnerável a um fungo que tem dizimado esses animais em todo o mundo.

Há quem tenha medo ou nojo dos sapos. Mas eles são essenciais para a existência da Mata Atlântica. Ajudam a controlar as populações de insetos e aracnídeos e servem de comida para aves, répteis e mamíferos. A Mata Atlântica tem um dos maiores percentuais de espécies únicas do mundo, cerca de 90% de seus anfíbios existem somente no bioma.

O “i” em “lulai” é uma marca formal de homenagem em latim, exigida pelas regras internacionais de nomenclatura zoológica. Ele transforma Lula (nome próprio português) em lulai (epíteto específico latino), criando um nome científico válido e permanente para uma espécie nova. É como um registro que liga a espécie ao presidente Lula de forma oficial na ciência.