San Lorenzo não convence confederação argentina com medidas para sair da crise, e poderá sofrer intervenção administrativa
O presidente da Associação de Futebol Argentina (AFA), Claudio Tapia, e os membros da diretoria e da assembleia do San Lorenzo, se reuniram nesta sexta-feira para entrar em um acordo sobre o planejamento do clube para lidar com as dívidas e a crise política em que está inserido. No entanto, a entidade afirmou em nota que não houve consenso sobre os próximos passos e, por esse motivo, poderá "cumprir a decisão judicial vigente", que a permite intervir no processo decisório para a escolha de um novo gesto do clube, enquanto o atual presidente, Marcelo Moretti, segue investigado por administração fraudulenta.
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"Hoje, no Centro de Treinamento Lionel Andrés Messi, ocorreu o segundo encontro entre o presidente da AFA, Claudio Tapia, e os membros da Diretoria e da Assembleia do Club Atlético San Lorenzo, com o objetivo de ouvir e tentar chegar a um consenso sobre a vida política e institucional da entidade. Infelizmente, apesar dos esforços do clube, não foi possível chegar a um acordo para estabelecer um projeto político que beneficie o San Lorenzo. Essa situação significa que, nos próximos dias, a Associação de Futebol Argentino (AFA) definirá os próximos passos, sempre respeitando os procedimentos estabelecidos para cumprir a decisão judicial vigente", informou a AFA, em nota.
Segundo veículos locais, dirigentes presentes solicitaram a declaração de um vácuo de liderança, desconsiderando a autoridade de Moretti, para iniciar uma nova eleição. Enquanto isso, a instituição seria liderada por Sergio Constantino — terceiro lugar nas eleições de 2023 — como sua principal autoridade, com Ulises Morales, opositor de Moretti, como vice-presidente.
A AFA exigiu que Costantino apresentasse as garantias financeiras para apoiar a iniciativa entre a próxima segunda e terça-feira. A validação desses fundos é a condição para que a entidade e o juiz de intervenção concedam a homologação definitiva de sua gestão provisória.
Entenda a crise
Na véspera da reunião, aconteceria a declaração de defesa de Moretti no caso em que é investigado por administração fraudulenta do clube. Mas o presidente conseguiu adiar o andamento do processo pela terceira vez. O caso foi iniciado após uma câmera escondida flagrá-lo colocando um maço de milhares de dólares no bolso do paletó. Valor que ele supostamente recebeu para contratar o filho de uma empresária da mídia de La Plata para as categorias de base da instituição. Além disso, houve denúncias de falsificação de documentos feitas por dirigentes aliados.
Tanto Moretti quando os dirigentes deixaram seus cargos após a repercussão do caso, mas ele foi recolocado no poder em outubro, em decisão judicial. No entanto, era obrigado a seguir o estatuto do clube e realizar uma nova eleição, o que não ocorreu até o momento.
Sua volta não foi aceita pela torcida, que protestou veementemente contra Moretti. Internamente, também teve funcionários da secretaria e da tesouraria renunciando. O que tornou a parte administrativa do clube paralisada, ocasionando novas dívidas, somadas às que já não estavam sendo pagas anteriormente.
Desde 2020, o clube deve mais de 4,7 milhões de dólares (cerca de R$ 25 milhões na cotação atual) que deveria ser paga ao fundo suíço AIS Investment Fund, segundo informações do TyC Sports. O impasse se arrasta há anos. Em 2024, a Justiça já havia condenado o clube a pagar 3,6 milhões de euros. Com juros e correções, a quantia subiu para 4,4 milhões até chegar ao valor atual em 2025.
A dívida foi contraída durante a venda do atacante Adolfo Gaich do San Lorenzo para o CSKA, da Rússia, em 2020, em outra gestão. Naquela ocasião, o CSKA havia enviado ao clube argentino um documento oficial determinando a quantia acordada pela compra do atleta. O então presidente do San Lorenzo, por sua vez, utilizou o documento para solicitar um empréstimo ao fundo suíço AIS Investment Fund para antecipar o recebimento dos valores da venda de Gaich.
Após receber o valor da transferência do clube russo, o San Lorenzo nunca quitou a dívida do empréstimo contraído com o fundo.
Na última janela de transferências, o San Lorenzo não pôde contratar nenhum jogador após sofrer transfer ban da Fifa por não pagar esta e outras dívidas, e segue sem poder registrar novos nomes até o acerto das contas.
