
Renúncia de candidato amplia crise de Milei e cria impasse de reimpressão de cédulas, que podem custar até R$ 90 milhões

A renúncia de José Luis Espert à candidatura de deputado nacional pela província de Buenos Aires mergulhou a campanha da La Libertad Avanza (LLA) em uma crise no processo eleitoral. O deputado, acusado de ter vínculos com o empresário Fred Machado — detido por narcotráfico — deixou a chapa no domingo, a 21 dias das eleições. O movimento abriu caminho para Diego Santilli, apoiado pelo ex-presidente da Argentina Mauricio Macri e já anunciado pelo atual líder da Casa Rosada, Javier Milei, como substituto. No entanto, com a desistência de um candidato e a entrada de outro às vésperas de votação, uma questão veio à tona: será preciso reimprimir milhões de cédulas de papel, a um custo estimado entre 7,5 bilhões e 15 bilhões de pesos (cerca de R$ 45 milhões a R$ 90 milhões, na cotação atual).
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Espert formalizou sua renúncia após dias de pressão interna e externa, além de contradições em suas versões sobre o relacionamento com Machado. Milei, por sua vez, reagiu anunciando que Diego Santilli, até então em terceiro lugar na lista, assumirá a cabeça de chapa.
“Não vamos nos deixar levar pelas mesmas pessoas que governaram por 16 anos e levaram o país ao fracasso. (...) Vou dar tudo de mim para defender essa direção e deter aqueles que querem destruir o país”, publicou Santilli no X momentos depois da renúncia de Espert, já em tom de campanha.
A renúncia de Espert ocorreu quando metade das cédulas da LLA já estavam impressas, inspecionadas e distribuídas, segundo o jornal argentino Página 12. Reimprimi-las significaria, além de um gasto bilionário, um desafio logístico, pois o processo leva de 12 a 13 dias, prazo quase impraticável considerando que a eleição ocorre em 20 dias. Para satisfazer o capricho do governo, cerca de 18 milhões de cédulas teriam de ser reimpressas.
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De acordo com o jornal argentino Clarín, mudanças em cédulas só podem ser feitas até 15 dias antes da votação. Portanto, caso a Justiça Eleitoral, que já indicou que não há tempo hábil, negue a reimpressão, os eleitores podem encontrar o nome de Espert nas urnas, mesmo ele não sendo mais candidato. O deputado Esteban Paulón (Movimento de Aposentados e Jovens) apresentou, por exemplo, um projeto de lei para que a própria LLA arque com os custos da eventual reimpressão.
Consequências políticas
Enquanto Santilli tenta reforçar sua imagem como candidato — já consolidada na província de Buenos Aires, onde em 2021 foi o mais votado —, a renúncia de Espert aprofunda o desgaste da campanha governista. Pesquisas recentes, ainda segundo o Clarín, apontam que a LLA já perde na província por uma margem entre 15 e 20 pontos.
Além da disputa eleitoral, o caso pressiona também o Congresso. Opositores discutem a possível destituição de Espert da Comissão de Orçamento e até mesmo sua expulsão da Câmara, repetindo o precedente do ex-ministro Julio De Vido em 2017.
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Após a renúncia de Espert, o chefe de gabinete Guillermo Francos reconheceu que o episódio prejudicou a campanha governista. Para ele, o problema principal foi a forma como o deputado lidou com as acusações.
— O que está claro é que no início ele não foi claro ao explicar a situação, e isso gerou dúvidas ou suspeitas. Acho que foi um erro de comunicação — disse Francos em entrevista à Rádio Mitre nesta segunda-feira. — Não sei se foi por medo da exposição pública. Não acredito que ele tenha sido vinculado ao lado ao qual querem vinculá-lo.
Sobre os pedidos da oposição para afastar Espert da Câmara, o Francos afirmou que "não há fundamento para sua destituição.
— Não se pode afirmar que ele tenha vínculo com aquele julgamento. Houve pessoas processadas na Justiça que continuaram em seus cargos, como Máximo [Kirchner] e Cristina [Kirchner] — explicou.
Mudança de discurso
Em entrevistas de rádio e televisão, bem como nas redes sociais, Espert inicialmente negou ter recebido fundos ilegais. Afirmou que os US$ 200 mil correspondiam a um contrato de consultoria com uma mineradora ligada a Machado. Negou também ter tido laços pessoais ou reuniões frequentes com o empresário.
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No entanto, nos últimos dias, ele modificou sua versão original. Passou a admitir ter participado de uma única reunião para reconhecer serviços contratados. A mudança em sua versão reacendeu críticas da oposição e pressões internas do partido no poder, o que acabou levando à sua retirada da candidatura.
Machado é acusado pela justiça dos Estados Unidos de integrar uma rede internacional de tráfico de cocaína, lavagem de dinheiro e fraude envolvendo operações aéreas. As acusações alegam que, por meio de sua empresa, a South Aviation, ele participou de operações destinadas ao transporte de drogas e lavagem de dinheiro do tráfico. Na Argentina, ele está em prisão domiciliar na província de Río Negro, aguardando o processo de extradição solicitado pelas autoridades americanas.
(Com La Nación)