Rio e Niterói vencem disputa com Assunção e são anunciadas como sede do Pan 2031

 

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Ao todo, o valor previsto para os Jogos é de R$ 3,5 bilhões, somando recursos públicos e privados. A candidatura conjunta de Rio de Janeiro e Niterói venceu a disputa com Assunção e foi anunciada como sede na manhã desta sexta-feira (10), no Chile.

A notícia trouxe de volta a empolgação que costuma vir com grandes eventos esportivos, mas também reacendeu uma pergunta que, por aqui, nunca ficou totalmente sem resposta. Será que desta vez o legado vai acontecer de verdade?

O histórico dos megaeventos no Brasil mostra que entusiasmo não basta. Em 2007, quando o Pan chegou ao Rio pela primeira vez, o que se viu foi uma mistura de acertos e frustrações.

O caso da Vila do Pan, por exemplo, continua como um alerta do que não pode se repetir.

Na época, a construção dos 17 prédios parecia promissora. Os apartamentos, erguidos num terreno pantanoso em Jacarepaguá, foram entregues às pressas, com promessa de virarem moradia de classe média.

Mas pouco tempo depois, vieram os primeiros sinais de problema, como vias internas afundando e até crateras nas calçadas. O solo cedeu mais de dois metros em alguns pontos.

Quem foi morar ali em 2008, como o empresário Éder Santos, viu tudo isso acontecer de perto.

A história ainda tá viva na memória dos moradores. E a nova organização do Pan sabe disso. Por isso, o modelo proposto para 2031 é outro.

A Vila vai ser erguida na região da Leopoldina, no eixo central do Rio, já urbanizada e com melhores condições de drenagem e acesso. A ideia é usar os imóveis depois dos Jogos pra habitação também.

Mas o comitê não propõe mais uma centralização de atletas num único local. Parte das delegações vai ser acomodada em hotéis e estruturas que já existem, distribuídas entre o Rio e Niterói. De acordo com o dossiê da candidatura, isso vai reduzir custos, evitar desperdícios e trazer mais equilíbrio na ocupação das cidades.

Ao todo, o valor previsto para os Jogos é de R$ 3,5 bilhões, somando recursos públicos e privados.

A maior parte dos gastos, cerca de R$ 667 milhões, vai ser destinada à operação do evento, como segurança, uniformes e estrutura do comitê organizador.

Outros R$ 636 milhões devem ir para reformas e construção de instalações esportivas temporárias, especialmente em Niterói.

As obras maiores, como a Linha 3 do metrô, não entram nesse cálculo, mas estão previstas como parte do legado.

Falando nisso, outro ponto de atenção, talvez o mais aguardado, é a mobilidade entre as duas sedes.

Em 2007, muitas promessas de transporte ficaram no papel. A mais lembrada é a Linha 3 do metrô, planejada há mais de 40 anos para ligar o Rio a Niterói e São Gonçalo por baixo da Baía de Guanabara.

Naquele Pan, nada saiu. Depois veio a Olimpíada de 2016 e também não. Agora, o plano é diferente.

Há investimento federal e prazo definido pra entregar o projeto executivo. Mas não é simples.

O túnel subaquático e a rede metroviária de mais de 20 km exigem bilhões de reais e uma engenharia precisa. O engenheiro diretor da FGV Transportes, Marcus Quintella, não acredita que o tempo já é curto.

Enquanto a Linha 3 não vem, o plano também conta com um sistema multimodal de transporte entre as sedes. Faixas exclusivas na Ponte, nova linha de VLT em Niterói, VLTização de BRTs no Rio e integração com as linhas de metrô que já existem no Rio.

Por fim, a terceira grande aposta do legado é a recuperação da Baía de Guanabara.

O Rio já falhou nesse ponto duas vezes, 2007 e em 2016. Nos dois eventos, a despoluição da baía foi tratada como prioridade e acabou frustrada.

Mas a partir de 2021, o cenário começou a mudar com a concessão dos serviços de água e esgoto pra iniciativa privada. As ações de saneamento avançaram por serem parte das contrapartidas das empresas ao assumirem os serviços.

As estações foram reativadas, redes reparadas e milhões de litros de esgoto passaram a ser tratados antes de chegar à água.

Agora, a expectativa é que até 2031 boa parte da Baía esteja, enfim, própria pra atividades esportivas e recreativas.

A limpeza do espelho d’água, a interceptação de rios poluídos e a criação de um cinturão de coleta de esgoto já estão em andamento. O projeto é ousado, mas tem contrato, prazos e metas fixadas.